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Terça-feira, Abril 23, 2024

Ludgero Pinto Basto

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1909 – 2005)

Médico antifascista, homem íntegro, de reconhecido valor intelectual e moral, Ludgero Pinto Basto teve uma vida inteiramente dedicada aos ideais de solidariedade humana e igualdade social. Militou no Partido Comunista Português, de que foi dirigente na década de 30. Cumpriu uma pena de 38 meses de prisão, incluindo 2 anos de deportação. Durante dezenas de anos prestou apoio médico aos funcionários clandestinos do PCP.

Médico antifascista, de reconhecido valor intelectual e moral

Ludgero Eugénio Pinto Basto nasceu na Lixa a 13 de Janeiro de 1909, e faleceu em Lisboa a 23 de Maio de 2005. Filho de uma professora primária e de um comerciante, estaria indicado para substituir o pai quando este morreu, vítima de uma úlcera gástrica[1]. Porém, Ludgero, que não sentia qualquer vocação para aquele negócio, teve de esperar até aos 17 anos, idade em que a mãe aceitou mandá-lo estudar. Em três anos fez o ensino secundário, no Colégio Almeida Garrett, no Porto; e, em 1928, com 19 anos, entrou para os preparatórios de Medicina na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Em 1929 transferiu-se para a Faculdade de Medicina de Lisboa.

Em 1931 tornou-se membro do PCP e foi já na semiclandestinidade que, em 1935, concluiu o curso e, conseguindo iludir a vigilância da polícia política, abriu um consultório[2].

Militou no Partido Comunista Português

Aderiu à loja maçónica “Rebeldia” que, em 1931, organizou uma greve académica de apoio à Revolta da Madeira, mas não tardou a afastar-se da Maçonaria e a aproximar-se do Partido Comunista Português (PCP). Começa então intensa actividade partidária: integrou e dirigiu o Comité Regional de Lisboa em 1932, tendo sido representante do PCP na organização da “greve insurreccional de 18 de Janeiro” de 1934. Em Julho de 1934 entrou para a clandestinidade e em 1936 já pertencia ao Comité Central do PCP. Foi o responsável do Comité Central (CC) na articulação directa com os marinheiros da sublevação da ORA (Organização Revolucionária da Armada), que ocorreu a 8 de Setembro de 1936. Em 1936 (integrando o CC), esteve presente na reunião de quadros que procedeu à recomposição da direcção do Partido Comunista – Comité Central e Secretariado –, fustigada por sucessivas prisões.

Em Março de 1937, o Secretariado envia-o a Espanha em missão relacionada com a coordenação das ligações do Partido com o exterior. Regressou a Portugal e em Maio de 1937 vai a Paris (juntamente com Alberto Araújo, membro do Secretariado), em missão novamente relacionada com as ligações externas do Partido: assegurar a ligação à Internacional Comunista e intervir junto da Federação dos Emigrados Portugueses, organização que desenvolvia um importante trabalho de solidariedade e de denúncia do envolvimento do fascismo português na Guerra Civil de Espanha. Nesse país passou a ter também a responsabilidade pelo trabalho do Partido junto da Frente Popular Portuguesa, em França, chegando a ser director do jornal desta organização, UNIR. .

Foi depois para Espanha (Guerra Civil) onde esteve, de Setembro de 1937 a Fevereiro de 1938, como delegado do PCP. Regressa a Lisboa passando por Paris, e passa a trabalhar junto do Secretariado. Colaborou então na preparação da fuga de Pavel do Aljube (em Maio de 1938)[3].

De Setembro de 1938 a 1 de Dezembro de 1939 assegura o funcionamento do secretariado político do PCP e, a partir de Abril de 1939, integra formalmente o triunvirato do Secretariado, com Álvaro Cunhal e Francisco Miguel.


Ludgero Pinto Basto com Francisco Miguel, em 1976

Cumpriu uma pena de 38 meses de prisão

Ludgero Pinto Basto é preso a 1 de Dezembro de 1939, em Benfica (Lisboa), quando, com Francisco Miguel, ia encontrar-se com outros membros do comité central. A 29 de Fevereiro de 1940, na prisão, legalizou o seu casamento com a companheira Brízida. Foi julgado em 18 de Maio de 1940 e condenado a 20 meses de prisão, mas acabou por ficar quase quatro anos nos presídios do Aljube, de Caxias, e Angra do Heroísmo, de onde regressou em 1943, para Caxias, e só então foi libertado.

Ludgero Eugénio Pinto Basto, fotografia na PIDE, em 1939

A evolução política na União Soviética, sob a direcção de Staline – sobretudo os “processos de Moscovo”, onde os “companheiros de Lenine” foram acusados de contra-revolucionários e executados – mereceu a sua crítica interna no PCP, mas sem pôr em causa a sua fidelidade à linha partidária. “Se a crítica, que então fez do estalinismo foi tímida, isso deveu-se unicamente ao rigor político do tempo, que não tolerava que se beliscasse o “pai dos povos”, mas sempre acusou Staline de ter pervertido o projecto de Lenine”[4].

Ideais de solidariedade humana e igualdade social

Em liberdade, retomou a actividade como médico e especializou-se em endocronologia, disciplina clínica de que foi percursor em Portugal.

Continuou o trabalho partidário, mas já não na clandestinidade. Participante activo nos movimentos de oposição democrática, Ludgero Pinto Basto envolveu-se na actividade do Movimento de Unidade Democrática (MUD), na década de 40, e na campanha presidencial do general Norton de Matos (1949). Ligado ao movimento associativo, integrou a direcção da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal. Em 1966, passou novamente pela prisão quando era correspondente da agência noticiosa France Presse, acusado da publicação de notícias «falsas e tendenciosas» sobre o País (a notícia saiu no jornal francês Le Figaro). Em 1968, participou na Assembleia Geral da Ordem dos Médicos, em representação do Conselho Regional de Lisboa, para a qual foi eleito numa lista unitária.

«A deliquescência do regime soviético só o surpreendeu por tardia, porque tinha fundadas dúvidas sobre aquele “socialismo real”. Por isso discordava que se falasse de “utopia comunista” para caracterizar o século XX. Considerou, até ao fim, que um tal projecto de sociedade permanecia válido, convencido de que “todas as misérias do capitalismo se mantinham e até se exacerbaram em certos sítios”. Preocupação séria para si era ver a tendência crescente para um individualismo egoísta e “as pessoas menos interessadas na evolução da sociedade do que no princípio do século XX”»[4].


Ludgero Pinto Basto (1909 – 2005)

Ainda antes do 25 de Abril, publicou “Sobre as dificuldades de assistência médico-social aos resistentes antifascistas”.

Em Abril de 2004 foi agraciado com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade.

 

[1] A mãe teve de se ocupar do balcão da loja, além das aulas. Ainda jovem ficara com três filhos para cuidar. Ludgero tinha cinco anos, Aníbal três e o mais novo, Ernâni, pouco mais do que um ano.

[2] Na zona da Penha de França, em Lisboa, recorrendo ao apelido da mãe, que pouco utilizava, Ferreira Pinto.

[3] Após esta fuga de “Pavel” (Francisco Paula de Oliveira) do Aljube, (que contou com o apoio, na organização, de Ludgero Pinto Basto e PCP), gerou-se na Internacional Comunista um ambiente de desconfiança em relação a Pavel e ao PCP, devido a uma calúnia de Armando Magalhães junto do representante da Internacional Comunista (IC) em Paris. .

[4] Artigo do jornalista António Melo no jornal Público, com o título “Morreu Ludgero Pinto Basto, comunista e antiestalinista”, em 25/5/2005, por ocasião da sua morte.

Dados biográficos


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