Pior que isso é esse debate ser sobretudo alimentado por jornalistas e comentadores através de títulos e manchetes bombásticos que depois de esprimidos resultam em nada. Desta vez não são as redes sociais, é o jornalismo tradicional a alimentar um debate viciado.
Ex-secretário de Estado: disse, não disse?
Vejamos: O Secretário de Estado demitiu-se em desacordo com o ministro e na altura não falou em licenciaturas falsas ou coisa parecida. O caso ganhou relevância quando o ex-secretário de Estado deu uma entrevista ao Observador e este escreveu que o ministro da Educação sabia que o chefe de gabinete não era licenciado e mesmo assim teria impedido que o ex-secretário de Estado o demitisse. Seria grave se assim tivesse sido. Mas afinal o ex-ecretário de Estado que falou ao Observador diz agora que não disse que o ministro sabia, ao contrário do que o Observador escreveu.
O ministro negou categoricamente que soubesse das licenciaturas falsas. Acontece, porém que o jornal i, veio dizer que havia uns emails que provavam que o ministro impediu a demissão do chefe de gabinete. Repare-se bem: nessa notícia já não se ataca o ministro por saber das falsas licenciaturas mas sim por ter defendido que o chefe de gabinete não fosse demitido por estar de baixa com a mulher muito doente. Isto nada tem a ver, portanto, com as falsas licenciaturas.
Emails: sabia, não sabia?
Eis agora a SIC a anunciar com grande estrondo uma entrevista ao secretário de Estado em que este fala (ou mostra) os tais emails…. Mas quais emails? Os que provam que o ministro sabia das licenciaturas falsas? Ou os emails em que o ministro diz ao secretário de Estado para não demitir o chefe de Gabinete enquanto ele estiver de baixa por a mulher estar muito doente?
O que está afinal a ser discutido? A interferência do ministro na demissão do chefe de gabinete enquanto este se encontrava de baixa ou o conhecimento do ministro das falsas licenciaturas do chefe de gabinete?
Jornalistas: não se questionam?
Será que os jornalistas não se questionam sobre estes processos indecorosos de manipular os factos e confundir os cidadãos? Não haverá outras maneiras de questionar o trabalho do ministro e do seu ministério sem passar por este tipo de intriga barata e desonesta?
Mais: está vedado a um ministro discutir questionar ou sugerir um funcionário a um membro da sua equipa? Pois eu acho que não está e penso até que o ministro agiu com humanidade ao sugerir que não se demite um funcionário quando ele está de baixa por motivos de doença grave da mulher.
Artigo publicado inicialmente no blog VAI E VEM