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Terça-feira, Setembro 10, 2024

A Era da Mentira Radical

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

O ser humano está doente porque perdeu a coragem de vivenciar a verdade. E, por que mentimos? Porque resulta, porque é eficaz! Para que tal seja possível ensinam-nos a mentir e nós ajudamos os outros a mentir nas escolas, nos media, na política, nas famílias…

Paulo Vieira de CastroA este respeito li algo absolutamente inquietante, “as pessoas contratam advogados para poder mentir melhor”.

Será que acontece o mesmo com o conhecimento científico, perguntei-me.

Percebi, então, que teríamos chegado ao momento mais baixo do que é ser humano. Mas, não tem de ser assim, acredito…

Do status de uma vida que não é a nossa, construída com recurso a um crédito em tudo injusto, resultou um país de vassalos. Os meus filhos são já escravos por dívidas que não contraíram. E haverá maior mentira que tal herança?

O que será que o país com o mais elevado consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos tem de verdade [1]? Vivemos na Era da Mentira Radical, sendo obrigados a existir numa dimensão da realidade que não é mais humana. Tudo isto porque pensamos de mais…

Pensar é estar doente dos olhos…

Não devemos confundir verdade com juízo de valor. É certo que cada um de nós tem a sua versão; a original. Por isso a verdade não deverá ser vista como um ponto onde convergem vários caminhos. Apenas um movimento vivo e dinâmico de descoberta. Direi, um ponto de partida nunca de chegada.

Na minha interpretação a verdade é a única utopia que conheço. Esta não será mais um não lugar. Vejo a utopia como a simples tomada de consciência da mudança necessária.

Por que se tornou tão fácil faltar à verdade? Esta é uma questão que me persegue desde sempre. Existe um mecanismo que sustenta a mentira? E, outro – diferente – para suportar a verdade? E o que será mentir? Mentir é pensar muito e reparar pouco…

Já aqui falei várias vezes a este propósito. É que o racionalismo em que nos especializamos, este vício de pensar, traz-nos o medo e a falsa ilusão de controlo dos nossos próprios pensamentos. Ainda, a sensação de podermos conhecer os pensamentos dos outros. Tudo isso é falso!

Pensar remete-nos para a experiência consciente, mas isso é uma ínfima parte da nossa existência. Ao insistirmos em viver aqui – exclusivamente – damos espaço ao maior de todos os embustes.

malmequer

Alberto Caeiro acreditava “ no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele. Porque pensar é não compreender … O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos). Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…”.

Mentir é pensar muito e reparar pouco…

Como vivemos na lógica do pensamento restrito abandonamos a bondade, a gentileza, a brandura, a compaixão, isto como imperativos espirituais, imaginando-os, agora, unicamente na dimensão moral ou legal. Por exemplo, a delicadeza como imperativo moral está na base de um mundo desonesto, pois a obrigação moral de sermos gentis nos poderá tornar falsos. E, com isso, deixamos de ser honestos na construção da verdade.

Pensar em vez de reparar é interpretar em vez de – simplesmente – observar. Viver as nossas projecções, evitando a experiência em si. E, por isso não vemos as coisas como elas são, apenas nos baseamos em informações passadas e projecções futuras. Deixamos de viver a experiência presente.

Assim sendo apetece perguntar. Quando foi a última vez que olhou nos olhos de alguém? Quando fez o seu último jejum de palavras? Aqui reside o primeiro passo para a mudança das relações humanas. Reparar mais é isso mesmo…

Para tanto nos alertou no início dos anos setenta Daniel Filipe. Responsável pela invenção do amor e outros poemas escreveu “ Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura e souberam entender-se sem palavras inúteis. Apenas o silêncio. A descoberta. A estranheza de um sorriso natural e inesperado”.

Tal como nos suplicava a lírica cabo-verdiana, “é preciso encontrar o casal fugitivo que inventou o amor com carácter de urgência”…

[1] Portugal tem o índice 96 para a dose diária recomendada por 1000 habitantes. A título de exemplo, a Dinamarca tem um índice de 31 DHD, isto só para dizer que é possível não ser o primeiro da lista… Dados de 2014.

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