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Segunda-feira, Setembro 16, 2024

Levaram-nas aos Fados

Eduardo Águaboa
Eduardo Águaboa
Escritor, Ensaísta, Comentador político especializado em ideias gerais

cavaco-fadistas

E serve este reavivar de memória, para que quem comete ingratidão se lembre que há quem não a esqueça, que não a deixe envelhecer.

Leva-me aos Fados, canta a Ana Moura, e com esse e outros desejos, levaram-na mas foi ao Palácio de Belém para ser condecorada pelo Presidente mais indecoroso de que há memória ter havido em Portugal.

Foi ela e mais três.

Lá foram de olhos animados e de personalidades depenadas pela falta de respeito para com um colega de profissão de elevada estrutura moral e artística, de seu nome Carlos do Carmo, a quem o mesmo Presidente nunca teve sequer uma palavra de agradecimento e reconhecimento pelo prémio mundial por ele alcançado, que prestigiou e projectou o Fado como nunca o fora, nem os condecorados jamais alcançarão.

O que essas fadistas foram receber não foram medalhas, foram nódoas!

A vida nesse dia atirou-lhes com a maior porcaria possível para cima deles, E puseram-na ao peito. Como feridas que jamais conhecerão cicatriz.

Chamam-se Ana Moura, Carminho e Kátia Guerreiro (esta mandatária do dito nas cujas eleições) e a maioria vai continuar a chamar-lhes Ana Moura, Carminho e Kátia Guerreiro. Nem mais um dom, pequenino que seja. Mas por onde passam tresandam a ingratidão, mas isso deve ser algo que as excita, que as faz morrer de tusa. Servir de «uso» ou de «ofensa» ao Mestre, às mãos do velhaco, é mesmo para dar tusa e da grande.

Ide, pois, a esses fados.

Não tenham medo dos fantasmas que certamente se instalaram nas vossas cabecinhas ocas, pois tendes a Ordem do Infante a dar-vos digressões. Digressões capazes de fazer corar as virgenzinhas, que não sois, nem deveis lembrar-vos de quando o fostes. E o «homem» gostava de recompensar os seus com Ordens.

Ide, pois, aos fados.

Como lagostas a suar de patriotismo, recebestes as Medalhas da Vergonha que acolhestes com sorrisos adolescentes, falsos, emocionados.

Ide, pois, aos fados.

Sempre que me imagino a enfardar um patriótico cozido à portuguesas também me emociono. Deixai, pois, as vossas vozes deambular por um fado que fade o cozido à portuguesa e ponha o vinho a ganhar complexidade.

Ide, pois, aos fados.

Ele, o homem das medalhas, bem vos fadeu a cuspir improvisos para as vossas caras desenvergonhadas.

Ide, pois, aos fados.

Da mesma maneira que o sujeito vos pôs; de joelhos!

Ajoelhai, pois.
Ó humilhantes fadistas, aproveitai.

Que a esperança de alguma dignidade em vós, anda tão fatigada que desapareceu…e ainda não voltou, pois ainda não vos ouvi uma palavra de arrependimento.

Ide prós fados, que eles vos fadem, e muito, então.
Quem não vos acompanha, nem à viola, sou eu.

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