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Quinta-feira, Abril 18, 2024

Festival de Clermont-Ferrand

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Festival de Clermont-Ferrand

Tendo assumido a designação de Festival em 1982, esta mostra francesa tem uma história que vem de um pouco antes quando, no final dos anos setenta do século passado, um grupo de jovens agrupados no Círculo Cinematográfico Universitário de Clermont-Ferrand (CCUC) começou a organizar “semanas da curta-metragem”.

Face ao sucesso dessa iniciativa que teve lugar em 1979/80 e 81, o grupo constituiu a associação “Sauve qui peut le court-métrage” tendo em vista organizar um evento de maior envergadura. Inicialmente de carácter nacional o certame passou a internacional em 1988 tendo-lhe ao longo dos anos sido acrescentadas numerosas secções, até se tornar na maior mostra mundial dedicada à curta-metragem e o segundo maior festival de cinema realizado em França (só é ultrapassado por Cannes).

Festival de Clermont-Ferrand

Regista actualmente cerca de 200 mil entradas e cerca de quatro mil acreditações de profissionais do cinema e da comunicação social. Curiosamente, e em resultado do seu passado, o Festival de Curtas-Metragens de Clermont-Ferrand de 2017, que decorre de 03 a 11 deste mês de Fevereiro, apresenta-se com vários “números”: é o 39º Festival Nacional (na numeração estão incluídas as três “semanas” referidas anteriormente), o  29Festival Internacional e o 18º Labo (uma das principais secções da mostra).

A competição internacional comporta 75 filmes de mais de 50 países dos cinco continentes: trabalhos de animação ou com “figuras reais”, ficções ou documentários (ou as duas coisas ao mesmo tempo!).

Filmes portugueses

Portugueses são dois: “Estilhaços” de José Miguel Ribeiro e “Campo de Víboras”, co-produção luso-francesa de Cristèle Alves Meira.

O primeiro é um filme de animação que aborda o impacto da guerra nas relações humanas. Estreou no Festival de Locarno/2016 e foi já galardoado com o Prémio Nacional de Animação e o Prémio Monstra SPA. Entre outros, recebeu também o Prémio “António Gaio” na mais recente edição do Cinanima/Espinho.

“Campo de Víboras” trata de um drama inexplicável ocorrido numa aldeia do concelho de Vimioso, no nordeste transmontano: “Num jardim cheio de víboras é encontrada morta uma senhora idosa. A sua filha Lurdes desapareceu sem deixar rasto. Os rumores sobre o que se poderá ter passado e o destino da casa começam a espalhar-se rapidamente”. Prémio “Novo Talento” no IndieLisboa, este filme esteve presente na Semana da Crítica do Festival de Cannes e foi também distinguido nos Caminhos do Cinema Português / Coimbra e no Festival Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira.

Cinema brasileiro

O cinema brasileiro está também representado na competição por duas produções.

“Deusa” de Bruna Callegari, premiado no Festival de Gramado, conta a história de uma jovem mulher que trabalha como cobradora na portagem da ilha em que vive. Acostumada a ver a passagem dos viajantes, Deusa nunca tinha pensado no próprio destino até que uma nova empresa chega para administrar o local e anuncia a automatização de uma das cabines. Ao mesmo tempo, a notícia de uma baleia encalhada faz com que Deusa se sinta diferente.

Com 15 prémios em 11 festivais (entre eles o de Brasília) o outro filme brasileiro “Estado Itinerante” de Ana Carolina Soares, aborda o tema da violência doméstica a propósito da uma mulher que procura sair de uma relação opressora. Em período de experiência como cobradora de autocarro, ela trabalha desejando não voltar para casa. O estreitamento da relação com as outras cobradoras fortalece a mulher trabalhadora e seu desejo de fuga.

Cinema lusófono, entre outros…

O cinema lusófono estará também presente noutras secções do festival.

Na secção “Labo” dedicada a filmes com uma vertente experimental estará “The Dockworker’s Dream”, de Bill Morrison, uma co-produção luso-norteamericana. Com música da banda Lambchop, é inspirada na herança portuguesa da navegação, do comércio e das descobertas, e teve como premissa um filme concerto do Curtas Vila do Conde em 2015.

Na mesma secção competitiva, será também exibida “A Brief History of Princess X” de Gabriel Abrantes, uma produção franco-portuguesa. O filme é um retrato delirante da visionária e polémica escultura Princess X de Constantin Brancusi, simbolizando a igualmente controversa sobrinha bisneta de Napoleão, Marie Bonaparte.

Secção “Humour Noir”

Na secção “Humour Noir” será apresentado “Ilha das Flores” (1989) do brasileiro Jorge Furtado. Este documentário foi Urso de Prata em Berlim/1990 e premiado em Clermont-Ferrand/1991. Nesta secção será também exibido “Le Gros et le Maigre” o primeiro filme realizado em França por Roman Polanski em 1961.

Os filmes de José Miguel Ribeiro, Bill Morrison e Gabriel Abrantes integram o catálogo da Agência da Curta Metragem que, à semelhança das últimas edições, voltará a marcar presença no festival através de um stand promocional no Mercado da Curta Metragem, uma área criada no festival em 1986 e que lhe dá um interesse económico muito importante. O evento, a decorrer em paralelo ao certame, recebe, todos os anos, mais de 3300 profissionais do sector cinematográfico fazendo deste um espaço de extrema importância na divulgação do cinema português.

Euro Connection

No Euro Connection, o fórum europeu de coprodução cinematográfica que decorre todos os anos durante o festival, Portugal será representado pelo realizador Zepe (José Pedro Cavalheiro) com o projecto da curta-metragem “O Ciclo”. Esta plataforma, que culmina no pitching dos projectos seleccionados nos dias 7 e 8 de Fevereiro, tem como objectivo o desenvolvimento de parcerias entre produtores, investidores, patrocinadores e televisões.

A competição nacional de filmes franceses (com sessenta títulos), secções dedicadas às crianças, às escolas, ao cinema da Colômbia, ao cinema africano (“Regards d’Afrique”), entre muitas outras, serão outros motivos de interesse que fazem de Clermont-Ferrand a capital europeia, ou até mundial, da curta-metragem.

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