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Sexta-feira, Abril 19, 2024

A história desconhecida do papel da comunidade portuguesa nos EUA na libertação de Timor-Leste

Joaquim Ribeiro
Joaquim Ribeiro
Jornalista

O português João Crisóstomo, radicado nos Estados Unidos há cerca de 40 anos, lançou recentemente um livro onde relata a luta da comunidade luso-americana para a autodeterminação de Timor-Leste.

Antigo mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis, tem-se dedicado a várias causas, como a defesa das gravuras de Foz Côa. Os contactos que estabeleceu durante a sua vida profissional têm-lhe sido úteis para as lutas que trava.

Foi o caso de Timor-Leste. “Eu não estava muito a par do que se passava, um amigo é que me falou no assunto. Sabia que havia problemas, mas ele estava mais bem informado, explicou-me e eu fiquei de boca aberta”, explicou João Crisóstomo, quando passou por Portugal recentemente a caminho de Timor, onde foi a convite do governo daquela antiga colónia portuguesa. Antes foi recebido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Quando soube do que se passava fundou, em fevereiro de 1996, a LAMETA (Movimento Luso-Americano Para a Autodeterminação de Timor-Leste). “Não fomos nós que mudámos o curso da história, mas fizemos alguma coisa e não foi insignificante”, declarou o activista radicado em Nova Iorque. O livro “O Desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a independência de Timor-Leste” foi entregue a Marcelo Rebelo de Sousa e ao primeiro-ministro, António Costa.

Em Díli, no Museu de Resistência Timorense, durante as comemorações do 15º aniversário da independência do país, o livro foi apresentado por José Ramos-Horta, que reconheceu:

Se não fosse o papel de Portugal desde o início, o apoio da diplomacia portuguesa e das comunidades de portugueses pelo mundo a questão de Timor-Leste teria sido muito difícil ou talvez impossível de resolver”

O livro

A edição do livro foi um desafio colocado a João Crisóstomo pelo próprio primeiro-ministro timorense, Rui Araújo, em Nova Iorque, numa visita que efectuou o ano passado. O papel das comunidades portuguesas na luta pela autodeterminação do povo timorense devia ser dado a conhecer e nada melhor que um livro que contasse essa história. Mas quem o convenceu a editar a publicação foi um seu amigo e conterrâneo de Torres Vedras, o padre Vítor Melícias, quando ficou em sua casa, em Nova Iorque, para assistir à tomada de posse de António Guterres como secretário-geral nas Nações Unidas.

A publicação inclui um resumo do que se passou nesses anos, entre 1996 e 2002. Reúne parte de correspondência trocada com figuras da política norte-americana, entre senadores e congressistas e com o Presidente Bill Clinton, para além de outras individualidades internacionais, como Nélson Mandela.

Os documentos mostram os esforços de Crisóstomo para sensibilizar os norte-americanos para o drama que a população timorense vivia. Multiplicou-se em contactos, sobretudo com a comunicação social, e foi atraindo imensas pessoas para a sua causa. O livro apresenta apenas uma parte desse espólio, que guarda num imenso álbum com centenas de recortes de jornais, correspondência, fotos e outros documentos, que testemunham os anos de apoio à causa timorense.

“As várias cartas recebidas do Congresso, da administração Clinton e da ONU provam a eficiência e os resultados obtidos”, afirma João Crisóstomo, que lembra a aprovação por unanimidade da resolução 237, cuja introdução e apresentação foi promovida pela LAMETA.

“Este livro serve também para mostrar que não foi só em Portugal que se lutou por Timor-Leste, nos Estados Unidos também se lutou, em particular a comunidade portuguesa” Disse.

Apoios de peso

O activista falou igualmente do apoio que teve do cardeal Renato Martino, representante do Vaticano nas Nações Unidas. Bill Clinton foi também um entusiasta da causa, mas precisava de ter mais força do Senado. Crisóstomo conseguiu então convencer, através dos seus contactos, que dois senadores apresentassem resoluções a favor da questão timorense e ambas acabaram por ser aprovadas por unanimidade.

A opinião pública mundial estava então bastante sensibilizada para a causa, graças à publicação de vários artigos na imprensa americana.

Outro aliado de peso foi Nélson Mandela, a quem João Crisóstomo telefonou a pedir ajuda. Colocou-o a par do trabalho realizado pela LAMETA e 15 dias depois leu na imprensa que Mandela tinha escrito ao presidente indonésio, Suharto, a exigir a libertação de Xanana Gusmão.

“Eu estava no sítio certo e conhecia as pessoas certas”, conta o português, que desvaloriza o seu papel no processo e prefere destacar o contributo de toda a comunidade portuguesa nos 50 estados americanos, através do movimento LAMETA.

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