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João de Sousa

Quinta-feira, Março 28, 2024

O que é que a Bahia tem…

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A Bahia tem herança portuguesa, africana e indiana. Tem o Pelourinho, o Mercado Modelo e o Farol da Barra. A água de coco e o axê. A Bahia é a terra de Bethânia, de Caetano, de Jorge Amado e do Olodum. Abençoada pelos orixás, a Bahia tem o acarajé, o vatapá e a moqueca. A Bahia é a terra de todos os Santos e de muitos pecados. De todos os aromas e sabores. Tem seu charme, seu cheiro, seu jeito. E tem… Salvador, a sua capital

Se há cidades sem alma, outras parecem querer transbordá-la sem pudor. E se acredita no amor à primeira vista, este não será, com quase toda a certeza, o caso. Possivelmente estranhará, depois talvez pense em se afastar e, por fim, vai entregar-se para não mais querer largar. Salvador é assim: terra que enfeitiça com o correr dos dias, como se qualquer aragem misteriosa pairasse ao som do berimbau e ao ritmo da capoeira. Respire-a e vá à descoberta do verdadeiro espírito axê. Por isso, caro viajante, parta sem preconceitos, Salvador entranha-se pelos poros (de alguns), porém torna-se imune para ariscos.

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Então, o que é mesmo que a Bahia tem?

… Tem som, cor e ritmo. Tem dança, cheiro, misticismo. Tem bafejo vadio. Tem alma vibrante. Como eternizou Gil Freyre, tem a “Bahia de todos os santos (e de quase todos os pecados), casas trepadas p’ra sair num retrato de revista ou jornal(…)”, e tem ainda gente “preta, parda, roxa, morena, cor de bons jacarandás de engenho do Brasil”.

A velha capital da coroa portuguesa nas Américas tornou-se outrora principal porto atlântico na rota das naus lusitanas com destino ao Oriente, e hoje é traçada como a cidade com o maior número de descendentes africanos no mundo, vindos de Benin, Gana, Nigéria e Togo.

 

Muvuca

…. Tem o Pelourinho, o Terreiro de Jesus, a praça da Sé e a ladeira do Carmo. Tem o sorriso de Dona Gil e a Pensão dos Sonhos. Tem Maria Nêga Bebê que corre para dar as boas vindas, entrelaçando a fita do Senhor do Bonfim – o amuleto de Salvador da Bahia, que é obrigatório aceitar, e coleccionar. Por aqui tudo é contagiante, tudo mexe e remexe: desde as visitas das igrejas aos tambores que soam com o cair da noite, ou batuques que despertam com o raiar da manhã.

Na Terça-feira da Bênção, as ruas ficam lotadas. Depois do ponto alto do dia, com a missa afro-baiana (às 18 horas na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos), grupos de percussão começam a desfilar ladeira acima, ladeira abaixo. O ritmo invade o centro histórico. É a muvuca! Toda a galera entra na onda e é a bagunçada total.

Por aqui tudo é contagiante, tudo mexe e remexe: desde as visitas das igrejas, aos tambores que soam com o cair da noite, ou batuques que despertam com o raiar da manhã.

O Pelourinho tem também a Fundação Casa de Jorge Amado, a loja do Olodum e a Igreja de São Francisco, toda banhada em ouro. Tem fusão de raças e mistura de credos. Tem rituais de candomblé. Tem a vida bem timbrada. Este conjunto arquitectónico colonial português começou a ser revitalizado na década 90 e faz parte do Património Histórico da UNESCO. Hoje é ponto obrigatório para incorporar em Salvador.

IgrejaSenhorBonfim

Mar à espreita

…Tem o Dique de Tororó, uma lagoa artificial com oito grandes esculturas de Orixás sobre o espelho d´água, assinadas pelo artista plástico Tati Moreno. Tem o famoso Elevador Lacerda, reconhecido como um dos ícones do turismo de Salvador: além de funcionar como ligação entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa, este cartão-postal oferece uma espantosa vista panorâmica sobre a Baía de Todos os Santos.

Salvador é assim: terra que enfeitiça com o correr dos dias, como se qualquer aragem misteriosa pairasse ao som do berimbau e ao ritmo da capoeira.

Depois de descer à parte baixa, tem toda a Baía para descobrir. Aqui, no bairro do comércio, abriga-se o Mercado Modelo e as suas dezenas de lojas, onde as cores do artesanato se baralham com o aroma da típica culinária baiana.

… Tem o mar sempre à espreita, suas praias de águas calmas no Verão e calorosas fora dele. Há a Ponta de Humaitá, protegida pelo forte e abençoada pela Igreja de Mont Serrat. Entre o Senhor do Bonfim e Tapuã, está Ondina, o Rio Vermelho, ou o Farol da Barra – a praia urbana mais movimentada da capital baiana.

ElevadorLacerda

Aproveite o percurso e daqui siga para o Porto da Barra, porque, provavelmente, pode desfrutar do melhor pôr-do-sol na Baía de Todos os Santos, já que a praia está voltada para o oeste, obrigando a luz rubra a dissipar mais tardiamente. Em direcção ao litoral norte, encontra a Praia do Forte, pontuada por exuberantes coqueiros, e a sede do Projecto Tamar, organização dedicada à preservação e estudo das tartarugas marinhas.

…E quando se despedir das caipirinhas, do jatobá ou do cravinho, quando deixar esta terra para trás, veja se o coração não lhe soa em batidas aceleradas.

Quando se despedir das caipirinhas, do jatobá ou do cravinho, quando deixar esta terra para trás, veja se o coração não lhe soa em batidas aceleradas.

A Bahia tem por fim amontoados de tijolos com telhados de zinco, bairros de latas, moleques… tem pobreza e humildade. Tem o acordar com timbalada, o pequeno-almoço com samba de roda, a caminhada ao som Maculelê. E se a Vida nesta cidade não existe sem música, Salvador é um autêntico hino à Vida.

 

Olodum

Aos 32 anos, a banda de samba-reggae mais famosa da Bahia é hoje reconhecida em todo o mundo, não só pelos ritmos afro-brasileiros como também pelo trabalho contra a discriminação racial e social. Quem calcorreia o centro histórico de Salvador facilmente encontra uma referência ao símbolo da paz em vermelho, verde, amarelo e preto, eternizado na maior parte das lembranças baianas. Mas a fama de Olodum não seria a mesma se não tivesse chamado a atenção de estrelas da música pop como Michael Jackson ou Paul Simon. A batida inconfundível dos 200 percussionistas ainda hoje faz tremer meio mundo quando é escutado o vídeo “They Don´t Care About Us”, gravado com Michael Jackson em pleno Pelourinho.

 

Curiosidades de “Roma Negra”

  • A cidade de Salvador era antigamente chamada de Bahia, inclusive por moradores do próprio Estado. Também já a nomearam “capital da Alegria”, devido aos enormes festejos populares e carnavalescos; “Roma Negra”, por ser considerada a metrópole com maior percentagem de negros localizados fora de África; e “Meca da Negritude” por atrair um número cada vez maior de turistas afro-americanos à procura de informações sobre os seus antepassados.
  • A música é um dos maiores produtos turísticos do estado baiano. No Brasil, das 160 mil pessoas envolvidas directa e indirectamente com a área musical, cerca de 50% estão na Bahia, uma verdadeira fonte de cantores, compositores e instrumentistas. Só para citar alguns: Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Raul Seixas, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Camisa de Vênus e Carlinhos Brown.

A Bahia é terra de todos os santos e muitos pecados, e também de todos os nomes: “capital da Alegria”, “Roma Negra”, “Meca da Negritude”

  • Salvador é conhecida por ter 365 igrejas católicas, uma para cada dia do ano. Para o povo baiano, a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, construída em estilo neoclássico com fachada em rococó, é o maior centro da fé católica. Foi erguida a partir de 1745, ano em que chegaram as imagens do Senhor Jesus do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia, trazidas de Portugal pelo capitão Teodósio Rodrigues de Faria. A par do sincretismo religioso, onde o catolicismo convive junto ao candomblé, existe uma percentagem significante de espíritas e de evangélicos que cresce a cada ano.
  • Cada cor da Fita do Senhor do Bonfim simboliza um Orixá. Verde escuro para Oxossi, azul claro para Iemanjá, FitasSenhorBonfimAmarelo para Oxum… seja qual for a cor, a fita possui uma representação simbólica, estética e espiritual típicas das raízes africanas da Bahia. Na tradição popular, é enrolada no punho e fixada com três nós. A cada nó precede um desejo, mantido secreto até a fita se romper naturalmente.
  • A comida Bahiana é composta por pratos de origem africana, temperados à base de azeite de dendê, leite de coco, gengibre, e pimenta de várias qualidades. Alguns pratos mais típicos são: o “acarajé” – um bolinho de massa de feijão fradinho, frito em azeite de dendê e recheado com “vatapá”, um condimentado molho de peixe, camarão, coco, amendoim, caju, gengibre e pimenta; o “abará”, com ingredientes similares ao “acarajé”, mas cozido em folha de bananeira; a “moqueca” de peixe, um rico cozido com molho de azeite de dendê; o “caruru”, um prato tradicional com camarões secos e quiabos; o “sarapatel”, um cozido de miúdos de porco com pimentos e várias especiarias; e o “xinxin” de galinha, com molho de camarões e dendê. Bem, fiquemos por aqui. Bom apetite! Ah… só três sobremesas: papo de anjo, quindim e cocada.

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