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Sábado, Abril 20, 2024

Francisco Cachapuz [ou Paulo de Castro]

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1914 – 1993)

Uma vida de entrega total à defesa da liberdade, à luta contra a tirania e o obscurantismo. Foi preso e deportado, ainda não tinha 20 anos. Integrou as Brigadas Internacionais[1] e viveu longos anos de exílio no Brasil.

Foi um dos fundadores na clandestinidade do Partido Socialista português.

De Chaves para o mundo

Francisco de Barros Cachapuz (com pseudónimo Paulo de Castro) nasceu em Chaves, em Janeiro de 1914, estudou no Porto e depois em Paris. Deve ao seu pai a sua formação humanista e libertária.

Foi preso em 1934, quando frequentava a Universidade do Porto e desenvolvia actividades de oposição ao regime do Estado Novo. Levado a julgamento, ainda menor, foi condenado por um tribunal militar. Primeiro cumpriu pena em Peniche e, depois, foi deportado para os Açores, ficando preso no Forte de São João Baptista em Angra do Heroísmo. Quando foi libertado, (pertencendo a uma família com posses), pôde continuar os seus estudos em Paris. Relacionando-se então com importante gente da cultura, frequentou os cursos de Henri Bergson e Lucien Laurat e fez amizade com Georges Politzer (filósofo marxista), que o terá influenciado no seu percurso ideológico. Trabalhou no jornal Le Populaire, onde conheceu Léon Blum.

Alistou-se nas Brigadas Internacionais e partiu para a Espanha Republicana. Depois da derrota republicana foi internado nos campos de concentração do sul de França S. Cyprien e Gurs. Em 1940, após a invasão da França pelos alemães, fugiu do campo de Gurs para evitar a deportação e a morte pelos nazis, sendo recebido em Marselha, no sul da França, pelo brasileiro ex-combatente na Espanha, seu amigo Apolónio de Carvalho.

Regressou a Portugal por determinação do comité dirigente das Brigadas no campo. Atravessou a Espanha e, ao entrar ilegalmente em Portugal, foi preso e levado para o Aljube, onde ficou detido um ano sem processo. Quando foi libertado, foi-lhe fixada residência em Chaves e no Porto, até ser autorizado a sair para o Brasil, em 1946. Exilou-se nesse país por ser a terra de sua Mãe.

Exílio no Brasil

No Brasil apoiou sempre o núcleo de democratas portugueses aí exilados. De 1950 a 1952 exerceu o cargo de secretário da Tribuna da Imprensa. No Rio de Janeiro, dirigiu a editora paulista IPÊ e entrou para o Diário de Notícias, onde, a partir de 1955, foi comentarista de política internacional. Foi professor de Ciência Política no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), instituição criada em 1955 pelo governo brasileiro e fechada pelos militares, em Abril de 1964.

Em 1957, a convite do embaixador da França no Brasil, viajou para a Argélia. Tomou posição a favor da luta pela independência daquele país africano, testemunhando de perto os horrores das torturas cometidas pelos franceses em visita a um campo de refugiados na Tunísia.

Em 1960, foi chefe da sucursal da agência de notícias cubana Prensa Latina no Rio de Janeiro. Entre 1965 e 1969, foi editorialista do principal jornal de oposição ao regime militar, o Correio da Manhã, escrevendo sempre sobre política internacional. Após o encerramento deste jornal, em 1970, e do Diário de Notícias, em 1973, foi colaborador da Folha de São Paulo e de O Globo. Paralelamente, foi professor do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Faculdade Cândido Mendes.

Após a Revolução de 25 de Abril foi nomeado em Portugal Conselheiro Cultural da embaixada de Portugal no Brasil, cargo que exerceu até 1980. Nesta função, abriu o Palácio de São Clemente, no Rio de Janeiro, para conferências, recitais de música e exposições com artistas e intelectuais portugueses e brasileiros. Depois, trabalhou como colunista da Folha de S. Paulo e do Diário de Notícias de Lisboa.

Faleceu em Novembro de 1993, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: António Francisco Cachapuz, professor universitário, fruto do primeiro casamento em Portugal; Paulo Brandi (historiador), José Augusto (médico, falecido em 1994) e Andréa (professora), do segundo casamento no Brasil com a professora Ethel Moretzsohn Brandi.

Foi diversas vezes condecorado pelo governo português e por governos de outros países. Em Portugal foi agraciado, em 1983, com a Ordem Militar de Santiago de Espada e, em 1985, com a Ordem Militar Infante D. Henrique, sempre como grau de Comendador.

Em Chaves, sua terra natal, continua recordado, e foi igualmente condecorado, sob proposta da Câmara Municipal, com a Medalha de Prata de Mérito da cidade.

Casa da família, em Chaves, onde nasceu e passou os anos da infância

Livros publicados no Brasil

  • Camilo Castelo Branco (estudo crítico). Agir, Rio de Janeiro, 1957.
  • Terceira força. Fundo de Cultura. Rio de Janeiro, 1958.
  • Subdesenvolvimento e revolução. Fundo de Cultura. Rio de Janeiro, 1962.
  • O conflito judeu-árabe e a coexistência pacífica. Felman-Rêgo.São Paulo, 1963.
  • Feira dos Dogmas. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 1965.
  • Rosa Luxemburg. Forum Editora, 1968.
  • Do colonialismo de Israel à libertação da Palestina. Forum Editora, Rio de Janeiro, 1969.
  • Argélia, a terra e o homem. Forum Editora. Rio de Janeiro, 1971.
  • Alexandre, o Grande (em colaboração com Ethel Brandi Cachapuz). São Paulo, Editora Três, 1973.

[1] Voluntários estrangeiros que durante a Guerra Civil Espanhola lutaram do lado da República, contra as tropas de Franco. As Brigadas Internacionais perderam cerca de 10000 voluntários em combate.

Dados biográficos:

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