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Segunda-feira, Setembro 16, 2024

Infância e Adolescência na Sociedade

Isabel Rodrigues
Isabel Rodrigues
Escritora, licenciada em Psicologia Clínica, Poeta, Contista, Ensaísta, Assistente técnica


A criança e o adolescente são um todo evolutivo que têm múltiplas experiências e influências com o exterior desde a família, escola e comunidade.

Têm de ser compreendidas as origens mais profundas dos problemas e quando isso não acontece algo de errado está a acontecer no Mundo. As nossas crianças estão a ficar desprotegidas.

Um sinal ou sintoma psíquico pode querer dizer variadas coisas conforme está organizado no mundo interior da criança e adolescente.

Vinculação na criança

Harry Harlow demonstrou bem o amor de mãe em relação a estar além das necessidades fisiológicas. Os macacos recém-nascidos perante duas figuras estáticas, um modelo de arame com alimento e outro felpudo sem alimento preferiram estar mais tempo com o felpudo do que com o outro. O bebé nasce com predisposição para o afecto “conforto de contacto”e satisfação social.

Bowlby J. dizia que o bebé tem uma vinculação positiva e outra negativa; na primeira, a criança tem prazer em estar com a mãe, a voz e o cheiro; na segunda, a criança tem um medo inato de desconhecido.

Cunhagem

A Konrad L., os patinhos depois de um período de habituação seguiam-no como se da mãe se tratasse, quinze horas depois de saídos da casca, sendo o período de sensibilização a altura crítica de vinculação.

O bebé aceita um substituto mas entre os seis e os oito meses de idade, o bebé começa a saber quem é a mãe e inquieta-se se não a vê. O efeito de separação precoce pode levar a danos psicológicos se a vinculação inicial for cortada podendo a criança  ser mais insegura emocionalmente no futuro, segundo Bowlby J.

Crescimento

Não querendo pôr limites a algo que se sobrepõe e muitas vezes se mistura, ponho aqui as fases ou períodos onde se desenrola o crescimento de um indivíduo antes de chegar à maturidade:

  • Período pré natal: Um filho, no desenvolvimento equilibrado da futura gravidez é um acto de amor e nunca um motivo de reconciliação do casal, o período antes da gravidez, é um acto de reflexão e de preparar o terreno psico-afectivo mais favorável ao desenvolvimento equilibrado da futura criança. Um resultado de um desejo comum, de afecto, amor e de aceitação de um novo membro na família.
  • Primeira infância: Quando são satisfeitas as suas necessidades primárias, o bébé começa a tomar consciência dessa necessidade, chora, grita pelo biberon ou da fralda suja, aí a mãe vai ensinar ao bébé a controlar essa necessidade que falei, em primeiro os tempos de aleitação e tempos de amamentação. E uma aprendizagem mútua de cansaço mas de grande gratificação entre mãe–filho, onde há um crescimento comunicativo e é criado um forte laço entre eles.
  • Fase Edipiana: Para a criança se encontrar a si própria, vai passar por esta fase, é uma fase de desenvolvimento absolutamente normal. Durante esta fase a criança faz uma “projecção amorosa” sobre o progenitor do sexo oposto e rejeita o progenitor do mesmo sexo.
  • Situa-se numa faixa etária entre os 3 e os 7 anos. É fundamental uma boa resolução interna para mais tarde na puberdade e na fase adulta não surjam algumas perturbações na sexualidade adulta. É uma origem de contradição e mal-estar podendo ser fonte de culpabilização. Os pais deverão estar vigilantes, mas naturalmente, até à sua resolução.
  • Período de latência, (escola primária): dos 6 aos 10 anos – Entre a fase edipiana e a puberdade correspondente à escolaridade primária. A criança nesta fase perde algumas coisas, a protecção total dos pais, a despreocupação, o pensamento mágico, a irresponsabilidade, começa a ter responsabilidades: o sentar à mesa, estar direito, cumprimentar as pessoas e resultados escolares.
  • Puberdade: Surgem as transformações do corpo, a rapariga tem a primeira menstruação e o rapaz é capaz de ejacular, vão ser adultos em potência. Os planos de personalidade sofrem mutações que interferem umas com as outras: físico, intelectual e afectivo. O papel dos pais é tornar estas dificuldades superáveis, através da informação sexual, reconhecimento e aceitação dos dois lados como algo natural do crescimento.
  • Adolescência: A transição da puberdade para a adolescência se faz de um modo mais gradual, basicamente o rapaz chega à estrutura definitiva, assim como a rapariga, podendo ainda crescer alguns centímetros. É a idade dos primeiros amores reais, dos desejos próprios; os jovens descobrem o acto físico, noção de futuro e passagem do tempo.

Este período termina no dia que os nossos filhos se assumem plenamente em termos materiais e afectivos.

 

Problemas de saúde a serem evitados e requerem atenção

  • O chichi na cama ou Enurese: os problemas na fralda tardios são raros, desde que não persista depois dos 5 ou 6 anos há que considerá-los como uma parte benigna de uma pequena angústia de abandono. Não representa um entrave para as relações da criança nem para a sua saúde.
  • O cocó nas fraldas – Encoprese: a criança pode não ter atingido o estádio de maturidade que lhe permita estabelecer uma distinção entre as dejecções e o próprio corpo, a passagem da fralda ao bacio. Algumas situações externas podem causar algum transtorno à criança como o divórcio dos pais, a ida para a ama, o regresso da mãe ao trabalho, etc. A solução muitas vezes encontra-se em não andar mais depressa que a natureza e esperar que a criança controle os esfíncteres. Só se o problema persistir na puberdade deve ter outro acompanhamento.
  • A sucção do polegar: Muitas vezes precisa do polegar para adormecer, medo da solidão ao tentar recuperar algum carinho e ternura maternais mamando em alguma coisa. A causa e o efeito misturam este amor e o gesto numa mesma vivência. Outros objectos também fazem o mesmo efeito, a borda da fronha, um boneco de peluche, e muitas vezes são uma tentativa de compensar uma frustração. Caso seja passageiro o sintoma regride gradualmente, sendo muitas vezes substituído por alguma actividade de substituição feita com os pais.
  • A gaguez: Poderá corresponder a uma neurose infantil subjacente, geralmente não é um episódio isolado estando associado a outros sintomas. Requer supervisão e acompanhamento.
  • Perturbações do sono: Poderá ser uma angústia de momento e pode ocorrer logo após o parto, aqui não é possível uma resposta rígida, as causas podem ser muitas: Devo deixá-la chorar ou tirá-la do berço sempre que chora?. Os pais vivem também uma angústia, quando e até que ponto devem intervir? Uma das respostas é ser firme e demonstrar ternura e amor em simultâneo sendo uma forma de esta situação não se tornar num conflito sistemático.
  • Bulimia: A criança tenta recuperar através de um suporte concreto e relacional, neste caso a comida o que lhe falta a nível afectivo e relacional. Há uma tentativa de explicar à criança que se trata de uma angústia imaginária fundada num mal entendido. A única solução é a terapia familiar.
  • Anorexia: Uma das manifestações infantis que mais provoca transtornos e dissabores no seio familiar. Pode tratar-se de uma manifestação psicótica (doença mental de prognóstico reservado) traduzindo uma dissociação entre o psiquismo da criança e o próprio corpo. Esta recusa da alimentação da criança só pode ser tratada por uma terapia profunda dos pais, filho ou filha no intuito de resolver a situação. Pode derivar de um conjunto de circunstâncias, decepção, repreensões, não se sentir desejada. O essencial é não perder a comunicação com a criança e perceber as mensagens codificadas que a criança envia, uma vez que este quadro sintomático pode levar à morte.
  • Tentativa de suicídio: É essencialmente uma tentativa de diálogo com o exterior, inconscientemente o adolescente tenta mal saia do torpor, encontrar um ouvido atento junto do seu médico na tentativa de se conseguir novamente uma ligação com os pais uma vez que sozinho/a o não consegue fazer.

A ingestão de barbitúricos é um dos métodos mais utilizados ou outras formas de atentar contra a vida, é então necessário o acompanhamento médico e psicológico. É urgente estabelecer novamente o contacto e o diálogo com o jovem para não haver uma recidiva.

A socialização na infância

A sua entrada na sociedade é um processo onde a criança adquire os padrões de pensamento e comportamento característicos da sociedade e da cultura onde vai estar inserido. A família é a primeira a incutir-lhe os padrões do que pode ou não pode fazer no meio social. Vai ter que ter controlo sobre as necessidades fisiológicas e sobre os seus impulsos e reacções; ela vai tornar-se membro de um grupo, etnia, comunidade em particular, a criança irá fazer comparações entre grupos que vai conhecendo e tirando as suas próprias conclusões.

É importante que a criança e o adolescente se sintam parte integrante da sociedade que eles próprios irão construir, a sua própria essência e lugar no Mundo, e que saibam viver da melhor forma. A família é o suporte primeiro de todo um crescimento interior e exterior que lhe vai criando “skills” de sobrevivência e de interacção com os outros. A criança ou adolescente deve saber que em termos de saúde há sempre uma saída para uma melhor vida, que não estão sozinhos perante as dificuldades e que há sempre uma resolução em todas as etapas da sua vida.

Bibliografia
Rota M. Comunicar com a Criança. Da concepção até a adolescência Ed. Terramar. 1991.
Gleitman. H. Psicologia. Fundação Calouste Gulbenkian. 4 Edição. 1999.
Strecht. P. Interiores. Assírio e Alvim. 2012.

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