Num mundo, como o nosso, em que é frequente confundir os problemas da banca com os problemas dos banqueiros, onde o lucro foi privatizado mas o risco é nacionalizado, onde os ganhos são dos bancos mas o prejuízo é , sempre, de todos, é difícil compreender à primeira leitura o conceito Banca Ética Islâmica. Desde logo porque tem em consideração o bem comum.
Note-se que não me refiro a todos os bancos árabes ou muçulmanos, apenas aos que seguem a Mudarabah Islâmica.
O código das leis religiosas, a Charia, lida com diversos aspectos da vida quotidiana, bem como a política, economia, bancos, negócios, contratos, família, sexualidade, higiene e questões sociais . Charia significa “caminho” ou “rota para a fonte de água”. O nosso direito faz uma leitura algo diferente, considerando ser possível haver uma moral, uma regra, para as organizações, outra para a família, etc… Este é, quanto a mim, um mau serviço do direito.
O juro e a usura como simples remuneração são injustos
Para as instituições financeiras que seguem a Mudarabah o juro ou a usura estão interditos. E, é aqui que o leitor começa a considerar que há qualquer coisa que está mal explicada nestes bancos… Mas, não está! Errado será pensar que o dinheiro poderá gerar dinheiro por si só. Este é apenas um meio de transporte de valor nunca um fim em si mesmo. Pelo que também por isso, para a banca ética islâmica, está interdita a venda de expectativa. Só assim não incorremos no risco de vender, ou comprar, aquilo que ainda não existe…
Para o Capitalismo Halal o juro como simples remuneração é injusto, desonesto e antinatural. Os princípios que geraram a crise do subprime nunca seriam aceites face a tais leis islâmicas. A especulação, a alavancagem, as titularizações sintéticas, os derivados, as valorizações de mercado e o seu efeito nos balanços, são factores interditos eticamente para estas instituições financeiras.
Note-se que neste âmbito o lucro não é proibido quando halal (puro), estando – unicamente – os bancos impedidos de financiar, ou ser financiados, por negócios impuros (álcool, cigarros, indústria pornográfica, etc.). Ora, pergunto eu, não deveria ser assim em todos os tipos de banca? O que é que eu não estou a perceber no meio disto tudo…
Ao assumir solidariamente o risco do negócio o banco só faz parcerias com empresas/investidores acima de qualquer suspeita ou risco ético. A dignidade humana é central no Capitalismo Halal. O risco é dividido assim como o lucro. Só assim ele será um bom negócio para todos. Incluindo, naturalmente, toda a comunidade, não apenas os directamente envolvidos.
O fim da banca tradicional…
À banca ocidental falta uma concepção de justiça e moral económica baseada em algo mais elevado que o dinheiro, longe da especulação de um mercado que poucas vezes vai por si mesmo… E, é essa mesma obsessão pelos mercados ditos livres que nos impede de engendrar um mundo mais justo para todos.
Aliás Adam Smith, aquele que primeiro formulou e organizou a teoria económica era professor de filosofia moral, apelo que não abandonou quando em 1776 viu editada a sua obra de referência Uma Pesquisa Sobre a Natureza e as Causas das Riquezas das Nações. Smith foi o primeiro a denunciar as injustiças que a economia poderia proporcionar, bem como apelou à responsabilidade do estado e das corporações ante a mão invisível dos mercados.
No caso concreto do dinheiro, o problema está na forma como nos temos relacionado com ele. Então, bastará pensar que nós viemos ao mundo de mãos vazias, retornando do mundo de mãos vazias, isto para perceber o quanto temos andado errados… O que trouxemos e o que levaremos será a consciência de sermos apenas usufrutuários deste planeta. E qual será a solução imediata quando pensamos no dinheiro ou nos bancos?
Investir em bancos locais ou regionais; apoiando-os. E, por que não haveríamos nós de ter mais mutualismo, banca cooperativa, banca ética, banca islâmica ou banca cívica em Portugal? Na banca comercial faltam valores humanistas e o enraizar de crenças num mundo melhor para todos. Só assim voltaremos à economia da esperança.
Em alternativa restar-nos-á, lamentavelmente, a economia da revolta…
O que foste fazer, Lula? Qual Sepúlveda, de fuga para o mato, para nunca mais ninguém o ver da mesma forma. Há um mal intrínseco no dia de ontem, quando um herói se entrega no colo da mãe que ele próprio inventou, na edipiana trama política que era, afinal, apenas, mais um caso de corrupção.
Luiz Inácio, homem, o Brasil não podia ter esta desilusão com a democracia, sob pena dos idiotas da paulista ganharem o campeonato do regresso aos tempos de ditadura ou de Collor. Assim, ainda vão acreditar no tiro ao Tancredo e desfazer da memória o que o PT conseguiu, construindo em cima de FHC.
Presidente, que mal fez o Brasil para perder a sua esquerda para um processo que tira o nome das lavagens de carros em Londrina? Comiam todos, segundo o Ministério Público Federal. Um cartel em empresas abocanhava os “concursos” e distribuía o valor da sobre-orçamentação pelos políticos corruptos dos partidos interessados. Lavava o dinheiro nas estação de serviço. Que miséria, pá.
O herói da história é um rapaz chamado Sérgio Moro, educado em colégios católicos e filho da classe média dos anos sessenta, aquela que Lula sabia ser protegida, contra os operários. Se a nomeação de Lula é esturro certo, a investigação é vingança política, bradam os atentos. Moro é mais um exemplar dessa raça alienígena que são os super-juízes, vingadores do povo sem mandato ético.
Lula, o Brasil contra ti devia ser uma vergonha. Aqui, um teu amigo foi dentro e, apesar do estilo que já ninguém suporta, entregou-se. Fazer de Sócrates um anjo unânime é trabalho difícil. O poder não pode corromper o velho sindicalista que foi mais do que dez Obamas para essa terra.
As escutas que o juiz Moro agora vaza para o público não dizem muito sobre a culpa ou inocência material, mas ninguém quererá saber disso: o que interessa é que o Presidente fugiu como o Manoel que naufragou um dia à costa de Moçambique e viu a mulher violada pelos cafres e ainda lhes pediu penitência, antes de se acobardar absolutamente, talvez posto em sossego com uma corda de pescoço e uma árvore de destino.
Uma das regras de construção do thriller, e nomeadamente dos romances de espionagem, é o seu caráter polifónico, o aparente desconcerto inicial duma narrativa que se desdobra em várias narrativas relativas a lugares e a tempos distintos, motivadas por acontecimentos aparentemente sem ligação entre si. Este esquema de construção do suspense surge em muitos romances e romancistas do género. O desconcerto e a perplexidade do leitor nos primeiros capítulos acabarão por se resolver e o infinito prazer da leitura surge quando afinal tudo se liga, quando percebemos que o bater de asas duma borboleta em Tóquio pode desencadear uma tempestade na Califórnia. Afinal, anda tudo ligado e deslindar um problema ou um mistério é, afinal, ligar as pontas soltas, descobrir a estrutura invisível que tudo liga. Sim, porque já Heraclito, num dos seus obscuros aforismos, nos dizia que tudo estava ligado e conhecimento consistia em descobrir o logos presente em todas as coisas. No thriller assistimos, precisamente, a esse desacerto inicial a que corresponderá uma série de acontecimentos terríveis até que se descobre o sentido de tudo aquilo, a razão de ser (o logos) dos acontecimentos, aparentemente desconexos.
Talvez resida aí o prazer que se obtém ao ler romances policiais e de espionagem. E este Peregrino de Terry Hayes, apesar de romance de estreia, constitui uma agradabilíssima experiência de leitura, com os condimentos certos do género: uma jovem mulher encontrada assassinada num quarto de hotel em Manhattan, um zoólogo decapitado na Arábia Saudita, restos humanos que ardem em fogo lento numa montanha algures no Afeganistão. E um investigador, o Peregrino, cujo percurso nos serviços secretos nos desperta uma progressiva aproximação. Tudo isto servido através duma escrita poderosa e muito sugestiva, ou não tivesse o autor, Terry Hayes, escrito com George Miller os argumentos de Mad Max 2: o Guerreiro da Estrada e Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão. Aproveitando este tempo ainda indeciso que nos obriga a ficar em casa para além do que é habitual, o Peregrino será, pois, uma excelente companhia.
A nomeação de Lula da Silva para chefe da Casa Civil do governo Dilma suscitou uma onda de protestos e agudizou ainda mais a já tensa situação política no país.
Concretizada poucos dias depois das grandes manifestações do passado fim de semana, a entrada do ex-presidente no executivo foi sentida por largos sectores da população, em particular das classes médias urbanas e das elites, como uma verdadeira afronta, sendo interpretada como tentativa de escapar das investigações, uma vez que passa a ter foro privilegiado.
Milhares de pessoas vieram para as ruas numa série de cidades e numa delas – São Bernardo do Campo, na grande São Paulo – chegou mesmo a haver um esboço de confrontos em frente da casa de Lula.
Manifestação contra Lula e Dilma na noite de 16 de Março, em Brasília junto ao palácio do Planalto
A oposição, que vinha em crescendo e se sentiu legitimada pela amplitude das manifestações, dando já como certa a queda próxima de Dilma – seja por impugnação no Parlamento, seja por decisão do Tribunal Superior Eleitoral com base em acusações de financiamento ilegal de campanha – não se conforma e moveu acções nos tribunais em todas as capitais estaduais contestanto a legalidade da nomeação.
Lava-Jato
A acrescentar a tudo isto, o juiz Sérgio Moro, que há já dois anos supervisiona a Operação Lava Jato em Curitiba, no Paraná, lançou ainda mais gasolina no fogo ao revelar ontem o conteúdo de uma conversa telefónica entre Dilma e Lula que, no seu entender e de boa parte dos comentadores da media, comprovaria que a finalidade da nomeação teria sido apenas a de colocar Lula ao abrigo das investigações.
O Planalto reagiu, deu interpretação republicana à conversa, desmontando a interpretação dos procuradores de Curitiba e ameaça agora “tomar as medidas cabíveis” contra Moro.
A novela da política brasileira – que, como alguém já disse certeiramente, é melhor que a série House of Cards – não deixa, portanto de nos surpreender. O clima está ao rubro e os golpes de teatro sucedem-se a ritmo alucinante. Nenhum dos intérpretes está a resguardo de nada – tudo se sabe e tudo vaza para a praça pública quando menos se espera, dando depois origem a infinitas análises e especulações nos media, que por sua vez atiçam ainda mais o clima de confronto.
Tudo isto agravado pela excessiva intervenção do judiciário, que aqui se assume como verdadeiro poder, e que tem capacidade de se imiscuir em tudo e mais alguma coisa – um modelo institucional inspirado no norte-americano, mas que teve no Brasil um desenvolvimento tropical de dimensões inauditas, sem paralelo em qualquer parte do mundo.
O fundo da argumentação de um lado e do outro é moral e jurídico, mas todos sabem que o que está em causa é a política – o controlo do poder do Estado por este ou aquele grupo – ainda que com a promessa de ambos de que irão resolver os problemas do país.
O levantamento do segredo de justiça por Sérgio Moro para poder revelar uma conversa da presidente da república com Lula, no preciso momento em que este aceitava integrar o governo, assim escapando à sua jurisdição, é manifestamente um acto de cariz político não isento, por mais justificação jurídica que se apresente.
Moro, ainda que se sentisse ofendido nos brios por ver escapar-lhe um investigado – que aliás ainda nem sequer é réu, porque não foi acusado de nada – podia, com efeito, ter-se limitado, como lhe competia, a endossar o processo para a instância superior que agora assume as investigações, dado que Lula passou a ter foro privilegiado – o Supremo Tribunal de Justiça.
Ao publicar o conteúdo de uma escuta telefónica de interpretação ambígua como se fosse a prova que lhe faltava – the smoking gun – o juiz de Curitiba assumiu-se mais como justiceiro do que como magistrado imparcial. Como já acontecera com a intimação forçada de Lula, há duas semanas, actos como este são contraproducentes, e podem pôr em causa o meritório trabalho de investigação que, pela primeira vez na história do país, levou ao banco dos réus figuras poderosas da política e dos negócios implicadas em corrupção.
Escândalos bilionários
Não que esta não existisse antes, bem pelo contrário. Mas tudo ou quase permanecia impune ou porque não chegava a ser investigado, por condescendência da procuradoria ( o Procurador Geral da República da época de Fernando Henrique Cardoso ficou conhecido como “o engavetador-geral”), ou porque os prazos legais transcorriam e os crimes prescreviam.
Agora, a situação mudou radicalmente – desde que a delação premiada foi aprovada, em 1990, primeiro para os crimes hediondos e depois alargada, em 1999, a todos os tipos penais – juízes e procuradores passaram a ter ao seu dispor uma arma poderosíssima, que permitiu, no caso da Lava Jato, desmontar todo o esquema bilionário de corrupção montado na Petrobras e outras empresas públicas com o envolvimento de empreiteiras privadas, incluindo algumas das principais construtoras do país como a Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e Camargo Correia, entre outras.
Foi a sucessiva revelação desses escândalos – como já tinha acontecido em 2005 com o Mensalão (pagamento de dinheiro em troca de apoio político) – que foi minando o actual governo, à medida que figuras-chave da política e dos negócios ligadas ao actual poder (mas também à oposição) passaram a ser suspeitas, investigadas e condenadas.
Neste momento, entre dezenas de deputados, encontram-se sob acusação os próprios presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, ambos do PMDB, partido do vice-presidente, Michel Temer, e principal aliado do PT no governo, que aliás já anunciou que pode sair da coligação dentro de um mês!
Como um mal nunca vem só, junta-se à crise moral a crise económica, reflexo em parte da crise internacional, que acabou por atingir o Brasil, mas provocada também por erros de avaliação internos. Resultado – queda acentuada do PIB (-3,8% em 2015, o pior resultado dos últimos 25 anos), aumento da taxa de juros, subida da inflação e do desemprego, estagnação… a ponto de os importantes avanços sociais conseguidos durante os mandatos de Lula estarem agora em perigo.
Lula na veia
Com a luta política ao rubro e as denúncias da Lava Jato a funcionarem como um espécie de Weaky Leaks interno que ameaça em permanência fazer ruir todo o castelo de cartas do sistema político, as forças que ainda sustentam o governo, em particular o PT, acabaram por considerar que Lula poderia ser a salvação – uma espécie de craque que o treinador faz entrar no último quarto de hora para virar o resultado.
Lula está hoje muito longe dos mais de 80% de aprovação que chegou a ter quando deixou o poder. O seu índice de rejeição subiu exponencialmente, com 49% a dizer, hoje, que não voltarão a votar nele. Mas ainda assim e apesar de tudo, há 37% que consideram ter sido ele o melhor presidente do Brasil de todos os tempos.
É este capital político que Dilma quer ver investido no seu próprio executivo, uma espécie de injecção de Lula na veia, como última esperança de recuperação de um governo anémico, isolado e à beira do falhanço, mesmo correndo ela o risco de se tornar numa rainha de Inglaterra ou, no mínimo, de perder boa parte do seu próprio poder.
Lula – que traria com ele algumas figuras conhecidas como Celso Amorim para as Relações Exteriores e Franklin Martins para a Comunicação – conserva uma capacidade de negociação e articulação que de todo em todo falta a Dilma e que poderá fazer a diferença num momento tão crítico como este.
A sua principal tarefa, para já, seria essa – estabilizar o governo e salvar a presidente da impugnação. De caminho, reactivar a economia, dando segurança aos mercados, e ao mesmo tempo refazer com algumas medidas pontuais a ligação com o povo do PT do qual Dilma progressivamente se afastou, a ponto de quase não a reconhecerem como um dos seus.
Missão impossível?
Um programa optimista, em que muitos não acreditam e que a oposição – que já sente o cheiro de sangue e está pronta a saltar para a jugular – odiaria ver triunfar.
Por uma razão simples: a concretizar-se, Lula seria reeleito em 2018 e o PT continuaria no poder por mais quatro anos, mantendo vivo o sonho de um Brasil mais justo.
Nada, neste momento, o garante – a começar pela própria legitimidade de acesso ao cargo de ministro-chefe da Casa Civil, que a oposição e parte do poder judiciário questionam fortemente.
Mas Lula, como se sabe, mais do que um pagador de promessas, considera-se um homem bafejado pela sorte – um homem que ao longo da vida tem sido objeto de vários milagres – desde ter sobrevivido à fome até ter-se tornado o primeiro presidente operário do Brasil.
Agora, não tem alternativa – ou vence esta última batalha, ou perderá o sentido de toda uma vida. Milagre, precisa-se!
Na sua meditação sobre o género wuxia (artes marciais), o cineasta de Taiwan Hou Hsiao-Hsien serve-se das suas habituais longas sequências e planos fixos, em vez dos movimentos acrobáticos que popularizaram o género com alguns filmes de enorme sucesso de público. Essa poderá ser para muitos uma surpresa, embora menos para quem Hou não é um cineasta desconhecido. E a verdade é que raros têm sido os seus filmes que não foram premiados num festival internacional.
Em Cannes, onde a ‘A Assassina’ foi exibido pela primeira vez, foi recebido com aplauso por uns, bem como interrogações de outros, apesar de arrecadar o prémio de realização, afinal de contas, o maior galardão que poderia obter, dada o seu irrepreensível papel.
Ora essa será mesmo uma marca que acaba por ganhar espessura em ‘A Assassina’, um filme de género, mas sem rendição às modas. E onde acabamos por ter o melhor de dois mundos, ou seja, todo o contorno sublime do rigor histórico, ainda que observado de um ponto de vista realista e não fantasioso. Onde a dimensão poética acaba por combinar bem com uma acção que se adequa à sua mise em scène.
Aqui se segue a narrativa hipnótica e belíssica da hitwoman (Qi Shu) após a missão falhada de abater um governador. Sem a preocupação de agradar a feudos ou clãs, Hou envolve-nos num manto de fascinante linguagem visual, ainda que muito fiquem despistados à procura da estrutura habitual da narração.
Hou pede-nos que procuremos essa razão também por aquilo que nos mostra. Aqui captado por uma imensa e rigorosíssima dimensão etérea. Quase como um sonho. Talvez seja assim que encara a dinastia Tang, de onde lhe chega a história de Yinniang (Qi Shu), uma implacável assassina com a missão de eliminar o governador da província Weibo, Tian Ji’na (Chen Chang), figura de revelo no equilíbrio do poder imperial da China no século XIX.
O problema, ou a agradável surpresa, é que ‘A Assassina’ não segue o indiciado perfil do filme de artes marciais, sugerindo antes uma via bem menos evidente, ainda que bem mais sedutora. Onde a violência de Yinniang é encarada quase como uma dança, mas que se funde com a natureza de uma forma arrebatadora.
Lá está, ‘A Assassina’ não é ‘O Tigre e o Dragão’ (2000), de Ang Lee, ou ‘Herói’ (2002), de Zhang Yimou, mas ainda bem. Em vez da acrobacia, temos a arte. Ficámos a ganhar.
O Algarve volta a estar nomeado para Melhor Destino de Praia da Europa nos World Travel Awards 2016, mais conhecidos como os Óscares do Turismo. A região, que já venceu este troféu por três vezes, está presente nos nomeados desde 2007, altura em que foi criada a categoria.
Como concorrentes, o Algarve enfrenta destinos como Cannes, em França, Corfu, na Grécia, Maiorca e Marbelha, em Espanha, Oludeniz, na Turquia ou Sardenha, em Itália.
Já na categoria dedicada aos melhores hóteis e resorts da Europa, o Algarve volta a merecer reconhecimento internacional ao conquistar 44 nomeações em 25 categorias, incluindo Melhor Hotel, Melhor Hotel de Luxo, Melhor Resort, Melhor Resort de Luxo ou Melhor Resort de Praia.
A votação está aberta aos profissionais e ao público em geral até dia 17 de Julho. Os resultados são conhecidos a 27 de Agosto, na gala europeia dos prémios, que decorrerá na Turquia.
O cerco aperta-se em Espanha, em torno do Partido Popular (do ainda primeiro-ministro Mariano Rajoy), formação política envolvida em vários escândalos de corrupção, o que dificulta o ainda chefe do Governo espanhol partir para novo mandado, depois das eleições legislativas inconclusivas do ano passado.
De acordo com o portal Yahoo News, Rita Barberá, uma senadora do PP espanhol que governou durante duas décadas Valencia, a terceira maior cidade espanhola, concordou em ser interrogada por um juiz que investiga suspeitas de lavagem de dinheiro no Partido.
Este anúncio foi feito pela governante depois dos media espanhóis terem revelado excertos de escutas telefónicas feitas por Maria José Alarcon, ex-conselheira de Barberá, a explicar como é que se “lavaram” mil euros em dinheiro partidário. Nesta gravação, Alcon diz ao filho que o partido estava cheio de “dinheiro negro” e sugere a um dos secretários de Barberá que aja para “lavar” o dinheiro.
A ex-“alcaldesa” de Valencia (equivalente a presidente da câmara municipal) denominou de “sem fundamento” e “completamente falsas” as alegações feitas contra ela, numa conferência de imprensa. O escândalo foi revelado em Janeiro deste ano, duas semanas antes das autoridades terem feito buscas à sede do Partido Popular em Madrid, como parte de outra investigação de corrupção, que levou uma das principais dirigentes da região, Esperanza Aguirre, a pedir a demissão.
Ao jornal El Mundo, Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol, assegurou que o núcleo de Valencia do partido não actuou mais cedo neste caso, porque “não faziam ideia” do que se passava; entretanto, foi aberta uma investigação interna no PP, visando Barberá e sua equipa.
Nas conversações para formação de um novo Governo espanhol, depois do impasse saído das eleições de 20 de Dezembro de 2015, o PP está isolado: os socialistas do PSOE, conjuntamente com os movimentos Podemos e Ciudadanos, recusam-se a dar alguma forma de apoio ao partido devido aos escândalos de corrupção.
Aliás, foi publicado, no mês passado, um “Dicionário de Corrupção” que contém 175 casos destacados de corrupção política ocorridos em Espanha nos últimos 30 anos. O PP de Rajoy aparece implicado em 68 dos casos mencionados neste livro, enquanto que o PSOE surge mencionado em 58.
Foi aprovado, esta Quarta-Feira, 16 de Março, o Orçamento do Estado para 2016, um documento proposto pelo PS que contou com os votos favoráveis de toda a Maioria de Esquerda.
Apenas com a abstenção do deputado do PAN e os votos contra, já esperados, do PSD e do CDS-PP, a aprovação do documento foi aplaudida de pé, em uníssono, por todos os partidos que a votaram favoravelmente: PS, BE, PCP e PEV.
O documento inicial foi objecto de discussão em sede de especialidade e, das 240 propostas de alteração apresentadas por todos os Partidos, com excepção do PSD que se negou a apresentar qualquer proposta nesse sentido, 135 foram aprovadas.
Entre as principais medidas previstas estão a reposição gradual dos salários da função pública ao longo do corrente ano ou a redução da sobretaxa em sede de IRS. Também desaparece a obrigação do pagamento do subsídio de Natal em duodécimos no sector público e é eliminado o quociente familiar no IRS, sendo substituído por um aumento das deduções fixas por filho para os 600 euros.
O IVA baixa ainda para a taxa intermédia de 13% na restauração, embora a água com gás, os refrigerantes e os vinhos mantenham a taxa actual de 23%. O documento inclui ainda uma proposta do PAN de redução do IVA em artigos e produtos da área da saúde, da nutrição e nos produtos vegetarianos para os 6% e a possibilidade de o IVA das despesas veterinárias passar a ser deduzido em sede de IRS até ao limite de 250 euros.
Foi também incluída neste orçamento, uma medida muito importante para as famílias e que respeita um dos princípios da Constituição da República: a tendencial gratuitidade do ensino escolar obrigatório. A partir do ano lectivo de 2016/2017 serão distribuídos, pela primeira vez de forma gratuita, os Manuais Escolares a todos os alunos do 1º ano do 1º ciclo; conforme notícia veiculada pelo Jornal Tornado em 13 de Março.
Contudo, no mesmo documento estão previstos aumentos de impostos indirectos, nomeadamente nos combustíveis, veículos, tabaco ou bebidas alcoólicas.
De salientar que na votação estiveram presentes 229 deputados, faltando apenas Paulo Portas.
A versão final do OE 2016 será agora enviada para promulgação do Presidente da República, no máximo, até dia 23 de Março.
A probabilidade das grávidas que contraírem o vírus Zika terem bebés com microcefalia poderá ser de apenas 1%, revela um novo estudo que analisou um surto epidémico daquele vírus, que ocorreu em 2013 e 2014 na Polinésia Francesa, noticia o jornal britânico The Guardian.
A pesquisa, publicada no jornal médico Lancet, é uma prova de que o vírus está relacionado com a microcefalia – uma malformação no cérebro dos fetos, que resulta em anomalias várias e na redução da dimensão da cabeça -, embora em menor escala do que o previsto há alguns meses.
“A nossa análise apoia a hipótese de a infecção pelo vírus Zika durante o primeiro trimestre de gravidez estar associada ao aumento do risco de microcefalia”, disse Simon Cauchemez, co-autor do estudo e especialista do Instituto Pasteur, em Paris.
“Estimámos que o risco de microcefalia foi de uma em cada 100 mulheres infectadas com o Zika durante o primeiro trimestre de gravidez”, apontou o especialista. “As conclusões são do surto de 2013-2014, na Polinésia Francesa, e ainda está por provar se se aplicam a outros países na mesma proporção”, acrescentou Cauchemez.
Risco de malformações provocadas por outros vírus, como a rubéola, é de 50%
O risco calculado com base em modelos matemáticos é, a generalizarem-se estas conclusões, relativamente baixo – 1% -, sobretudo quando comparado com outros vírus, como a rubéola, que tem 50% de probabilidades de causar anomalias nos recém-nascidos de mulheres infectadas no início da gravidez. No entanto, a taxa de ataque do vírus Zika é bastante elevada.
Podem, por isso, ter havido outros co-factores que contribuíram para a multiplicação de casos de microcefalia no Brasil, fenómeno que alertou a Organização Mundial de Saúde. Mas, se as conclusões do estudo da Polinésia Francesa forem aplicáveis, “na América Latina, actualmente, estamos a falar de riscos relativamente baixos que se aplicam a uma grande população de mulheres grávidas”, sustentou o professor Arnaud Fontanet, co-autor do estudo e também especialista do Instituto Pasteur.
A taxa de 1% é mais baixa do que a encontrada noutros estudos, nomeadamente uma pesquisa tornada pública no início do mês, no Rio de Janeiro, que apontava para uma taxa de 29% de risco de microcefalia ou outras malformações congénitas em grávidas infectadas com o Zika.
Hou Hsiao-Hsien, o realizador de ‘A Assassina’, ao TORNADO
Ficámos siderados com ‘A Assassina’ quando o vimos na estreia mundial, em Maio passado, no festival de Cannes, onde Hou Hsiao-Hsien haveria de ganhar o prémio de realização. Contudo, só alguns meses mais tarde haveríamos de o encontrar, em San Sebastian, onde o seu filme figurava numa das secções.
Não perdemos a oportunidade e falámos a sós com aquele que é considerado um dos maiores cineastas do mundo. Naturalmente, uma comunicação que teve de motivar o meu melhor castelhano para transmitir as questões à tradutora que o acompanhava. Nunca saberemos o que foi lost in translation, até porque Hou falava muito e as respostas eram manifestamente mais escassas. Não imaginamos então como seria a resposta satisfatória para nos explicar a forma como foi concebido este universo de perfeito requinte que cristaliza o género wuxia e que nos separa de um hiato de quase dez anos.
Muito para perguntar, pouco tempo para o fazer. Aqui fica a entrevista possível. Apenas com um único senão: o de assumir que não conhecia Manoel de Oliveira. Isto apesar de ter integrado o grupo de realizadores que, em 2007, apresentou o filme de curtas Cada um o seu Cinema. Ter-se-ia perdido na tradução?
Foi um período de dez anos para fazer este projecto. Gostava que me falasse um pouco desse processo e se, de certa forma, pretendia recuperar um pouco o estatuto dos filmes clássicos de artes marciais (wuxia)?
O que sucedeu foi que durante cinco anos encarreguei-me da presidência de dois festivais, em Taiwan – o festival de cinema de Taipei e o festival de Golden Horse, também em Taipei. Durante estes anos estive muito ocupado. Mas tinha muita vontade de fazer um filme, o problema era mesmo o tempo. Quanto a este filme, desde pequeno que me interessava muito os relatos da dinastia Tang, era um tema que me fascinava. Assim que tive tempo livre comecei a trabalhar no guião e a arranjar apoio financeiro. Só que não tinha o tempo para filmar, pois queria dedicar-me ao meu papel que representava nesses dois eventos de modo a que pudessem estabilizar-se.
Gostaria também de perguntar-lhe sobre a sua técnica e se se inspirou nos mestres japoneses clássicos? No fundo, quais foram as suas influências para este filme?
Quando fiz o filme nunca pensei em qualquer tipo de influência. O mais importante para mim era encontrar o equilíbrio entre a imaginação e a realidade. Em primeiro lugar, interessou-nos estudar o contexto realista histórico e social; depois, com a minha equipa comecei a desenhar as cenas, num processo em que participo com opiniões. Por outro lado, a indústria cinematográfica estava repleta de vários filmes populares de artes marciais, bem como os típicos filmes de samurais vindos do Japão. Por isso, a a minha inspiração acabou por residir mais das minhas memórias de infância e dos filmes que eram populares quando comecei a fazer cinema. E dos livros que lia avidamente, penso mesmo que li tudo o que existia no tema. Entretanto, fascinou-me também a história de Nie Yinniang, de Pei Xing. Sempre pensei que um dia faria um filme sobre esta personagem.
Quer explicar-nos a sua razão por detrás da escolha para iniciar o filme com aquele reflexo do passado a preto e branco, para depois explodir naquela assombrosa cor?
O prólogo a preto e branco diz respeito a duas tentativas de assassínio. Sendo que a primeira acontece de forma muito brusca, mas no segundo apercebe-se que está ali uma criança e decide não o concluir, mas acaba por ser advertida. No fundo, são duas tentativas de assassínio que estão muito próximas dos romances originais. Quando o filme passa a cor, passa a ser mais a adaptação do original.
Mesmo tratando-se de um filme de artes marciais, ‘A Assassina’ tem uma humanidade profunda, em detrimento de uma estética acrobática. Foi essa uma decisão que tomou à partida?
É este o meu estilo e a minha forma de fazer o filme. A mim interessa-me um tipo de filme realista e não quero ter personagens que andam a voar pelo filme como se fosse pássaros. Acho que isso não deve acontecer. O filme deve exibir as limitações próprias dos seres humanos. É esse realismo que eu procuro.
Mas não teme que o estilo mais fluido do filme possa não ser compreendido da mesma forma pelos fãs do wuxia?
Eu não faço filmes a pensar no mercado nem a pensar no público. Aliás, isso foi algo que acompanhou toda a minha carreira. Tento encontrar sempre o meu estilo, sem pensar no mercado ou no público ou em imitar o modo tradicional de fazer cinema. Para mim é mais fácil ser eu próprio e seguir o meu próprio estilo.
A actriz Qi Shu tem um trabalho magnífico. Já trabalhou com ela (Três Tempos, 2005) o que me pode falar da sua composição?
A Qi Shu é uma boa amiga e obedece às opiniões do realizador. De início pensei em criar uma protagonista que se escondia nas árvores e matava as pessoas à distância. Mas um dia a Shu subiu a uma árvore e percebi que tinha medo da altura. Por isso decidi optar por outra via.
Depois das primárias de 15 de Março, que aumentaram a vantagem da democrata Hillary Clinton em relação ao seu rival Bernie Sanders, o Democracy Now pediu comentários a três convidados: Geneva Reed-Veal, mãe de Sandra Bland, encontrada morta numa cela da prisão no estado do Texas depois de uma operação stop de trânsito; Nina Turner, ex-senadora do Ohio; e John Nichols, escritor e autor de livros sobre política dos EUA.
Hillary Clinton discursou desta forma perante os seus apoiantes e eleitores: “Não podemos perder o que fez a América grande em primeiro lugar. E não falo só de Donald Trump. Todos temos de fazer a nossa parte. Não podemos apenas falar de desigualdade económica, temos de lutar contra todas as formas de desigualdade e discriminação.”
Já Bernie Sanders (cujo discurso não foi seguido em directo pelas principais televisões norte-americanas, como revela o Democracy Now), disse que, mesmo em democracia, “não é aceitável, independentemente do ponto de vista que tenhamos, que se lancem ataques racistas contra Mexicanos”. “A razão pela qual Donald Trump jamais vai ser eleito presidente é que o povo americano não aceitará insultos contra os mexicanos, muçulmanos ou mulheres. O que Trump quer, o que outros demagogos sempre quiseram, foi fazer das minorias bodes expiatórios, lançar um grupo contra o outro”, acusou.
Geneva Reed-Veal admitiu que a vitória de Clinton foi “esmagadora” e confessou estar entusiasmada, acreditando que está mais próxima a nomeação da ex-primeira-dama para concorrer à Casa Branca. Por sua vez, Nina Turner defendeu Bernie Sanders: lembrou que ele vem de um estado (é senador do Vermont) onde não existe grande diversidade na população, e que quase desde o seu anúncio como pré-candidato à presidência dos EUA, foi como que rejeitado.
“Muito disto tem a vez com a estrutura corporativa dos media, que o afastaram. E por isso não querem que as pessoas ouçam a sua mensagem”, acusou, acrescentando que Sanders e os seus apoiantes ainda não desistiram da luta. “Estamos a ir para o Oeste, onde vamos ver estados que vão ser muito mais competitivos para o senador Bernie Sanders. Mas continuaremos a fazer pressão apesar de tudo. Vamos até ao fim, até à convenção ”.
John Nicols destaca a organização desde as bases da equipa de Sanders, e prevê que nas próximas primárias, o cenário lhe seja mais favorável. O escritor sublinhou que Hillary Clinton é quem vai à frente e que não se pode negar que tenha tido resultados muito bons, mas que ainda não foi escolhida a maioria dos delegados, e que a maioria dos estados ainda não votou; lembra ainda que nos estados onde vão decorrer os próximos caucus, Hillary Clinton não tem tanta simpatia entre o eleitorado, enquanto que Bernie Sanders tem hipótese de acumular mais vitórias.
Geneva Reed-Veal, cuja filha morreu sem explicações claras depois de três dias presa após ter sido detida numa operação stop, revelou que Hillary foi a única que contactou a sua família para saber do que precisavam na altura. Houve um encontro com outras famílias num restaurante em Chicago, “ela veio como Secretária de Estado, como antiga primeira-dama, como mãe e como avó”, descreve a apoiante da candidata. Revela ainda que não foram feitas promessas, apenas se limitou a escrever à medida que as famílias contavam as suas histórias, sem jornalistas por perto.
O facto da candidata presidencial ter-se mantido em contacto com a família de Geneva e de a ter convidado para a Convenção Democrata na Carolina do Sul, onde escutou o desejo de que seja feita justiça no caso da morte da jovem, levou a que a cidadã resolvesse apoiar Clinton. Quanto à morte da jovem, o agente policial que a deteve foi apenas acusado de perjúrio e afastado da corporação; não houve acusação formal de responsabilidade na morte da filha de Geneva, apesar de existirem imagens gravadas do momento da detenção.
Nina Turner assume: “estamos à espera do milagre de Michigan”, aludindo a mais vitórias de Bernie Sanders, que tem simpatia junto do eleitorado dito independente. Declarou o seu apoio ao senador do Vermont, lembrando o seu passado de coerência e de luta por causas que ele considerou justas. Chegou a ser preso por estar ao lado dos afro-americanos na luta pelos direitos civis. Apoiou o reverendo Jesse Jackson quando o Partido Democrata lhe virou as costas, quando em 1988, afirmou que Jackson podia e deveria ser o presidente dos EUA. Mostra defender a causa dos trabalhadores de classe média e baixa e defende um aumento de 15 dólares por hora no salário mínimo do país, para que as pessoas tenham um salário digno para viver. A sua honestidade e integridade, sublinha a comentadora, são a razão pela qual o senador tem o apoio dos eleitores entre os 17 e os 29 anos.
Todos os comentadores concordam numa coisa: falar de Donald Trump é continuar a dar destaque ao polémico candidato republicano, cuja cobertura mediática é tal “que suga o ar da corrida democrata”, acusa John Nichols.
Uma cerimónia pública de inauguração de lojas e cafés, em Tripoli, capital da Líbia, com direito a banda musical para celebrar os cinco anos da revolução, não faz prever o caos em que o país está a mergulhar.
Um artigo do Der Spiegel constata que o país está à beira de uma guerra civil: nesta cerimónia, apenas estão presentes alguns cônsules de países vizinhos, enquanto um carro de topo equipado com tecnologia capaz de anular a detonação de qualquer tipo de explosivos detonados à distância circula perto da comitiva do ministro dos Negócios Estrangeiros da Líbia, Ali Abu Zakouk.
A cerimónia continua, e em simultâneo um operador de câmara da HBO, estação norte-americana, é atacado por operacionais dos serviços secretos líbios, por alegadamente ter filmado o que não devia – um automóvel branco, embora a maioria dos automóveis daquele país tenha aquela cor.
Na verdade, prossegue o Der Spiegel, o país está dividido em dois: o auto-proclamado governo islamista baseado em Tripoli e controlado pela milícia do Amanhecer da Líbia, e o governo reconhecido internacionalmente, liderado pelo General Khalifa Haftar que comanda as Forças Armadas líbias. No meio deste embate, clãs dividem-se, a população também se divide, e florescem as milícias enquanto o Daesh avança.
Esta divisão surgiu depois das eleições ocorridas no verão de 2014, em que o governo declarou os resultados inválidos – os partidos islamistas tiveram resultados fracos. As milícias de ambos os lados enfrentam-se com cada vez mais regularidade: os combates na região de Benghazi terminaram apenas há duas semanas depois do mais poderoso general ter alinhado com Khalifa Hafltar e ter feito recuar as milícias a favor de Tripoli.
O Daesh (auto-denominado Estado Islâmico) tem neste contexto as condições ideais para conquistar mais território. Não só capturaram a cidade de Sirte, onde nasceu Khadafi, como controlam 300 kms da costa líbia, e além disso os dois governos em disputa dificilmente poderão fazer face ao Daesh; a táctica escolhida é de insistir no direito exclusivo de tomar decisões para o próprio território, além de que teriam de garantir aprovação para conseguir que tropas estrangeiras entrassem no país. Isso significaria que ambos os governos teriam de chegar a um acordo para se unirem num só. Pelo contrário, houve já milícias que afirmaram que combateriam tropas americanas caso Washington enviasse tropas para uma operação maciça no país.
Apesar dos dois executivos em conflito terem assinado um plano de paz, sob o patrocínio das Nações Unidas, em Dezembro do ano passado, com vista a formar um governo único, houve um retrocesso nessas intenções. O vice-presidente em Tripoli, Awad Mohammed Abdul-Sadiq recusa-se a aceitar os compromissos previstos no documento. Apesar de tal intransigência, a situação deste governo é frágil.
Os jornalistas da publicação alemã relatam um episódio onde tentaram, via helicóptero, chegar a Sabrata, na costa norte do país. As precauções durante o voo não tinham por objectivo evitar os combatentes do Daesh, mas os do clã Warshefana, conhecidos pela política de raptos e de abater helicópteros com armamento anti-aéreo. Sem terem sido avisados da presença de jornalistas estrangeiros, as sentinelas do aeroporto local obrigam-nos a voltarem para trás, alegando “combates intensos”. O helicóptero regressa, com mais sete civis a bordo, que esperavam uma oportunidade para serem evacuados.
Militares admitiram aos repórteres do Der Spiegel que avisaram dos riscos do avanço do Daesh, “mas nada aconteceu”, e admitem ainda que o exército “está num estado deplorável”. Ambos os governos rivais dizem que, se o outro desaparecer, 80% dos problemas ficam resolvidos.
A cidade de Misrata, que fica entre ambos os adversários é, por agora, partidária do governo de Tripoli, poderá ser a chave para saber quem vai ganhar o conflito. Nesta cidade, a população quer paz para poder prosseguir com os negócios. Mohammed Eltumi, engenheiro e líder do Lybia Business Forum quer expandir o porto da cidade, desenvolver uma zona de comércio livre e ambiciona um novo aeroporto. “Temos um grupo investidor no Koweit que quer gastar aqui 500 milhões de dólares!”, enfatiza à reportagem.
Porém, o caos que reina no país impede os planos de negócio, e enquanto o engenheiro quer levar a economia do país para o século XXI, outros querem que regrida para o século VI: o Daesh ronda a região sobretudo depois de tomar Sirte. Os habitantes da cidade foram sendo ludibriados pelos jihadistas, cujo discurso ao princípio era amigável, conta um refugiado de Sirte que vive agora em Misrata.
“Mais e mais vieram, e subitamente, no fim de Março passado, as coisas mudaram. A rádio local começou a transmitir votos de lealdade ao Daesh e canções religiosas do Iraque. Tomaram o poder e aqueles que resistiram desapareceram, ou tiveram de fugir. Abateram um dos meus filhos e rebentaram as nossas três casas. Mas eu não tenho medo. Só Deus me julgará!”, exclama.
Esta descrição do método de infiltração do Daesh coincide com a praticada em partes da Síria. Os islamistas assassinaram opositores carismáticos e estabeleceram um sistema de apertado controlo que fez com que a resistência local se tornasse impossível.
Outro aspecto comum com a Síria é que também na Líbia o Daesh foi subestimado por muito tempo. Em Misrata, descrevem os enviados do Der Spiegel, as autoridades começam a ver os perigos de terem o Daesh como vizinhos, porém, não têm meios ao seu dispor suficientes para os deter. Os reforços militares podem demorar meses, como confessou um oficial aos repórteres.
O cenário económico do país não é melhor, com a agravante da bancarrota ser um cenário cada vez mais provável, do facto das principais pipelines de combustível terem sido destruídas, de outras terem sido ocupadas pelos clãs rivais –e as negociações são impossíveis. A produção de barris de petróleo no país caiu de 1,7 milhões para 350 mil e ainda continua a cair, apesar de se continuarem a contratar funcionários, para manter os residentes perto das instalações. As reservas de moeda da Líbia estão a ser utilizadas, mas tanto o dinheiro como o tempo estão a esgotar-se.
O Homem que gostava das coisas simples: do Sol. Do calor. Do cheiro da terra. Disse um dia à “Notícias Magazine”: “serei sempre um rural transplantado, sinto-me muito bem no campo”. (2014).
O Homem que não gostava do frio, viu o país despedir-se ainda entre raios de sol. Os presentes diziam que não queriam coscuvilhar. Que não queriam bisbilhotar. Só queriam despedir-se do actor que os entreteve nas noites em que o sol adormeceu. Queriam afinal, dizer adeus àquele que os fez esquecer da chuva, e que entrou pelo pequeno ecrã, mesmo se o frio fosse em demasia.
E afinal Nicolau gostava das coisas simples da vida: “Apanhar sol. Sou capaz de estar horas no monte a apanhar sol. Se não fosse católico, era adorador do sol. O sol é a minha energia. (…) disse à revista Espalha-Factos em 2003 quando falava sobre a felicidade dos pequenos momentos: “ver uma planta a nascer, ver um animal a nascer, são os grandes prazeres da vida.”
O cortejo que saiu da Basílica da Estrela pouco depois das 17 horas, seguiu pelas ruas de Lisboa, passando à frente da última residência do actor, na rua de Buenos Aires.
Entre palmas. Emoção. Saudade. A despedida foi em dia quente. Milhares de pessoas disseram adeus ao homem que consideram grande e generoso, pelas ruas da cidade, pelas avenidas de Lisboa. Dezenas de pessoas esperaram várias horas pela chegada da urna de Nicolau Breyner ao cemitério do Alto de São João, ainda antes das 18 horas. Bateram palmas. Choraram. Acenaram e disseram “até sempre Nico”!
Acaba de sair, aqui em Brasília, uma edição extraordinária do Diário Oficial (equivalente do nosso Diário do Governo) em que se publica já o acto de nomeação do ex-presidente Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, equivalente a primeiro-ministro.
Com esta publicação, Lula readquire foro privilegiado e as investigações que estavam na primeira instância da Lava Jato em Curitiba, no Paraná, passam a ser responsabilidade do Supremo Tribunal Federal, em Brasília.
A pressa em publicar a nomeação revela que existia ao mais alto nível preocupação de que Lula pudesse ser detido a qualquer momento.
Moro acusou o toque e momentos antes dessa publicação, abriu o segredo de justiça, revelando a gravação de um telefonema entre Dilma e Lula, feita hoje pela Polícia Federal, na qual a presidente informa Lula de que lhe vai enviar o documento de nomeação para ele poder utilizar caso seja necessário, isto é, se ainda houver tentativa de o prender.
O país está dividido e a luta política via judiciário e imprensa prossegue, com a oposição a contestar a nomeação de Lula nos tribunais.
Um juiz do Supremo – Gilmar Mendes – conhecido pelo seu desamor ao PT, já se pronunciou, consideração a nomeação de Lula uma “bizarrice” sem paralelo nos anais do país.
A “novela” brasileira, portanto, prossegue, com novos episódios e golpes de teatro praticamente diários – às vezes mais do que um por dia.
O perigo é que os ânimos esquentem e acabem por gerar violência.
Neste momento, convocada pela oposição,decorre uma manifestação em Brasília junto ao palácio do Planalto, temendo-se que possa haver confrontos e até tentativa de invasão das instalações da presidência.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o novo ministro da casa civil do Governo de Dilma Rousseff (PT). A nomeação cria grandes expectativas, positivas e negativas, e responsabilidades maiores ainda: retomar com urgências as bases e ideais que fundaram o partido.
A decisão já estava em curso nas últimas 48 horas, alardeada em blogs e até mesmo na grande imprensa, mas só foi confirmada no final da manhã desta quarta-feira, 16, por interlocutores do Planalto, por lideranças petistas na Câmara e também por fontes ligadas ao ex-presidente.
Depois de mais de sete horas de negociação direta com a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai assumir a Casa Civil no lugar de Jaques Wagner. O presidente do PT, Rui Falcão, anunciou em sua conta no Twitter, que a posse de Lula acontece na próxima terça-feira (22).
A nomeação certamente acirrará os ânimos dos dois grupos que dividem os brasileiros: os que querem Dilma fora já e os que querem barrar o golpismo, que continua intenso. Mas a maioria do povo, que só ocupa as manchetes do noticiário principal quando é vítima de crime ou desgraça climática, parece estar junto com Lula: 1/5 da população está solidamente com o ex-presidente e pouco mais de 1/3 (37%, segundo o Datafolha) o reelegeria, hoje, nas urnas.
Feito notável para um líder que chegou a se tornar um “espectro” na cena atual da política, tratado como morto-vivo pela grande imprensa. Mas, se o espectro se arrastar até 2018, avisa o editorialista Saul Leblon, da Carta Maior, “um jornalismo caricato, de viés obscenamente antipopular, perderá momentaneamente monopólio da mediação com a sociedade . A sorte do país e o destino do seu desenvolvimento ganham uma janela de debate ecumênico.”
A nomeação de Lula como Ministro e os números do Datafolha deixam dois temas para reflexão imediata: os oposicionistas precisam acautelar-se contra a reação popular, que está mais atenta e protegida.
A outra reflexão cabe aos governistas e aos progressistas, que devem, antes que “tarde demais seja”, criar uma “agenda de mergulho urgente e sem volta às periferias e bases populares, de modo a nutrir a hesitação golpista de razões concretas para temer a rua”, nas palavras de Saul Leblon.
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