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João de Sousa

Sábado, Outubro 5, 2024

«Não existem eleições livres»

Desenho de António Sobral

 

Abstencionistas activos e desobedientes convictos. Não votaram, nem votam até derrubarem o regime, «deter os corruptos e salvar Portugal». Assim se apresenta o «Movimento Desobediência Civil Eleitoral ‘Queselixevotar’». Fomos saber o que pensa este «grupo de união popular» que afirma vivermos numa «falsa democracia»

 

Tornado – Por que motivo se tornou abstencionista?

SÉRGIO MEDEIROS – Só votei duas vezes: a primeira aos 18 anos e a outra nas penúltimas presidenciais, feito do qual me arrependo e sinto nojo de o ter feito.

Porquê?

Por ter ajudado na legitimação desta falsa democracia que arreda os cidadãos da tomada de decisões e por ter legitimado um modelo político de Estado que em vez de maximizar a justiça a minimiza, que em vez de minimizar a corrupção a maximiza. Tal facto não tem como causa os eleitos e sim o modelo de organização política-Estado que tão bem alberga e protege actividades criminosas, nomeadamente a corrupção, tráfico de influências e a fraude. Não votar é discordar, é não desculpar os últimos 41 anos de desgovernação e não legitimar mais 4 de corrupção.

Considera-se um cidadão atento e informado?

Sim, estou informado e tenho trabalhado arduamente para levar ao maior número de cidadãos a denúncia sobre o embuste deste regime «falsa democracia-usurpação da vontade e soberania popular». E apontado o caminho a seguir para a verdadeira democracia.

Acha que falta «tempo de antena» aos abstencionistas?

A apregoada liberdade de expressão é mais um embuste desta falsa democracia. Todos os cidadãos deviam ter oportunidade de exporem as suas ideias, para tal é necessário que um novo regime abra janelas de oportunidade e participação na actividade política.

O movimento sente-se marginalizado?

Desde a fundação deste movimento que tenho sido convidado a opinar sobre a abstenção, em colóquios, rádios, universidades e até jornais de pequena monta. No entanto, após os primeiros contactos os convites entram na gaveta. Não existe liberdade de expressão quando se trata de opinar contra o regime.

 

«Albergue de criminosos»

 

Que ideias tem sobre o Estado?

O Estado não é o País, é a organização sócio-política do País, é a forma como as instituições se organizam e agem, e quando o Estado se organiza segundo a vontade de «associações criminosas» partidos, o estado é ele mesmo uma organização criminosa, um inimigo do povo.

Como define os actuais líderes partidários?

Vejo-os como cidadãos comuns que se instalaram em partidos, que gerem o Estado de acordo com os seus interesses e vontade. «A ocasião faz o ladrão, e quando o ladrão tem o poder de definir a acção do Estado (poder legislativo e executivo) passa de ladrão a fazedor da ocasião».

Não se revê em nenhum deles?

Não me revejo sequer no actual modelo de organização política que é um perfeito albergue e asilo-protectorado de criminosos. Um cidadão bem-intencionado que aceda à actividade partidária e ao poder, ou se alia ao regabofe, ou cala e consente. Se assim não se portar o mais provável é ser excluído e até perseguido pelos demais pares.

Mas concorda que a conquista de eleições livres foi um árduo caminho para muitos?

Essa é mais uma falácia. Na realidade, aqueles que mais usam esse argumento ainda hoje não aceitam eleições livres nos países onde governam, pelo que a sua luta primária não foi pelo direito ao voto, e sim pelo direito a acederem ao poder que agora subtraem e partilham.  Repare, antes de 74, o direito de voto estava vedado aos menores de 18 anos e às mulheres, hoje está vedado aos maiores de 16 anos. E não obstante, o facto de os maiores de 16 anos serem responsáveis criminalmente pelos seus actos, a lei não lhes reconhece maturidade suficiente para serem candidatos ou votarem.

Mas os maiores de 18, homens ou mulheres, podem hoje votar livremente…

Não existem eleições livres num regime que baseia as campanhas eleitorais em demagogia, engodo, falsidades e mentiras. Um regime que exclui qualquer cidadão de aceder a um lugar de representação política, a não ser pela via partidária, assim, não se pode dizer que existem eleições livres. Os cidadãos nem sequer conquistaram o direito de votar em si próprios, de serem candidatos isolados de grupos e associações. Neste regime de representação política não existe sequer o direito de voto na verdadeira e mais ampla acepção da palavra, quando muito, somos convidados a votar em quem os partidos escolheram, votamos, mas não fazemos escolha nenhuma, os candidatos estão pré-seleccionados pelas máquinas partidárias, nenhum homem é livre de se propor ao lugar de primeiro ministro, ministro, deputado, etc. Portanto digo que, as ditas eleições livres são uma falácia, as mesmas são controladas pelo poder político onde o cidadão comum é excluído e nem sequer opina.

Para o movimento o que existe é a ditadura do voto?

Empurrar o cidadão para uma mesa de voto, como acontece agora, com chantagem, ameaças e a falácia que o voto é um dever cívico, como se legitimar corruptos e a corrupção fosse um dever, é uma excrescência que viola o seu direito de se abster, quando o cenário político não o cativa suficientemente ou não lhe permite formular julgamento válido entre opções viciadas. Portanto, a abstenção também precisa ser respeitada e valorizada como uma forma válida de manifestação de vontade, que ao mesmo tempo indica o nível de motivação política de uma comunidade. Não votar é também um dever cívico, consciente e valoroso. Eu não voto até conquistarmos o direito a votar na tomada de decisões, a isso chamamos democracia participativa.

«Cruzes, canhoto!»

Sérgio Medeiros tem 49 anos, é desempregado, e nasceu numa pequena pequena aldeia de Trás-os-Montes. Fundou o movimento – que cita Gandhi, Engels e Max Planck – há três anos e garante que a página nas redes sociais supera as 200 mil visualizações semanais. Do grupo fazem parte juristas, funcionários públicos, ex-fundadores de partidos, agricultores e antigos eleitores activos. Confessa: «muitas têm sido as tentativas de nos transformar num movimento radical de apelo à violência, ou de nos incentivar a formarmos uma estrutura registada e ou partido». Garante que «jamais o fará» e conclui: «somos e seremos um movimento de cidadania popular contra a corrupção e o crime organizado».

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