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Sexta-feira, Setembro 20, 2024

Em louvor das Humanidades

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

Ora, se observarmos atentamente a história da nossa espécie e, mais especificamente, a história da ciência, o que constatamos? Facilmente identificamos os grandes cientistas como grandes humanistas e os grandes humanistas como pessoas curiosas e conhecedoras de tudo o que respeita ao mundo da ciência.

Maria do Céu PiresÉ, por isso, muito enganadora a ideia hoje bastante difundida segundo a qual o conhecimento válido é apenas o “científico” e que o cerne do desenvolvimento está exclusivamente na tecnologia.

Esta ideia disseminou-se de tal forma que, nos sistemas escolares é privilegiado o saber referente às áreas “científicas” e, no plano social, há uma valorização das profissões ligadas à técnica.

Como se tudo o que tradicionalmente se designou como “Humanidades” fosse inferior e de segundo plano!

Quem tal defende ignora, entre outras coisas, que “todas as ciências são humanas” como referiu o Professor Carmo Ferreira no Colóquio sobre “A crise das Humanidades”, recentemente realizado em Lisboa.

Na verdade, todo o conhecimento resulta de necessidades humanas, é produzido por seres humanos e visa ajudar os seres humanos na sua vida individual e colectiva. E o mesmo acontece com todas as outras produções culturais!

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A crise em que nos encontramos é, de algum modo, consequência de um paradigma político e económico que esqueceu os valores humanos; é, por isso, uma crise de sentido e, também uma crise educacional, ou como lhe chamou Martha Nussbaum “uma crise planetária da educação”.

Precisamos, então, como diz a filósofa, de perceber que o sucesso técnico e económico são insuficientes e limitados e que é necessário formar não máquinas produtoras e dóceis para serem dominadas, mas jovens com sentido crítico, capazes de se tornarem cidadãos realizados, que compreendam a tradição onde se inserem e que estejam atentos aos outros seres humanos, seus iguais na diferença. Os sistemas educativos têm que voltar a integrar e a valorizar as Artes e as Humanidades e a concebe-las na sua inter-relação com outros domínios do saber.

Se, de facto, queremos um mundo melhor, temos que desenvolver aquilo que somos: humanos.

O desenvolvimento humano não existe sem educação, sem o cultivo da literatura e das outras artes, sem memória e sem informação histórica. Alimenta-se da liberdade, ou seja, do espaço público, da discussão, do contraponto de razões.

Requer sempre cidadãos informados, críticos, atentos e capazes de se colocar no lugar do outro. Esta capacidade, que todos possuem, precisa de ser educada e desenvolvida, tarefa para a qual são fundamentais as Artes e as Humanidades.

Precisamente por isto, temos que ser todos de Humanidades!

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