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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Dies Dat Ut Insanis*

Eduardo Águaboa
Eduardo Águaboa
Escritor, Ensaísta, Comentador político especializado em ideias gerais

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Também convidou a Helena a quem tinha tirado os três há quatro meses, mas esta recusou.

A Mãe, preferiu ficar em casa agarrada à telenovela pois, isso sim, é que a divertia, para além de não encontrar uma razão para tal comemoração e logo naquele bar de doidos.

Mal chegaram, o Manel dos pincéis, que além de pintor era empregado do bar, olhando para uma das irmãs, a Raquel, saudou-os, dizendo-lhes; Bem-vindos ao Bar das nádegas!!!

Sentados numa mesa composta por uns chouriços assados e sangria, Carlitos dirigiu-se ao Pai:

Pai,
A cidade está muito iluminada, não está?
Pois, mas é de amantes e mentiras.
De onde lhe virá tanta inspiração, pai?
Pai, expressa-te.
Expressa-te, dança.

O pai levantou-se e foi à casa de banho.

Raquel, minha mana linda…
A cidade brilha, não brilha?
Mas mais brilhantes são os teus olhos azuis
Que esta noite brilham mais do que o dia
E, sabes? Há um homem abandonado na praia,
Um homem traído por um beijo, Raquel…não te diz nada, Raquel?

Raquel encostou-se ao ombro do irmão.

E tu Joana…
Ahahahahahahah! Mas tu disseste que não conseguias.
Por isso largaste tudo, e agora andas pelas ruas
E todos sabem as pessoas que tu encontras.
Se fosse a ti eu não desistia dessa busca inútil
Nem da Avenida da Mentira.

Joana, fez-se a mais um bocado de chouriço e um copo de sangria.

Francisco, meu sacaninha…
A cidade, já uma vez disseste lá em casa, é um fogo, uma chama apaixonante.
Que te conhece pelo nome, digo eu.
A cidade é um desejo…está na rua.
Sob os teus pés a jogar bilhar.

Levantaram-se todos, pois o pai regressou.

Pai,
Um tiro deve estar a ecoar agora sobre a «tua» Kiev.
Está no ar…está nas coisas que eu faço e eu digo.
Se quero viver, tenho de me matar a mim mesmo
…um dia qualquer.

Pois é meus queridos.
Finalmente livre Raquel, Joana, Francisco, Pai.
Na Universidade tiraram-me a vida.
Mas não conseguiram tirar-me a dignidade.
Aiiiiiiii…paizinho…Raquel, Joana, Francisco, cantem…cantem a minha canção:
– Desencantado da vida voltou para casa abatido.

E lá foram en(cantando) as ruas de Lisboa que às vezes são muito solitárias.

*Dias dados Como Doidos

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

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