Diário
Director

Independente
João de Sousa

Sexta-feira, Setembro 13, 2024

MPB4 canta: “Roda Viva”

João Carlos Gonçalves, Juruna, em São Paulo
João Carlos Gonçalves, Juruna, em São Paulo
Metalúrgico, sindicalista, Secretário Geral da Força Sindical, vice presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Escrita no início da ditadura militar, ainda sob impacto do golpe e às vésperas do endurecimento do AI-5, Roda Viva expressa o espírito daquela época. Espirito de incertezas, de pesar e, sobretudo, de uma busca desesperada por criar uma resistência.

Logo no início a letra entrega “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de-repente, ou foi o mundo então que cresceu”, revelando um sentimento de impotência que se instalou em grupos políticos, culturais e sociais.

E logo depois declara: “A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda vida e carrega o destino pra lá”, “A gente vai contra a corrente até não poder resistir. Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir” e “Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há, mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá…”. Importante notar que a roseira é a metáfora do socialismo, combatido pelos militares. A música fala sobre como era difícil criar uma resistência naquela época, sendo a Roda Vida, ironicamente, a representação de uma pulsão de morte.

A canção é parte da peça de mesmo nome, dirigida por José Celso Martinez Corrêa em 1967.

Hoje, 54 anos depois, ela, além de sua importância histórica e de seu tom nostálgico, volta a ter um sentido real. O fantasma do regime autoritário voltou a nos assombrar após a eleição, em 2018, de um presidente apoiador da ditadura e de seus torturadores. Voltou a sensação expressa no verso: Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de-repente, ou foi o mundo então que cresceu” e também a sensação “do quanto deixou de cumprir”. Com todas as suas mazelas aprofundadas pela pandemia, a atual Roda Viva que carrega o destino pra lá é o governo antissocial, negacionista, com arroubos autoritários.

Roda Viva

Composição: Chico Buarque/1967
Intérprete: MPB4

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu…

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá …

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá…

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou…

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá…

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou…

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá …

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…(4x)

 


Fonte: Centro de Memória Sindical | Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado

 

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -