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Sexta-feira, Junho 27, 2025
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Timor-Leste, CPLP, ASEAN e a visita do Primeiro Ministro de Portugal

Na tarde de 25 de Julho de 2023 o Primeiro Ministro de Portugal receberá os seus convidados na Embaixada de Portugal em Díli. Tudo está a acontecer após a constituição do novo governo em Timor-Leste chefiado por Kay Rala Xanana Gusmão.

Durante a sua estadia neste país da CPLP, para além das fotos de família para relembrar os laços históricos e amistosos que unem Portugal e Timor-Leste, um dos assuntos que estará na mesa das negociações, certamente, será o ensino da língua portuguesa em Timor-Leste.

As palavras de Kay Rala Xanana Gusmão proferidas no acto de posse do IX Governo Constitucional de Timor-Leste, na qualidade de Primeiro Ministro, em defesa da língua portuguesa, demonstram que o novo Governo pretende tomar diversas medidas estratégicas para (finalmente) se consolidar e desenvolver a língua portuguesa em todo o território nacional.

O que todos sabemos, factos que não podem nem devem ser ignorados, nem camuflados, é que a maioria dos deputados, jornalistas, funcionários públicos, professores de todos os níveis de ensino, advogados (!), etc., não dominam a língua portuguesa, aliás, alguns pouco ou nada sabem da língua lusófona.

De facto, a maioria ou mesmo todos falam fluentemente Tétum e Bahasa indonésia, mas, não falam português, apesar de ser uma das línguas oficiais do país, portanto, tal como referiu (e muito bem!) o líder histórico da resistência, algo terá que ser feito!

O que irá fazer o IX Governo Constitucional, nomeadamente em relação às políticas curriculares, o público (ainda) não sabe, tão pouco foi anunciado no Programa de Governo aprovado por unanimidade no Parlamento Nacional.

O cerne da questão é perceber qual é a estratégia sobre as políticas linguísticas, ou melhor dizendo, compreender a estratégia do projecto e a sua operacionalização nas escolas, nas repartições públicas, nos meios de comunicação social, nos manuais escolares e no Parlamento Nacional, entre outras entidades.

Sobre os Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), para já, só há conhecimento público de que a Coordenadora Timorense, Antonieta de Jesus, foi demitida pela actual ministra da educação, tendo-se criado a expectativa de saber se a pessoa que virá está tão próxima da língua portuguesa como estava a antecessora.

 

Decisão participada: o que fazer, como fazer e quando fazer

Entretanto o IX Governo aludiu que irá proceder a estudos de avaliação financeira necessários para iniciar o processo que tem como finalidade multiplicar os CAFE (Centro de Aprendizagem e Formação Escolar) por todo o país, uma excelente notícia que devemos aplaudir e incentivar, e outras acções e medidas conducentes à resolução do problema da implantação da língua portuguesa em Timor-Leste.

No processo informativo também ficou a dúvida sobre se esses estudos serão realizados exclusivamente por Timor-Leste, sem a participação de Portugal, apesar de ser parte envolvida no projecto.

Na minha opinião, obviamente, até numa perspectiva de aproveitamento de sinergias, mas fundamentalmente pelo facto de Portugal ter cofinanciado o projecto dos CAFE, como parte parceira do projecto, terá que estar envolvido no estudo anunciado.

Mais do que isso, sobre a língua portuguesa em Timor-Leste, e no caso dos CAFE em especial, precisa-se de uma tomada de decisão participada, com todos os protagonistas do processo (Timor-Leste e Portugal) porque há uma preocupação generalizada relacionada com a trilogia, o que fazer, como fazer e quando fazer.

 

A ASEAN, o inglês e o bahasa indonésia

Um outro aspecto problemático que está a suceder recentemente e a confundir algumas mentes e acima de tudo a atrapalhar o desenvolvimento do processo da língua portuguesa em Timor-Leste é a anunciada provável adesão de Timor-Leste à Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN).

Considero que a entrada formal de Timor-Leste na ASEAN é muito importante, tratando-se de um processo quase irreversível, mas, o país (ainda) não está preparado, pelo facto dos diplomados pelas universidades do país não possuírem as competências necessárias e suficientes, pelo facto de apresentarmos sérias debilidades nos sectores económico e produtivo e por outras tantas razões que devido à economia de espaço não vou aqui mencionar, claro está, a impreparação do país não impede que o trabalho diplomático prossiga por parte de Timor-Leste (e de Portugal), como está a acontecer.

Ainda sobre este dossier da ASEAN, também temos que admitir, as agências internacionais e alguns países, é notório, aproveitam-se da situação para tentarem convencer os decisores políticos a estimular a “massificação” da língua inglesa e do bahasa indonésia, ignorando, conforme está determinado na Constituição da República que são apenas línguas de trabalho. As consequências destas acções são muito nefastas em todo o processo, interferindo de diversas formas, ao nível da língua de ensino, nomeadamente, no ensino superior.

Um outro obstáculo ao ensino do português em Timor-Leste está relacionado com o processo de construção de manuais escolares, havendo rumores de que a UNESCO terá fabricado perto de 2 milhões de manuais escolares, na sua maioria em tétum, alguns em línguas nacionais, e poucos em língua portuguesa.

A ser verdade que a UNESCO ou outra agência internacional orientou para que fossem feitos 2 milhões de manuais escolares em língua tétum, então, algo vai errado no que diz respeito ao esforço para a consolidação e desenvolvimento de língua portuguesa.

Sobre esta matéria já o referi, e repito, a língua de ensino em todos os níveis (Pré-Escolar, Básico, Secundário e Superior) deveria ser exclusivamente a língua portuguesa.  A língua tétum e as nacionais poderiam ser usadas para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, tal como acontece em Cabo Verde.

Note-se, em relação ao inglês, o país deve, naturalmente, ensinar a língua inglesa, como se faz em todo o mundo não anglófono, com a abertura de cursos de inglês para funcionários diplomáticos e nas universidades, entre outras instituições, mas nunca ser introduzido no currículo escolar do ensino básico e secundário de forma análoga às línguas da constituição, portanto, retirando a necessária carga horária do português na medida em que o inglês e o bahasa indonésia são línguas de trabalho.

 

Sobre o apoio da CPLP a Timor-Leste: do passado ao presente

Há 27 anos, no âmbito das minhas habituais visitas às embaixadas dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) acreditadas em Portugal e nos EUA para abordar a questão de Timor-Leste, tive um encontro, em Lisboa, com o então Secretário-Executivo da CPLP, Marcolino Moco, ex-Primeiro Ministro de Angola.

Nota da Agência Lusa, em Outubro de 1996 (Arquivo PST)

Nessa reunião testemunhei pelas palavras do Secretário-Executivo da CPLP o inquestionável apoio da CPLP à causa de Timor-Leste.

É justo afirmar que os PALOP se mantiveram firmes em relação à autodeterminação e independência de Timor-Leste. Também é justo referir que Angola, sei de fonte fidedigna, financiou a Resistência Timorense.

Mas, Moçambique também apoiou diplomática e financeiramente a FRETILIN, na altura desempenhavam funções com estatuto diplomático, Mari Alkatiri e José Ramos-Horta, entre outros, portanto, o carinho e a entrega destes países à causa de Timor-Leste foram essenciais para a luta de libertação nacional.

Outrossim, os diplomatas de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe, com quem falei por diversas vezes em Nova Iorque no quadro das reuniões do Comité de Descolonização das Nações Unidas, através das suas Missões Diplomáticas junto da ONU, sempre se mantiveram firmes na defesa intransigente do direito do povo timorense à autodeterminação e independência.

Portanto, no passado, o apoio da CPLP a Timor-Leste foi evidente e é do conhecimento público.

António Costa, Primeiro Ministro de Portugal

É de elementar justiça reconhecer que Portugal tem desempenhado um papel muito activo em Timor-Leste, com a construção da Escola Portuguesa de Díli, com a implantação dos CAFE, entre outras acções e actividades, sendo certo que a actual vinda do Primeiro Ministro de Portugal a Timor-Leste é outra evidência.

O Brasil, para além da oferta de bolsas de estudo para as suas universidades, recentemente, apresentou o projecto de criação de uma Escola Superior de Educação, construída de raiz, uma excelente ideia que vai ao encontro das propostas do Partido Socialista de Timor (PST).

Os países dos PALOP possuem formadores de professores qualificados que também podem apoiar este processo de consolidação e desenvolvimento da língua portuguesa em Timor-Leste.

A Guiné-Equatorial, após uma etapa de formação de professores, quando ninguém estava à espera, tomou a decisão de introduzir como língua de ensino, a partir de 2024, a língua portuguesa.

Perante estas vontades expressas de apoio a Timor-Leste que mencionei, e outras mais, na medida em que todos os países lusófonos terão a ganhar, o que é que está a ser feito para que a CPLP, de forma participada, proceda à concepção de um plano de acção conjunto e sustentável que promova, consolide e desenvolva a língua portuguesa em Timor-Leste?

Desafios da ADSE

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As dificuldades e os desafios que enfrenta a ADSE, e alertas aos beneficiários sobre o futuro da ADSE: uma informação aos 1,3 milhões de beneficiários e a todos que se interessam em conhecer a verdade sobre a ADSE

Até quando o Brasil vai suportar a desigualdade e a violência de gênero?

O 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apresenta dados assustadores sobre o crescimento da violência de gênero, em todos os níveis, no país. Com dados das secretarias de Segurança Pública dos estados – nem todos mandam as informações –, o Anuário traz à tona o desfecho do governo mais insano que o país já teve; a começar pelo crescimento vertiginoso dos casos registrados de estupro.

Em 2022, 74.930 mulheres e meninas – mais estas do que aquelas – foram vítimas desse crime hediondo; índice 8,2% superior aos registrados em 2021.

“Não espanta o crescimento de crimes contra as mulheres porque tínhamos um governo insuflando o ódio, a perseguição às mulheres e aos LGBTQIA+ e a violência de gênero o tempo todo”, diz Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

E isso porque “um presidente afirmar que mulher merece ganhar menos porque engravida, é uma desumanidade”, além de “dizer que pintou um clima com meninas de 13, 14, 15 anos, uma total insanidade”.

A situação virou um caos porque, de acordo com o FBSP, “apenas 8,5% dos estupros no Brasil são reportados às polícias e 4,2% pelos sistemas de informação da saúde. Assim, conforme a estimativa, o patamar de casos de estupro no Brasil é de 822 mil casos anuais”, quase um milhão de meninas e mulheres.

No ano passado 1.437 mulheres foram mortas por sua condição de gênero – feminicídios –, 6,1% a mais do que em 2021, sendo que 53,6% dos assassinos eram parceiros íntimos das vítimas. E 4.034 mulheres foram assassinadas em outras situações.

Crianças são as maiores vítimas

“A sociedade brasileira se mostra perversa nos maus-tratos de crianças e adolescentes”, afirma Berenice Darc, secretária de Relações de Gênero da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Ela se refere ao fato de que 61,4% das vítimas dos estupros registrados no ano passado tinham no máximo 13 anos. E que 86,1% dos criminosos eram pessoas conhecidas das vítimas e 64,4% familiares. Ou seja, “O perigo mora junto com as vítimas”, reforça Berenice.

Por isso, Francisca Pereira da Rocha Seixas – a Professora Francisca –, diretora da Secretaria de Assuntos Educacionais e Culturais da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e secretária de Saúde da CNTE, defende aulas de educação sexual e debate das questões de gênero nas escolas.

“Respeitando as faixas etárias, as escolas devem ter profissionais capacitados para falar sobre gênero e sexo, sem pedantismo e sem medo” para “as crianças e adolescentes saberem identificar o abuso e terem um canal para denunciar o abusador”.

Para a Professora Francisca, “a escola tem papel aglutinador e fundamental para envolver toda a sociedade nesse necessário debate e com apoio dos ministérios das Mulheres, dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial, da Saúde e da Educação escancarar essa violência que nos desumaniza”.

Até porque, segundo o Anuário, “é comum ouvir relatos de profissionais de educação, ou mesmo de policiais, que indicam que foi o professor ou a professora que notou diferenças no comportamento da criança e primeiro soube do abuso”.

Assédio e importunação sexual são crimes

Também cresceu o número de assédio sexual, com 6.114 notificações, 49,7% a mais do que em 2021. Além disso, no ano passado, foram registradas 27.530 importunações sexuais, 37% a mais do que em 2021. A importunação sexual, desde 2018, já é tipificada como crime pelo Supremo Tribunal Federal.

Violência doméstica aumenta

Mesmo com o fim da pandemia, a violência doméstica segue pandêmica. Foram notificadas 245.713 agressões no ambiente doméstico, no ano passado, 2,9% a mais do que em 2021. Além de 613.529 ameaças, número 7,2% superior ao do ano anterior e 899.485 chamadas ao 190 (número da Polícia Militar) ou 8,7% a mais do que em 2021.

“Todos esses números nos remetem à intensa necessidade do fortalecimento das políticas públicas contra a discriminação de gênero e principalmente contra a violência de gênero, aconteça onde aconteça”, acentua Gleicy Blank, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB-ES.

Os dados desse Anuário são reveladores, mas “com o fim do desgoverno Bolsonaro e o empoderamento da atuação das mulheres no governo e na sociedade nos leva a crer que esses números terríveis devem cair, ainda mais com o fim da impunidade”, declara Celina. Porque “acabar com a violência de gênero deve ser prioridade absoluta”.


Texto em português do Brasil

Nada de novo no Banco Mundial

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Teve lugar há pouco mais de um mês a substituição efectiva de David Malpass por Ajay Banga como presidente do Banco Mundial. Esta troca ocorreu um ano antes da data prevista e tudo se terá ficado a dever a uma falta de concordância com a administração Biden no sentido de acelerar as reformas destinadas a mudar a forma como o Banco Mundial opera para garantir maiores empréstimos para combater a mudança climática e outros desafios globais.

Recorde-se que David Maplass, ex-economista-chefe do Bear Stern (banco comprado pelo JP Morgan em 2008) e ex-subsecretário de estado do Tesouro na administração Trump, foi por este escolhido para a presidência do Banco Mundial, lugar onde vinha a ser contestado pela polémica gerada em torno do não reconhecimento do papel dos combustíveis fósseis na crise climática.

Tal como o antecessor, o novo presidente do Banco Mundial também é originário de Wall Street, tendo sido CEO da Mastercard, do Citigroup Asia Pacific e vice-presidente da General Atlantic, uma importante empresa de private equity (gestão de fortunas), além de ser membro da Comissão Trilateral e do Council on Foreign Relations (confirmável aqui, seguindo o link, e aqui), currículo que o qualifica para a função e assegura que pouco ou nada mudará na direcção do Banco Mundial.

Recorde-se que esta instituição foi criada, tal como o Fundo Monetário Internacional (FMI) na sequência da Conferência de Bretton Woods (sobre esta Conferência e o Acordo que dela resultou ver o artigo O ESGOTAMENTO DE BRETTON WOODS aqui no TORNADO) que definiu, ainda antes de terminar a guerra, os contornos da economia mundial no pós-guerra, assegurou a preponderância do dólar norte-americano como moeda internacional de pagamentos e criou dois organismos – o FMI e o Banco Mundial – para garantirem as condições de financiamento (o primeiro para as necessidades de tesouraria ou curto-prazo e o segundo para as de investimento ou médio/longo prazo), algo em que falharam completamente.

Como o tempo tem demonstrado, as restrições e as condições impostas aos empréstimos do FMI e do Banco Mundial – orientadas para obrigar os países a adoptarem políticas económicas neoliberais (privatizações, desregulamentação, reduções de tarifas e cortes nos serviços sociais) que contribuem enormemente para o aumento da desigualdade na distribuição da riqueza, a par com os princípios do ajustamento estrutural (nome pomposo para designar a fragmentação e a fragilização dos tecidos económicos e sociais dos países sujeitos àquelas intervenções) – e a necessidade do seu rápido reembolso, fortemente penalizadora de uma consolidação económica de longo prazo e contínua fomentadora de novos endividamentos, são o oposto do principio gizado em 1944, em Bretton Woods, onde era atribuído ao FMI a função de apoiar a reconstrução do sistema monetário internacional, deixando ao Banco Mundial a função de erradicar a pobreza extrema e a construção de uma prosperidade geral partilhada.

Talvez esta deriva neoliberal tivesse sido menos fácil se tivesse vingado a proposta defendida em Bretton Woods pelo inglês John Maynard Keynes, que preconizou a criação de uma moeda de reserva internacional, em lugar do uso do dólar norte-americano, e uma maior regulamentação para o comércio mundial, o que talvez pudesse ter criado uma ordem económica mundial mais equitativa do que a que surgiu, mas garantidamente menos favorável aos interesses norte-americanos.

A opção escolhida, defendida pelo alto representante norte americano Harry Dexter White, explica cabalmente que os sucessivos responsáveis por estes organismos sejam invariavelmente oriundos da “fileira Wall Street” e essa característica seja exibida como principal factor diferenciador para uma escolha que se deveria orientar por outros critérios que não os da estrita obediência à cartilha neoliberal ou o dos lucros alcançados mediante o recurso a técnicas puramente especulativas.

Não se estranhe por isso que o FMI e o Banco Mundial estejam a ser lentamente substituídos por instituições de crédito chinesas – nomeadamente o Banco de Investimento Asiático para as Infra-estruturas (sobre o AIIB, ver o artigo YUAN VERSUS DÓLAR aqui no TORNADO), criado em resposta à iniciativa ocidental de impedir o aumento da influência chinesa nas grandes instituições financeiras mundiais –, menos monolíticas e que por enquanto não estarão a impor as mesmas restrições nas suas linhas de crédito, política que estará a levar muitos dos países em vias de desenvolvimento a procurarem o AIIB em alternativa aos tradicionais FMI e Banco Mundial e a contribuir para o sentimento de fragilidade e insegurança norte-americano a que a administração Biden procura responder com o agravamento das tensões político-militares com Pequim.

25 de julho: combater o racismo e o sexismo é essencial para qualquer mudança

O 25 de julho foi determinado como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha em 1992,no 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, para a humanidade refletir sobre como construir uma sociedade sem racismo e sem sexismo.

Essa mesma data foi instituída no Brasil como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 2014, em homenagem à importante líder da luta antiescravista no país, no século 18, em Mato Grosso.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres negras representam 28% e os negros e pardos constituem 56% da população. Então, como construir um país sem racismo e sexismo, numa sociedade machista e racista como a brasileira?

Para Lucimara Cruz, secretária da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “além do retorno do Ministério da Igualdade Racial, a escola tem um papel fundamental com aplicação da Lei 10.639/2003 e com o ensino da história das negras e negros brasileiros criarmos uma identificação com a maioria da população que é negra”.

Isso porque as manifestações racistas cresceram no país nos últimos anos. De acordo com o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado foram 2.458 ocorrências registradas, 67% a mais do que em 2021 quando ocorreram 1.464 registros.

Ainda segundo o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 56,8% das 74.930 vítimas de estupro, em 2022, foram as mulheres negras. Em 2021, elas representavam 52,2%. “Esses dados fortalecem a necessidade de um amplo trabalho de combate à dupla violência enfrentada pelas mulheres negras”, acentua Lucimara.

Já Raimunda Leone, secretária-adjunta da Igualdade Racial da CTB, defende que “para combater as violências em relação às mulheres negras, é preciso combater as desigualdades sociais, junto às discriminações de raça e gênero” porque “o racismo e o machismo são formas de opressão para impedir que as mulheres negras tenham melhores condições de vida.”

Fato comprovado pelo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ao mostrar que o desemprego entre as mulheres negras foi o dobro do que entre os homens brancos, em 2021. Além da população branca ganhar 68% a mais do que os negros, em 2019, aponta o IBGE.

Enquanto um estudo do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), mostra que 41,5% das mulheres negras estavam subutilizadas no mercado de trabalho em 2021, enquanto a subutilização entre os homens brancos era de 18%.

Raimunda destaca também a estratégia do capitalismo em “dividir a classe trabalhadora, fomentando a divisão sexual e racial do trabalho”. Lucimara afirma que “a mentalidade escravocrata permanece em parte da sociedade e o capitalismo se apropria disso para aprofundar o sentimento de rivalidade e exclusão”.

Sentimento visto no número de letalidade policial averiguado pelo 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Porque as polícias do Brasil mataram 6.430 pessoas em serviço ou em folga no ano passado, ou 17 mortes por dia. Sendo que 44,5% das vítimas eram jovens de até 17 anos ou 7 jovens por dia, sendo 5 de jovens negros, 85,1% dessa faixa etária.

Até porque a política de segurança pública permanece a mesma do período da ditadura de 1964. “Nem a Constituição de 1988 criou uma nova Política Nacional de Segurança Pública e quem sofre na alma são as mães negras que perdem seus filhos para o braço armado do Estado”, afirma Lucimara.

Mas a violência é mais abrangente do que os crimes letais que causam grande sofrimento às mães negras. Como mostra estudo do IBGE. A taxa de desemprego no segundo trimestre de 2022 foi de 9,3%, já entre as mulheres negras a desocupação foi de 13,9%, as mulheres brancas representavam 8,9%, os homens negros 8,7% e os homens brancos eram 6,1% entre os desempregados.

Além disso, o racismo e o sexismo são comprovados pela média salarial. No segundo trimestre de 2022, os homens brancos receberam em média R$ 3.708, as mulheres brancas R$ 2.774, as mulheres negras receberam, R$ 1.715, e os homens negros, R$ 2.142. As mulheres negras receberam 53,7% a menos do que os homens brancos, nesse período.

“Para mudar essa realidade, é necessário criar políticas de inserção das mulheres negras na sociedade para criar condições de oportunidades iguais no mundo do trabalho, na educação e em todos os setores da vida”, realça Raimunda.

Lucimara acredita que para “a luta contra o racismo e com o sexismo – essa dupla violência que as mulheres negras enfrentam diariamente – fazem do dia 25 de julho, mais um dia fundamental no calendário de lutas por uma sociedade mais justa e igual, onde as mulheres possam viver e amar sem medo.”


Texto em português do Brasil

Temperatura, umidade e radiação ameaçam saúde do trabalhador

Estresse térmico ocupacional, causado por temperatura, umidade e radiação ameaça saúde dos trabalhadores e tem se tornado um problema crescente no ambiente de trabalho.

Cabo Verde e Timor-Leste em cooperação académica e científica

A grande finalidade é desenvolver a cooperação académica e científica entre Cabo Verde e Timor-Leste através da colaboração entre a Universidade de Díli e a Universidade do Mindelo.

O acordo de cooperação celebrado no Mindelo – São Vicente entre a Universidade de Díli (Timor-Leste) e a Universidade do Mindelo (Cabo Verde), na opinião dos subscritores, tem como objectivo:

Estabelecer as condições gerais de cooperação entre a Universidade do Mindelo (UM) e a Universidade de Díli (UNDIL) numa perspectiva de aproveitamento de sinergias no âmbito da cooperação académica e cultural no plano do ensino e da investigação científica.

No quadro deste Acordo de Cooperação, a Universidade do Mindelo e a Universidade de Díli, acordam em realizar, através de acordos específicos, as seguintes actividades:

  • Organizar conferências, cursos de graduação e de pós-graduação, seminários, congressos e outros eventos que se revelem de interesse mútuo;
  • Promover a mobilidade de docentes, de discentes, de investigadores e de técnicos e administrativos entre as duas universidades;
  • Criar grupos de investigação entre as duas universidades para proporcionar investigação multicêntrica em qualquer área do conhecimento mas especialmente no domínio das ciências da saúde;
  • Qualquer outra actividade decidida pelas duas universidades.
Da Esqª para a Dtaª: Francisco da Silva (UNDIL) e Albertino da Graça (UM)

O Acordo de Cooperação entre a Universidade de Díli e a Universidade do Mindelo foi assinado em 6 de Maio deste ano, na cidade do Mindelo (São Vicente, Cabo Verde) e o processo de operacionalização do protocolo está agora a ter início com a indicação do nome das duas pessoas de cada universidade que irão interagir para facilitar o diálogo e a cooperação.

Uma das prioridades da Universidade de Díli, segundo M. Azancot de Menezes, Pró-Reitor da Área de Investigação, Pós-Graduação e Cooperação com a CPLP, é o campo das Ciências da Saúde, através da criação de Grupos de Pesquisa e da abertura de Cursos de Pós-Graduação.

Mário Centeno… e uma enorme insensibilidade social

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Mário Centeno que ganha 33,6% mais do que o presidente do FED dos E.U.A. (Reserva Federal, o banco central dos Estados Unidos da América: Centeno 17476€/mês, Powell 13082€/mês,14 meses) na entrevista dada à RTP3 revelou uma grande pobreza intelectual, ignorância económica e uma enorme insensibilidade social

Cartilha da Contag sobre o ECA debate os direitos das crianças e adolescentes

Para comemorar o aniversário de 33 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) lançou em 13 de julho a cartilha Construindo um Diálogo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente porque nesse dia em 1990, o ECA era aprovado.

Tornando-se referência mundial em legislação que versa sobre os direitos de crianças e adolescentes, “o ECA tem uma importância fundamental para a vida das brasileiras e brasileiros dessa faixa etária, mas não foi efetivado ainda na prática”, afirma Edjane Rodrigues, secretária de Políticas Sociais da Contag e responsável pela cartilha.

Ela justifica a sua visão de forma contundente ao dizer que “basta olhar, por exemplo, a quantidade de crianças em situação de trabalho infantil”, além “dos recorrentes abusos sofridos por crianças e adolescentes”, acentua.

De acordo dom Edjane, o objetivo da Contag com essa cartilha “é resgatar e reconhecer o ECA como um instrumento que materializa o que diz o artigo 227 da Constituição Federal” (veja abaixo o que diz o artigo).

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

Por isso, diz ela, “enquanto tivermos crianças e adolescentes fora da escola, sem o direito de brincar, sem acesso à saúde e tendo a sua vida violentada”, o movimento sindical pode e deve “denunciar todas as formas de violência contra essa parcela da população”, assim como deve “incentivar o enfrentamento e propor políticas que visem assegurar vida saudável às crianças e adolescentes em todos os níveis”.

Leia a cartilha na íntegra


Texto em português do Brasil

De mente aberta

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Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura…

Este trecho de um poema de “O Guardador de Rebanhos”, de Fernando Pessoa (mais correctamente do seu heterónimo Alberto Caeiro) deveria constituir o mote para a forma como olhamos o Mundo que nos rodeia, seja na vertente económica (aquela que tanto condiciona o nosso dia-a-dia) ou na geopolítica (cuja relevância é cada vez mais perceptível), mas especialmente para a forma como processamos todo o tipo de informação disponível.

Por mais complexa e multifacetada que seja a natureza humana, a habilidade de ler e interpretar a informação que nos chega está em claro declínio, tanto quanto está em perigo o jornalismo independente. Pelo menos é isso que concluiu um estudo da UNESCO, que não deixa de frisar a existência de novas leis e políticas que restringem a liberdade de expressão online.

É que se a disseminação quase instantânea de informações, possibilitada pela Internet, derrubou barreiras geográficas de forma inédita e o recurso a IA e o surpreendente progresso que trouxe ao processo de tradução automática deveriam ter criado um imenso fórum de debate e circulação de ideias, a dura realidade mostra que as grandes empresas tecnológicas (que juntam os gigantes Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, que são também conhecidas pelo acrónimo GAFAM) e os algoritmos que desenvolveram com objectivos puramente comerciais e de lucro condicionam dramaticamente a liberdade de informação e definem claramente uma tendência de limite à comunicação que já extravasa do espaço digital para a interacção social no mundo físico e a uma velocidade equivalente; se não, vejamos: mediaram cerca de 100 anos entre a invenção da imprensa por Gutenberg e a criação do sistema sensório do “index librorum proibitorum”, oficializado pelo Concílio de Trento em 1545, mas bastaram 20 anos para a criação de um sistema de censura sobre a Internet que, sob a batuta dos Zuckerbergs, Musks e afins, a pretexto do politicamente correcto ou outro qualquer, está a silenciar o imenso manancial de informação que aquela prometia ser, graças à reorientação dos motores de busca para as fontes mainstream, e a transformá-la num mero eco da voz do dono.

Um sistema de informação verdadeiramente digno desse nome deveria implicar rigor na busca dessa pluralidade e diversidade de pontos de vista, o que exige uma vigilância redobrada quando as ferramentas que a deveriam difundir se transformam em armadilhas e em modernas formas de censura.

Com a crise sistémica global iniciada em 2008, ainda em fase de resolução e a atravessar sobressaltos, como o da recente falência do Silicon Valley Bank ou o fim do Credit Suisse, enquanto persistem fundadas dúvidas sobre as soluções mais viáveis, o controlo e o enviesamento da informação estarão a condicionar a formação da ideia de um colapso global que poderá não ser mais que a perspectiva ocidental da própria tibieza das suas “soluções”. Na realidade, no resto do mundo, o optimismo e os projetos concretos estarão já a desenhar a sociedade do futuro e as alternativas estarão a ser construídas e a fortalecerem-se, enquanto na generalidade do Ocidente se continua preso num passado tóxico ou, pior, a imaginar um futuro fantasioso, muito por responsabilidade de uma comunicação social amorfa e acrítica, cujos exemplos abundam, bastando recordar o que há uma década foi dito e escrito sobre a crise das dívidas soberanas ou até a simples leitura das “notícias” e “comentários” sobre a situação ucraniana, para disso dar nota.

A vulgarização da ideia de uma “crise de soluções” que grassa no Ocidente, se baseia essencialmente na percepção de um decrescimento económico que os ideólogos e analistas mainstream não querem reconhecer como consequência daquela crise sistémica por aparentemente esta realidade contradizer a teoria vigente e eles de modo algum poderem admitir o fracasso do modelo de consumo (cujos vínculos com o modelo de produção condicionam o nosso quotidiano e a nossa relação com a natureza) que tem alicerçado o crescimento económico desde meados do século passado, mas que actualmente se revela tolhido entre os avanços tecnológicos e as convulsões políticas, sociais e económicas, precisamente na fase em que o mercado global se expandiu para incluir economias emergentes, lideradas pela China e pela Índia, onde o padrão de vida de grande parte das suas populações se aproximou do dos países mais ricos, mas é um erro pensar que esse desenvolvimento será tão linear como o que o Ocidente conheceu no último século, porque as necessidades e as aspirações dessas diferentes populações não são as mesmas, e o modelo ocidental de globalização está ultrapassado e deixou de ser o eldorado como imaginamos.

Aniversário de Stonewall: capitalismo arco-íris ou libertação LGBTQ?

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O brinde corporativo com o brasão do arco-íris foi encomendado, os funcionários gays e lésbicas despacharam para Nova York. Os carros alegóricos estão todos projetados e construídos, prontos para rolar pela Quinta Avenida – outdoors coloridos anunciando o quanto amigáveis aos LGTB são esses dias a T-Mobile, MasterCard, TD Bank, Delta Airlines e outros patrocinadores.

Garotos musculosos, celebridades drag-queens, e famílias “não convencionais” vão preencher as ruas, enquanto até quatro milhões de pessoas vão saudá-los pelo caminho. Políticos estarão na mão, fornecendo suas credenciais progressistas. E o Departamento de Polícia de Nova York promete manter todos seguros e assegurar que todos se divirtam.

Cinquenta anos atrás, em 28 de junho de 1969, quando um bar chamado Stonewall Inn, no Greenwich Village, se tornou o marco zero para o movimento dos direitos dos gays moderno, não havia, é claro, patrocinadores corporativos. Não havia aliados políticos em posições de poder. E, ao invés de manter as pessoas seguras, os policiais estavam batendo nelas e as assediando.

Essa foi a noite em que um bando de bichas fartos se levantou, revidou, e lançou uma luta de libertação que transformou o mundo. Com profissionais do sexo trans negras e latinas e drag-queens na vanguarda, os patronos do Stonewall – e muito da vizinhança de Christopher Street – declararam que eles não iam mais se submeter a inspeções genitais, prisões e agressões, que eram regularmente dispensados pelo “Esquadrão da Moral Pública” do Departamento de Polícia de Nova York corrompido pela máfia.

A confrontação que começou no bar se espalhou pelas ruas, com batalhas travadas por várias noites. O primeiro orgulho foi, literalmente, uma revolta.

Libertação gay

Houve rajadas de ativismo gay antes de Stonewall, mas o que o separa foi a mobilização sustentada e politicamente consciente que veio em seu rastro. Um movimento militante surgiu do que pareceu ser uma revolta puramente espontânea. Mas, em muitas maneiras, o tempo era simplesmente certo para uma luta de libertação gay.

Nos anos de 1960, a Revolução dos Direitos Civis dos afro-americanos estava conquistando grandes vitórias, as mulheres estavam exigindo igualdade, e o pequeno país do Vietnã estava lutando pela sobrevivência contra a maior potência imperialista do mundo. Os oprimidos estavam em movimento em todos os lugares – o Stonewall Inn foi onde os gays se juntaram para lutar.

Nos dias que seguiram imediatamente às revoltas de Stonewall, a Frente de Libertação Gay apareceu em cena, seu nome é um tributo deliberado a Frente Nacional de Libertação Sul-Vietnamita. A nova Frente de Libertação Gay não se restringiu apenas a lutar contra a homofobia e a discriminação – ela teve como alvo todo o sistema capitalista e imperialista, junto com todas as suas regras sexuais e de gênero. Seu objetivo era nada menos que a criação de uma nova sociedade. Os ativistas da Frente de Libertação Gay declararam:

“Nós somos um grupo homossexual revolucionário de homens e mulheres com a realização de que a completa libertação sexual para todos não pode vir a não ser que as instituições sociais existentes sejam abolidas. Nós rejeitamos a tentativa da sociedade de impor papéis sexuais e definições de nossa natureza. Nós estamos saindo desses papéis e mitos simplistas. Nós vamos ser quem nós somos. Ao mesmo tempo, nós estamos criando novas relações e formas sociais, que são relações baseadas em fraternidade, cooperação, amor humano, e sexualidade desinibida… nós nos identificamos com todos os oprimidos: a luta vietnamita, o terceiro mundo, os negros, os trabalhadores… todos aqueles oprimidos por essa conspiração capitalista podre, suja, vil e fodida.

O fogo e a ferocidade de seu chamado por solidariedade lembraram as palavras do marxista revolucionário V. I. Lênin, que tinha dito que “a consciência da classe trabalhadora não pode ser genuína consciência política a menos que os trabalhadores sejam treinados a responder a todos os casos de tirania, opressão, violência, e abuso, não importa que classe seja afetada”.

Os paralelos entre a declaração da Frente de Libertação Gay e a teoria marxista são compreensíveis, quando você olha para sua pré-história. O primeiro grupo de direitos gay dos EUA, o Mattachine Society, foi fundado por ativistas que tiveram o seu treinamento político e ideológico no Partido Comunista dos EUA, nos anos de 1930 e 1940. Eles eram liderados por Harry Hay, um membro do Partido Comunista da Califórnia forçado para fora do partido durante os dias do Medo Vermelho de McCarthy, de chantagem e supressão.

Na época do Stonewall, o Mattachine tinha se tornado um protótipo de terno e gravata para a respeitabilidade homossexual de classe média. A perspectiva revolucionária de Hay e dos membros iniciais ligados aos comunistas do Mattachine tinham revivido na Frente de Libertação Gay e outras organizações, contudo, e injetados com uma enorme dose de militância jovem.

Dúzias de seções da Frente de Libertação Gay apareceram nos EUA e outros países. Foram lançadas campanhas contra meios de comunicação anti-gay, com protestos na parte de fora de escritórios de muitos grandes jornais. Protestos anuais comemorando o Stonewall foram organizados, para exigir a transformação social e sexual da sociedade; eles eventualmente se tornaram as Paradas Gays que nós conhecemos hoje. A maior vitória do período foi a campanha exigindo a Associação Americana de Psiquiatria a reverter sua designação de homossexualidade como uma doença mental, em 1973.

Ligações foram forjadas com outros grupos radicais, incluindo o Partido Pantera Negra, assim como membros de formações socialistas e da esquerda trabalhista. Maoístas, trotskistas, social democratas, e outros – quase sempre sem as bênçãos de seus partidos – tomaram papéis de liderança na Frente de Libertação Gay. O Partido Comunista dos EUA, embora tivesse sido o incubador dos primeiros liberacionistas gays, ficou distante nessa época, não querendo se afastar de sua instância de que a libertação gay era um “desvio” das lutas reais, um “problema psicológico… baseado no conceito burguês de masculinidade”. Foram outros 30 anos antes do partido sair totalmente em apoio dos direitos LGBTQ e igualdade.

Mas, a história enterrada há muito tempo do ativismo homossexual socialista do início do século XX foi recuperada. O livro de 2009 de Sherry Wolf, Sexualidade e Socialismo, documenta este momento de despertar e florescer da consciência socialista. O movimento se tornou consciente não apenas de suas raízes, mas também desenvolveu uma compreensão estrutural da opressão. O livro Origem da Família, Propriedade Privada e Estado, de Friedrich Engels, foi amplamente estudado.

A família como ela existe na sociedade capitalista veio a ser entendida não como algum fenômeno natural e eterno, mas como uma instituição social que se desenvolveu em um momento particular na história das primeiras lutas de classes – ela era o primeiro sinal de opressão e divisão de classe.

A seção de Chicago da Frente de Libertação Gay declarou:

“Nossa luta particular é por autodeterminação sexual, a abolição de estereótipos de papéis sexuais e o direito humano para o uso do corpo sem a interferência de instituições de estado legais e sociais. Muitos de nós compreendemos que nossa luta não pode ser bem-sucedida sem uma mudança fundamental na sociedade, que vai pôr a fonte de poder (meios de produção) nas mãos das pessoas, que no presente não têm nada… enquanto nossa luta cresce, vai ser deixado claro pela mudança das condições objetivas que nossa libertação é inextricavelmente ligada a libertação de todos os oprimidos”.

A revolução dá caminho a assimilação

Os liberacionistas viam a opressão das minorias sexuais como inevitavelmente ligada a superestrutura política e socioeconômica do capitalismo. Ganhar o reconhecimento pela sociedade heterossexual ou se integrar em suas normas sexuais e de relacionamento – assimilação – não estava no alto da lista de suas preocupações.

Com o início da prolongada crise econômica no final dos anos de 1970, contudo, muitos movimentos nascidos nas revoltas sociais dos anos do pós-guerra entraram em uma época de contenção. As forças políticas conservadoras estavam em ascensão, e a economia neoliberal eclipsou o período de reforma social. O poder capitalista ressurgente colocou um freio em todos os movimentos de liberdade – fossem os trabalhistas, nacionais, raciais, étnicos, de gênero, ou de variedade sexual.

Para os gays e lésbicas, os anos de 1980 trouxeram um foco no reconhecimento do relacionamento e igualdade sob a lei. A crise da AIDS forçou questões como direitos de visitação em hospitais, autoridade para tomada de decisões para tratamentos médicos, funerais, herança, e outros, para o topo da agenda.

Bastante compreensível em retrospectiva, o impulso geral do movimento de liberdade gay (como muitos outros) começou a mudar. A crescente retaliação de organizações cristãs e outras conservadoras contra a visibilidade gay e lésbica reforçou a virada das energias ativistas na direção do reconhecimento legal e um discurso de direitos liberais. Uma agenda assimilacionista veio ofuscar o impulso liberacionista, que tinha caracterizado o movimento de gays e lésbicas em seu início. Organizações radicais ainda existiam, e às vezes elas se afirmavam com força, como a Queer Nation e Act Up. No final dos anos de 1990, o teórico queer Michael Warner estava lamentando o efeito “normalizador” que a busca por respeitabilidade e aceitação pública estava tendo nas políticas queer. (O termo “gay”, que tinha sido a princípio compreendido para significar homens e mulheres, tinha sido cada vez mais alargado através dos anos, para abranger mais diversidade dentro da comunidade – lésbica e gay, LGBT, LGBTQ, queer, e outros acrônimos e termos mais amplos).

Direitos de casamento e um fim à discriminação se tornaram as demandas dominantes do movimento. A revolução social foi negociada por uma forma de “capitalismo arco-íris”, que podia acomodar muitas demandas por igualdade, mas parou de repente de questionar os fundamentos do sistema socioeconômico.

Pós liberação, pós assimilação?

Retornando a parada do orgulho e campanhas publicitárias que aconteceu no final de junho em Nova Iorque, tendo as corporações mostrado a sua aceitação de funcionários LGBTQ desempenha algum papel positivo, com certeza. Uma nova pesquisa mostra que cerca de metade dos americanos LGBTQ ainda não estão trabalhando, então qualquer coisa que mude uma atmosfera que força as pessoas a se esconder no armário é um ponto positivo em pelo menos alguns respeitos (a despeito da caçada corporativa por “dólares cor-de-rosa”).

Mas, os desenvolvimentos sugerem que muitas pessoas LGBTQ e seus aliados estão procurando por algo mais. As políticas LGBTQ hoje estão em um período transicional. Muitas lutas foram vencidas – como igualdade de casamento e outras – mas há um senso entre muitos ativistas de que a luta por liberdade LGBTQ tem que novamente olhar além de direitos legais e regulamentos.

Pegando uma análise materialista, nós encontramos a sociedade dos EUA mais uma vez em um período de rápida mudança social. A Grande Recessão que começou em 2008 perturbou a dinâmica do capitalismo. A revolução tecnológica e de comunicações está rapidamente alterando o modo que nós trabalhamos e vivemos. A mudança climática e a guerra nuclear puseram questões existenciais na mesa.

E isso se reflete no ativismo, também. Do Vidas Negras Importam, às Marchas das Mulheres, ao crescente interesse no socialismo, as pessoas estão mais uma vez esperando conquistar mais do que apenas se ajustar com o status quo.

O mesmo é verdade para as políticas LGBTQ. Ao lado da parada do orgulho, outra marcha está acontecendo em Manhattan esse fim de semana – uma que lembra os objetivos dos ativistas do Stonewall. A Coalizão Recuperar o Orgulho está organizando a Marcha da Libertação Queer, “uma marcha política das pessoas”, ao invés de uma parada. Eles vão marchar “contra o neoliberalismo e a ascensão da extrema direita, contra a pobreza e a desigualdade econômica, contra a agressão militar dos EUA, e contra a mudança climática” – objetivos que são muito maiores do que um logo de arco-íris pendurado na vitrine de frente de seu banco.

O mundo, como Engels disse, “é um complexo de processos, no qual coisas aparentemente estáveis… vão através de uma mudança ininterrupta de surgir e falecer, no qual apesar de toda a aparente acidentalidade e de todo o retrocesso temporário, um desenvolvimento progressivo se afirmar no fim”.

As ideias de Stonewall vivem novamente, em uma forma nova e atualizada, e a luta pela libertação continua marchando em frente.


por C. J. Atkins, Editor-chefe do People’s World | Texto em português do Brasil, com tradução de Luciana Cristina Ruy
Fonte: People´s World

Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado

Enfrentar a ameaça de um incidente nuclear na central de Zaporizhia

Enfrentar a ameaça de um incidente nuclear na central de Zaporizhia: um apelo aos Presidentes e Chefes de Governo dos países membros da OTAN

De acordo com numerosos relatórios concordantes, a central nuclear de Zaporizhia (Enerhodar) está repleta de minas e explosivos. Mais especificamente, de acordo com os serviços secretos ucranianos, o exército russo colocou explosivos em quatro das seis unidades da central.

Além disso, o mundo acaba de testemunhar a perda de vidas humanas, incluindo a de soldados russos, bem como a destruição de infraestruturas e de um vasto ecossistema, na sequência da explosão da barragem de Kakhovka pelas forças russas de ocupação.

A explosão desta barragem é apenas mais um episódio da estratégia das autoridades políticas e militares da Federação Russa para aterrorizar a população e destruir sistematicamente as infraestruturas civis da Ucrânia.

Tendo em conta o total desrespeito de Moscovo pela vida humana, os países da OTAN devem antecipar a possibilidade de as autoridades russas incluírem na sua estratégia militar para a Ucrânia um acidente nuclear na central nuclear de Zaporizhia.

Como salientaram os senadores norte-americanos Richard Blumenthal e Lindsey Graham, uma explosão no complexo nuclear de Zaporizhia, ou um grande incidente na sequência de uma interrupção do sistema de arrefecimento, resultaria numa grande catástrofe para a Ucrânia e para os Estados da região, incluindo vários Estados-membros da OTAN.

A fim de evitar tal ameaça, a Federação Russa deve ser convidada a:

  • Retirar imediatamente todas as suas forças militares da central de Zaporizhia;
  • Levar a que os militares russos, sob a supervisão de peritos das Nações Unidas, neutralizem todo o material explosivo e quaisquer outras armas no perímetro da central nuclear;
  • Garantir aos membros da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) um acesso livre e permanente à central.

Na ausência de uma resposta positiva e rápida por parte das autoridades russas, pedimos à OTAN que tome todas as iniciativas necessárias, incluindo iniciativas militares, para que as autoridades russas compreendam que, para a Aliança Atlântica, esta é uma linha vermelha a não ultrapassar.

 

Signatários

Cengiz Aktar, professor de Ciência Política na Universidade de Atenas

Vera Ammer, Memorial Deutschland, membro do conselho de administração da International Memorial (2010-2023), Alemanha

Katarina Ammitzbøll, antiga deputada ao Parlamento da Dinamarca

Michèle Amzallag, professora, Universidade Sorbonne, França

Guillaume Ancel, tenente-coronel (ret.), escritor, ensaísta, França

Antoine Arjakovsky, diretor de investigação, Collège des Bernardins, membro do Conselho de Administração da Plataforma da Memória e da Consciência Europeias, França

Olga Artyushkina, professora de gramática e linguística russa, Université Jean Moulin Lyon 3, França

Anders Åslund, economista e antigo membro sénior do Atlantic Council, Suécia

Nicolas Auzanneau, tradutor, França/Bélgica

Gérard Bensussan, filósofo, professor emérito da Universidade de Estrasburgo, França

Olga Bertelsen, professora associada de Segurança Global e Inteligência, Tiffin University, EUA

Annick Bilobran-Karmazyn, Presidente da ADVULE, França

Marie-Aline Bloch, professora honorária da École des Hautes Études en Santé Publique, França

Vassilios Bogiatzis, PhD-historiador, investigador e docente associado, Universidade Panteion, Grécia

Christian Booß, historiador e jornalista, Alemanha

Martin Böttger, físico, antigo deputado ao Parlamento “Sächsischer Landtag”, Alemanha

Jean-Loup Bourget, professor emérito de estudos cinematográficos, École Normale Supérieure, França

Sara Brajbart-Zajtman, filósofa, ex-diretora da “Regards”, uma revista judaica progressista, Bélgica

Gastone Breccia, historiador militar, investigador na Universidade de Pavia, Itália

Giovanna Brogi Bercoff, professora emérita, Università degli Studi, Milão, Itália

Matthias Büchner, orador do “Neues Forum”, antigo membro do Parlamento Landtag Thüringen, Erfurt, Alemanha

Daniela Luigia Caglioti, professora de história contemporânea, Università di Napoli Federico II, Itália

Marco Cappato, antigo deputado ao Parlamento Europeu, Itália

Paulo Casaca, antigo deputado à Assembleia da República, antigo deputado ao Parlamento Europeu

Arnaud Castaignet, investigador sénior, Diplomacia Aberta, França

Giovanni Catelli, escritor, poeta, correspondente do Eastjournal, Itália

Mitch Cohen, tradutor alemão-inglês e editor de inglês, Alemanha

Dominique Colas, professor emérito de ciência política, Sciences Po, Paris, França

Michel Collot, professor de literatura francesa na Universidade de Paris III, especializado em poesia francesa moderna e contemporânea, França

Christophe D’Aloisio, pesquisador afiliado ao Instituto de Pesquisa Religiões, Espiritualidades, Culturas, Sociedades (RSCS, UCLouvain), diretor do Instituto de Teologia Ortodoxa em Bruxelas, Bélgica

Annie Daubenton, jornalista, ensaísta e consultora, especializada na Europa Central e Oriental (Polónia, Rússia, Ucrânia), França

Julia David, membro associado do Instituto de História Moderna e Contemporânea (CNRS/ENS), França

Isabelle de Mecquenem, professora de filosofia, Universidade de Reims, membro do Conseil des sages de laïcité et des valeurs de la République do Ministério da Educação, França

Christian Dietrich, presidente da Associação Internacional de Antigos Presos Políticos e Vítimas do Comunismo, Alemanha

Massimiliano Di Pasquale, investigador associado da Fundação Gino Germani, Itália

Ana Miguel dos Santos, advogada, ex-deputada, Portugal

Jean Bernard Dupont-Melnyczenko, professor de história, decano honorário do Colégio de inspetores académicos da Académie d’Amiens, França

Olivier Dupuis, antigo deputado ao Parlamento Europeu, Bélgica

Emmanuel Dupuy, presidente do Instituto de Prospetiva e Segurança na Europa (IPSE), França

Martin Exner, membro do Parlamento, República Checa

Penelope Faulkner, vice-presidente do Quê Me: Ação pela Democracia no Vietname, França

Andrej Findor, professor associado na Universidade Comenius de Bratislava, Eslováquia

Jean-Louis Fournel, professor da Universidade de Paris 8, França

Mridula Ghosh, professora sénior de relações internacionais, Universidade Nacional de Kyiv-Mohyla Academy, presidente do conselho de administração do Instituto de Desenvolvimento da Europa Oriental, Kiev, Ucrânia

Sébastien Gobert, jornalista, França/Ucrânia

Bernard Golse, psicanalista, psiquiatra, professor da Universidade de Paris V-René Descartes, fundador do Institut Contemporain de l’Enfance, França

Marija Golubeva, historiadora, antiga deputada ao Parlamento, antiga ministra do Interior, Letónia

Oleksii Goncharenko, membro do Parlamento, vice-presidente da Assembleia Parlamentar da Comissão das Migrações, Refugiados e Pessoas Deslocadas do Conselho da Europa, Ucrânia

Svetlana Gorshenina, historiadora, historiadora de arte, historiógrafa e especialista na Ásia Central, diretora de pesquisa do CNRS Eur’Orbem, Université Paris-Sorbonne, França

Iegor Gran, escritor, França

Andrea Graziosi, professor de história contemporânea, Universidade de Nápoles Federico II, Itália

Steffen Michael Gresch, ator e autor, membro da oposição na Alemanha Oriental na década de 1980, Alemanha

Paul Grod, presidente, Congresso Mundial Ucraniano, EUA

Tomasz Grzegorz Grosse, professor, Universidade de Varsóvia, chefe do Departamento de Políticas da União Europeia no Instituto de Estudos Europeus, Polónia

Florence Hartmann, jornalista e ensaísta, antiga porta-voz do procurador do TPIJ (Jugoslávia ou Ruanda), França

Pavel Havlicek, investigador na Associação para os Assuntos Internacionais (AMO), República Checa

Oleksandr Havrylenko, professor da Universidade Nacional V.N. Karazin, Kharkiv, Ucrânia

Richard Herzinger, colunista, Berlim, Alemanha

Gerold Hildebrand, ex-membro da Biblioteca Ambiental oposicionista em Berlim Oriental, Alemanha

Halyna Hryn, editora, Harvard Ukrainian studies, presidente da Shevchenko Scientific Society nos EUA

Yaroslav Hrytsak, professor, Universidade Católica Ucraniana de Lviv, Ucrânia

Christian Kaunert, professor de Política de Segurança Internacional, Dublin City University e University of South Wales

Oliver Kloss, Politólogo, ex-membro da resistência subversiva na Alemanha Oriental, Grupo de Trabalho de Direitos Humanos em Leipzig, Alemanha

Adrian Kolano, editor-chefe da European Foreign Affairs, Polónia

Christiane Körner, tradutora literária, Alemanha

Oksana Kozlova, professora de Russo, Faculdade de Letras, Tradução e Comunicação – ULB, Bélgica

Volodymyr Kravchenko, professor, departamento de história, diretor dos Programas de Estudos da Ucrânia Contemporânea, CIUS, Universidade de Alberta, Canadá

Bertrand Lambolez, professor de Neurociências Paris Seine, diretor de pesquisa INSERM, França

Gérard Lauton, professor sénior honorário, matemática aplicada, Université Paris-Est Créteil (UPEC), França

Sylvie Lindeperg, professora da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne e membro emérito do Institut Universitaire de France

Jonathan Littell, escritor, Prix Goncourt, França

Frédérique Longuet Marx, antropóloga, França

Orysia Lutsevych, diretora-adjunta, Rússia e Eurásia, chefe do Fórum da Ucrânia, Chatham House, Reino Unido

Jacobo Machover, escritor cubano exilado na França, ex-professor sênior da Universidade de Avignon, França

Luigi Marinelli, professor de literatura, departamento de Estudos Europeus, Americanos e Interculturais, Universidade “La Sapienza” de Roma, Itália

Marie Martin, professora de estudos cinematográficos, Universidade de Poitiers, França

Eric Marty, escritor e professor emérito, Universidade de Paris, membro da IUF, França

Alain Maskens, médico, oncologista, fundador e antigo coordenador médico da Organização Europeia para a Cooperação em Estudos de Prevenção do Cancro (ECP), Bélgica

Marie Matheron, atriz, França

Alexandre Melnik, professor da ICN Business School, especialista e consultor em geopolítica, França

Marc-Emmanuel Mélon, professor, Faculdade de Filosofia e Letras, Universidade de Liège, Bélgica

Aude Merlin, professor sénior, Université Libre de Bruxelles, Bélgica

Yevhenii Monastyrskyi, estudante de doutoramento, Departamento de História, Universidade de Harvard, EUA

Alexander Motyl, professor de ciência política, Rutgers University-Newark, EUA

Véronique Nahoum-Grappe, antropóloga, investigadora do EHESS, Centre Edgar Morin, França

Boris Najman, professor associado e investigador em Economia na Universidade Paris East Créteil, França

Laure Neumayer, professora de Ciência Política, Universidade da Picardia Júlio Verne, França

Olevs Nikers, presidente da Fundação de Segurança do Báltico, Letónia

Elena A. Nikulina, analista de assuntos ucranianos/russos, Ucrânia/Alemanha

James Nixey, diretor do Programa Rússia e Eurásia na Chatham House, Reino Unido

Alexis Nuselovici, professor de literatura geral e comparada na Universidade de Aix-Marselha, França

Lydia Obolensky, professora de língua e literatura russas, Bélgica

Doris Pack, presidente do PPE Mulheres, presidente do Instituto Robert Schuman, antiga deputada do Parlamento Europeu e do Bundestag, Alemanha

Carmelo Palma, jornalista, diretor da Strade-on-line, Itália

Filipe Papança, professor da Academia Militar (Amadora), Portugal

Anne-Marie Pelletier, académica, teóloga, Collège des Bernardins, Paris, Prémio Ratzinger 2014, França

Yohanan Petrovsky-Shtern, professor, Northwestern University e Harvard Ukrainian Research Institute, EUA

Serhii Plokhii, professor de História, Universidade de Harvard, EUA

Antony Polonsky, professor emérito de Estudos do Holocausto na Brandeis University, EUA

Elena Poptodorova, vice-presidente do Clube Atlântico da Bulgária, antiga embaixadora nos EUA, antiga deputada do Parlamento búlgaro, Bulgária

Bohdan Prots, professor associado, programa Danúbio-Cárpatos e Museu Estatal de História Natural, Academia Nacional de Ciências da Ucrânia, Lviv, Ucrânia

Eva Quistorp, teóloga, escritora, antiga deputada ao Parlamento Europeu, Berlim, Alemanha

Utz Rachowski, escritor e ex-prisioneiro político na Alemanha Oriental, Alemanha

Pierre Raiman, doutorando em história contemporânea na Universidade de Paris 1-Panthéon Sorbonne, secretário de “Pour l’Ukraine, pour leur liberté et la nôtre !”, França

Philippe Robert-Demontrond, professor da Universidade de Rennes 1, França

Christian Rocca, diretor editorial da Linkiesta, Itália

François Roelants du Vivier, antigo deputado ao Parlamento Europeu, antigo senador, Bélgica

Sylvie Rollet, professora emérita, presidente do “Pour l’Ukraine, pour leur liberté et la nôtre !”, França

Avita Ronell, professora universitária de literatura alemã e comparada, Universidade de Nova Iorque, EUA

Nanou Rousseau, presidente honorário da Federação de Mães pela Paz, França

Malkhaz Saldadze, professor associado da Ilia State University, Geórgia

Andrei Sannikov, presidente da Fundação Europeia da Bielorrússia, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia (1995-1996), candidato presidencial em 2010, antigo prisioneiro da consciência, Bielorrússia

Ulrich Schmölcke, investigador sénior da ZBSA, Schleswig, Alemanha

Myroslav Shkandrij, professor emérito de literatura e língua ucraniana, Universidade de Manitoba, Canadá

Giovanna Siedina, professora de literatura russa e ucraniana, Universidade de Verona, Itália

Vasile Simileanu, diretor da GeoPolitica Magazine, Roménia

Wally Struys, professor emérito, economista da defesa, Academia Militar Real, Bélgica

Malvina Tedgui, psicanalista, França

Patrizia Tosini, professora associada de História da Arte Moderna, Universidade Roma Tre, Itália

Greta Uehling, PhD, professora de ensino, Universidade de Michigan, Ann Arbor, Michigan, EUA

Cécile Vaissié, professora de Estudos Russos e Soviéticos na Université Rennes 2, Chefe do Departamento de Russo, França

Maïrbek Vatchagaev, historiador checheno e analista político do Cáucaso do Norte na Jamestown Foundation, coeditor da revista “Caucasus Survey”

Emmanuel Wallon, professor emérito de sociologia política, França

Charlie Weimers, deputado ao Parlamento Europeu, Suécia

Miroslav Žiak, antigo deputado, Eslováquia

Othar Zourabichvili, presidente da Associação Georgiana em França

 

Apelo promovido pela Associação ‘Pour l’Ukraine, pour leur liberté et la nôtre’, Paris

Tradução ‘google’ revista por Paulo Casaca, um dos subscritores, para o jornal ‘Tornado’, a partir da versão inglesa tal como publicada por ‘The Lithuania Tribune’. O artigo foi publicado em francês pelo ‘Le Monde’ e em italiano pelo ‘Linkiesta’.

A declaração está disponível em ucraniano, alemão, espanhol e polaco no blog de Olivier Dupuis – o seu redactor principal.

80 anos depois, trabalho infantil volta nos EUA

Com pleno emprego e falta de mão de obra, crianças imigrantes sem os pais viram alvo fácil para legislações que facilitam trabalho pesado e perigoso na agricultura, indústria e canteiros de obras.

Cerca de 40% das mulheres não têm direito de decidir sobre filhos

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ONU pede mais igualdade de gênero para controle populacional e elevar a renda ao mesmo tempo.

The Cure, dark com bom humor

Falar sobre The Cure no dia do rock (13 de julho) é um pretexto para lembrar de uma cena musical, que nasceu entre o fim da década de 1970 e início da de 1980, formada por bandas que uniram o rock com poesia, filosofia, tecnologia e cultura pop.

Joy Division, Bauhaus, Siouxie and the Banshess, Echo & The Bunnymen, Sisters Of Mercy, Jesus and Mary Chain, além do próprio Cure, são alguns dos principais expoentes desta cena.

Diferente da caricatura do roqueiro com calça detonada, camisa de lenhador e solos de guitarra, esse estilo subverteu o que já era subversivo, mudando a cara do rock a partir de uma nítida raiz punk. O resultado foi uma sonoridade com ar experimental e artístico.

Eles expressaram tão bem o ambiente de depressão econômica da década perdida que eu cheguei a usar um pequeno trecho da música Bela Lugosi’s Dead, do Bauhaus, em um vídeo que editei sobre uma greve de 1985, em uma metalúrgica paulistana na qual os trabalhadores eram tão explorados que muitos perdiam dedos, ou mesmo mãos e braços, nas máquinas. O ar trágico da música, poluída por ecos e ruídos metálicos, foi um fundo perfeito para a situação relatada.

Estas são características gerais do que se convencionou chamar de “pós punk”. O The Cure, fundado em 1978, embora seja a típica banda dark da década de 1980, tem um humor que o diferencia. Não um humor debochado e sarcástico como o do Toy Dolls e o Devo, mas um humor dócil, às vezes até infantil. Eles conseguiram adicionar graciosidade onde parecia impossível: ao rock gótico da década de 1980. Isso fica claro em músicas como Love Cats, Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me, Lullaby e Let´s Go to Bed.

Os videoclipes, a maioria deles criados em parceria com o diretor Tim Pope, que também dirigiu vídeos de David Bowie e Iggy Pop, são um caso à parte. São pequenas histórias inusitadas que beiram o surrealismo. Um deles é o da música de Close to Me. Tim Pope enfiou os cinco músicos em um guarda-roupa abarrotado na beira de um penhasco e pediu que tocassem ali mesmo. O guarda-roupa cai no mar criando um caos ensopado de pessoas e coisas. E assim a música segue, em um cenário improvável que jamais seria desejado por artistas que vendem beleza, boa forma e sex appeal.

Confira o vídeo:

Em seu auge, o The Cure foi cultuado como uma seita. Cultuado por pessoas que tentavam assimilar o espírito excêntrico e reflexivo do vocalista Robert Smith, copiando seu cabelo arrepiado, sua maquiagem borrada e seus ternos pretos folgados. Eles também influenciaram diversas bandas, inclusive brasileiras, como os Titãs, Legião Urbana, Ira! e outras menos famosas como Violeta de Outono e Fellini.

As letras não são politizadas, nem sociológicas. Elas não falam sobre as dificuldades dos jovens em uma época de recessão e desemprego, ou de uma política que produz divisão de classe. Mas traduzem a falta de ânimo e o individualismo solitário em um mundo hostil. Eles são underground, afinal, avessos ao self-made-man e à competitividade, e isso, no quadro maior é ser “antissistema”.

Sombrios e, ao mesmo tempo, cintilantes, depressivos e, ao mesmo tempo, bem humorados, o The Cure conquistou seu lugar nos corações e mentes de uma geração desprezando as regras do status quo e, ao mesmo tempo, mostrando que há beleza e graça na melancolia.


Texto em português do Brasil