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Domingo, Outubro 6, 2024

O homem que anda a investigar todos os algarvios

Nuno Inácio tem um objectivo: fazer a árvore genealógica de todos os algarvios. Há uma década que se dedica a investigar as origens de milhares de pessoas e promete não parar.

 

Nuno Inácio tem um objectivo: fazer a árvore genealógica de todos os algarvios. Há uma década que se dedica a investigar as origens de milhares de pessoas e promete não parar. Até agora fez o levantamento das freguesias de Alcantarilha, Alferce, Alcoutim, Porches, Lagoa, Albufeira, Guia, Paderne, Portimão e Alvor.

GenealogiaSite2Foi há dez anos, quando a filha nasceu, que resolveu construir a árvore genealógica da sua família. O avô paterno era natural do Alferce (freguesia de Monchique) e começou a pesquisar os registos não só dos ascendentes directos como dos colaterais. Quando chegou ao fim, constatou, com surpresa, que “tinha os dados de, praticamente, toda a freguesia, a partir de finais do séc. XVII, início do séc. XVIII”. Como estava com as mãos na massa, acabou o serviço e concluiu o levantamento da freguesia. Colocou-o na internet, no site www.genealogiadoalgarve.com e, entretanto, já editou um livro com cerca de 2.000 páginas, que “tem os dados de toda a população do Alferce, relacionada entre si e com notas biográficas”.

Ganhou o gosto pela genealogia e passou para outras freguesias, até que lhe surgiu a ideia de abranger todo o Algarve, um trabalho que lhe vai consumir boa parte da sua vida. É que cada freguesia pequena “leva um ano a fazer, enquanto que para concluir as maiores, como Portimão, preciso de cerca de três anos”.

E é fácil de perceber porque o labor lhe consome tanto tempo. É que tem de obter, junto da Torre do Tombo ou do Arquivo Distrital de Faro, os registos de baptismo, casamento e óbito de cada pessoa. Por regra, “começo no livro de registos mais antigo, por volta de 1570, e passo para a minha base de dados toda a informação, documento a documento”. A partir daí, começa a desenhar-se a rede familiar que vai ganhando cada vez mais ramos até chegar aos nossos dias.

Nomes muito comuns causam dificuldades

Genealogia1Mas nem sempre esta é uma tarefa fácil. Por vezes, surgem-lhe dúvidas, devido à existência de nomes que são muito comuns. Quando isso acontece, “tento desempatar pelo sítio em que viviam ou pelo nome dos avós”. Em geral, consegue, através deste sistema, resolver os problemas com que se depara, mas, às vezes, aparecem-lhe casos que não têm solução. Lembra-se, por exemplo, de “dois casais de Portimão, cujos elementos têm os mesmos nomes e os respectivos casamentos deram-se com a diferença de dois meses”. Com os documentos que tem não lhe foi possível fazer as ligações correctas de cada uma dessas duas famílias, pelo que as deixou de lado. Mas não perde a esperança de concluir esse trabalho, pois “um dia podem surgir documentos de outras fontes que nos permitam descobrir quem são exactamente os ascendentes e descendentes de cada um”.

Este é um projecto que acaba por contar a história de cada freguesia, pessoa a pessoa. Por esta via, consegue-se saber “quantas pessoas nasceram, quando nasceram, quantos irmãos tinham, quantos familiares viviam em cada casa, quando casaram, quem foram os padrinhos, quando morreram, que profissões tinham, como é que aquela gente toda se relacionava”. O estudo permite-lhe, igualmente, analisar os fluxos migratórios, que acabam por dizer muito sobre cada comunidade. O seu trabalho levou-o a determinar que “no final do séc. XVI houve muita gente que veio do norte do país (sobretudo de Trás-os-Montes e Alto Douro) e se fixou em Monchique”. Também deu para perceber que, no séc. XVII, “com a entrega de Tânger, a população portuguesa que aí residia foi obrigada a vir para o Algarve e, hoje, praticamente todos os algarvios descendem de tangerinos”.

O trabalho desenvolvido leva-o a constatar que há muitos algarvios que não fazem ideia que possuem ascendências famosas. Por exemplo, “há um casal de Lagos que tem na sua árvore genealógica figuras como Eça de Queiroz, Alexandre O’Neill e Júlio Dantas”.

Mas há muitas mais personalidades históricas relacionadas com o Algarve. Casos de “Simão Bolívar, que é descendente do Capitão Leão Pacheco, de Portimão; de Carlos Drummond de Andrade, descendente da família Chassim, também de Portimão, e de Fernando Pessoa, que tem relações com gente de Portimão, Tavira e Lagos”.

Árvore genealógica por causa de heranças

A riqueza da informação que recolhe leva a que muitos escritores e investigadores a utilizem como matéria-prima para diversos livros e teses de mestrado e doutoramento.

Mas também há quem lhe peça para fazer a árvore genealógica da família pelas razões mais diversas. Nuns casos, por simples curiosidade, noutros, por razões bem mais prosaicas. Já lhe têm solicitado a tarefa por questões de herança ou por situações relacionadas com a legalização de prédios na faixa do domínio público GenealogiaSitemarítimo. Há, inclusivamente, quem também lhe peça esses dados “por causa dos túmulos perpétuos dos cemitérios”.
Um aspecto curioso desta actividade é que “é mais fácil conseguir-se informações antigas do que actuais”. Apesar de, em Portugal, vigorar o princípio do registo público e de, teoricamente, qualquer pessoa poder ir ao registo civil solicitar este tipo de dados, a verdade é que, na prática, surgem algumas dificuldades. Enquanto que, nos registos antigos, Nuno Inácio pode ir a cada livro e copiar os registos, página a página, no que diz respeito aos actuais, precisa de pedir, um a um, os registos de cada pessoa. E, para o conseguir, necessita de, previamente, saber os respectivos nomes completos, data e freguesia de nascimento.

Em termos financeiros, este é um trabalho que acaba por sair caro, pois “pago um euro por cada documento”. Para fazer face a isso, conta com o apoio de diversos
municípios do Algarve, aos quais cede, em troca, os direitos de autor da sua pesquisa.

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