A inflação média anual não baixa (+8,6% em abril.2023), a da alimentação continuou a aumentar (+17,2%), entre 2021 e 2022 os preços do gás e da eletricidade subiram + de 69% para as famílias, os preços dos combustíveis aumentaram entre 2021 e 2023 mais de 42%, e os enormes lucros da EDP, Galp e REN em 2022 subiram ainda mais mais em 2023 (+204% no 1º trimestre), e o governo não toma medidas para acabar com esta sobre-exploração
Reforma sindical quer fortalecer a negociação coletiva
A proposta de reforma sindical que está sendo elaborada em conjunto por representantes de dez centrais sindicais e do governo prevê maior poder de decisão da negociação coletiva, confirmação da unicidade sindical (representação com base mínima por município) e a criação de um Conselho de Relações de Trabalho para regulação do sistema, formado por trabalhadores e empregadores.
“São três diretrizes : fortalecer a negociação coletiva, criar efetiva capacidade dos sindicatos de se posicionarem bem nesse processo de negociação e para estruturação sindical, e dar autonomia para que trabalhadores e empresas possam desenhar seu processo de organização do trabalho”, afirma o sociólogo Clemente Ganz, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais. Ele integra o grupo que está preparando o documento que, uma vez debatido com sindicatos e empresários, será encaminhado pelo Executivo ao Congresso, na forma de um projeto de lei.
De maneira complementar, diz Clemente, o projeto pretende promover direito equivalente para os servidores do setor público. Ou seja, a lei deverá reconhecer o direito dos trabalhadores estatutários – regidos pelo Estatuto do Servidor Público – à negociação coletiva.
A intenção é colocar as propostas em debate “imediatamente”, diz o sociólogo. Ele ressalta “o compromisso firmado pelo presidente Lula com as centrais, de enviar ao Congresso mudanças na organização sindical e no sistema de negociação coletiva, buscando justamente dar capacidade de atuação frente às mudanças no mundo do trabalho, e dar à negociação coletiva capacidade de rever muitas das regras da reforma trabalhista de 2017”.
A reforma feita no governo Temer acabou com o imposto sindical, extinguindo sem alternativa a fonte de financiamento sindical, provocou a fragilização dos sindicatos e cortou direitos. Mas deu grande poder regulatório à negociação coletiva. “Então vamos tratar de regular as situações de trabalho pela negociação coletiva”, afirma Clemente.
Outra mudança necessária, na opinião do sociólogo, visa melhorar a vida dos trabalhadores sem vínculos formais, atualmente sem nenhuma proteção sindical, e com baixa cobertura trabalhista ou previdenciária. “As centrais sindicais, organizadas nacionalmente e setorialmente, fariam também a incidência na representação dessa massa de trabalhadores que não são assalariados clássicos, nem servidores: trabalhador autônomo, doméstico, cooperado, PJ, entre outros.”
Segundo o coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, essa população em condições extremas de precariedade é praticamente metade da força de trabalho do país. “São cerca de 50 a 55 milhões protegidos pelo sistema sindical clássico, e outros 50 a 55 milhões sem proteção, dos quais 20 a 24 milhões por conta própria; 6 a 7 milhões no serviço doméstico, e os demais, cooperados, “pejotizados”, e uma massa terceirizada que vive no limbo, de subcontratados. Temos mais ou menos a metade protegida por um sistema sindical fragilizado, e outra metade com quase absoluta desproteção sindical, baixíssima proteção previdenciária e trabalhista.”
Clemente indica dois desafios principais: recolocar o sindicato como instrumento de proteção da força de trabalho formalizada, por meio da negociação coletiva valorizada, com alta taxa de representação no sindicato; e reorganizar o sistema sindical, por meio das centrais e federações, para conseguir representar a outra parte — atualmente descoberta, com uma interação forte junto ao governo. “Para que, por meio do Executivo, junto ao Congresso Nacional, sejam estabelecidas regras que gerem proteção previdenciária, de saúde e direitos equivalentes.”
Conselho de autorregulação
A regulamentação permanente do novo sistema, com eventuais atualizações, seria feita por um Conselho de Relações do Trabalho. De acordo com Clemente, esse conselho teria uma câmara formada pelas centrais e por quadros dirigentes do movimento sindical; e outra, autônoma, para tratar da organização sindical das empresas, com representantes de sindicatos patronais. “E os dois juntos regulariam o sistema de negociação coletiva”, explica o sociólogo.
O objetivo da proposta é instituir processos para que a negociação coletiva seja bem desenvolvida, impedindo práticas antissindicais, com direito efetivo de representação e de informação. Clemente lembra que a Constituição brasileira delega aos sindicatos o papel de fazer a representação dos trabalhadores – de toda base, sócios e não sócios das entidades.
Para exercer essa representação, ele destaca as assembleias como instrumentos chaves. Nelas se definem a pauta da negociação, os indicativos de greve ou de continuação das conversas. Nelas também, os participantes deliberam pela celebração dos acordos e autorizam os sindicatos a receberem uma receita decorrente das negociações, gerada com a contribuição dos trabalhadores, para que possam financiar sua ação de forma consistente e qualificada.
OCDE cobra apoio aos sindicatos
Os resultados da onda neoliberal que demoliu estruturas trabalhistas e sindicais mundo afora já acendeu o sinal de alerta em organizações internacionais, que identificam piora aguda das relações de trabalho, dos direitos humanos e das condições de vida das populações.
Segundo Clemente, estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que 140 países fizeram reformas trabalhistas e sindicais, de 2000 até 2020. Todas flexibilizaram as formas de contratação e remuneração, tiraram poder dos sindicatos, enfraqueceram a negociação coletiva, diminuíram o papel do Estado e da Justiça do Trabalho, criaram formas mais flexíveis e menos onerosas de demissões e desligamentos de trabalhadores.
Outro levantamento, feito em 36 países pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta queda na sindicalização e perda da participação dos acordos coletivos na regulação da proteção do trabalho. “Isso é fruto da disseminação da ideia de que o sindicato só representa o trabalhador que é associado; e de que a empresa só é obrigada a cumprir uma convenção, um acordo coletivo, se for sócia de entidade patronal. E as empresas, de forma crescente, têm se desfiliado do sindicato patronal para não ter nenhuma obrigação com relação a convenções e acordos trabalhistas. O resultado disso, em duas décadas, é que estudos recentes da União Europeia e da OCDE indicam aos países urgência na retomada do apoio aos sindicatos, e que estabeleçam metas de proteção sindical de 80% da população.”
A situação é tão crítica, diz Clemente, que países que nunca tiveram Salário Mínimo passaram a estabelecer políticas de renda mínima. O exemplo mais significativo é a Alemanha. A desproteção sindical e a fragmentação da representação derivaram numa massa de trabalhadores, principalmente imigrantes, recebendo abaixo da renda mínima considerada vital no país, situação em que o Estado precisa complementar a receita do cidadão. “Como as empresas, de maneira continuada, contratavam abaixo da renda mínima vital e os sindicatos não conseguiam produzir instrumentos coletivos de proteção, porque as empresas se desfiliavam do sindicato patronal, o governo alemão decidiu implementar uma política de Salário Mínimo.”
Unicidade sindical
Ironia perversa, ao próprio preceito da liberdade sindical tem sido aplicada uma interpretação distorcida, contrária a seus princípios originais. “A não interferência patronal e do Estado na organização dos trabalhadores, o direito de fazer greve e se organizar para apresentar uma pauta, isso se transformou num instrumento dos neoliberais para estraçalhar com a estrutura sindical, a partir de marcos regulatórios”, alerta o sociólogo. Por exemplo, quando a liberdade sindical é invocada para servir de justificativa para a negociação individual, em termos violentamente assimétricos, ou para a multiplicação sem critério de entidades sindicais.
“Por isso, o movimento sindical, neste momento, está pactuando que devemos encaminhar mudanças nos marcos normativos sem propor uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para alterar o artigo 8º da Constituição, que estabelece o princípio da unicidade sindical – com base mínima municipal — e impede a fragmentação espúria”, argumenta Clemente.
O coordenador do Fórum das Centrais Sindicais também adverte para as ações parlamentares que ameaçam insistir no desmonte sindical. Ele lembra que, recentemente, o relator da Reforma Trabalhista de 2017, o agora senador Rogério Marinho (PL-RN), apresentou um projeto de regulamentação para trabalho mediado por aplicativo, que não reconhece vínculo das empresas com os trabalhadores. “Eles têm essas propostas elaboradas para continuar um projeto de flexibilização do mundo do trabalho e enfraquecimento da ação coletiva dos sindicatos.”
Nesse sentido, Clemente defende a nova reforma em debate para dar centralidade à negociação coletiva, recuperar a autonomia do movimento sindical e sua capacidade de financiamento. “É por meio da negociação que se chega na base sindical; com ela que chamamos os trabalhadores. A negociação coletiva é a substância que permite ao sindicato voltar a ter uma relação com os trabalhadores, é a tarefa principal dos sindicatos.”
Texto em português do Brasil
O negócio iraniano do refém belga
Desde os seus primeiros dias que o regime saído da revolução islâmica iraniana usa a captura de reféns para libertar os seus operacionais terroristas. A principal consequência da repetida cedência dos países ocidentais nestas negociações, tem sido a consagração do sistema, com as redes terroristas iranianas a aumentar consideravelmente a sua actividade à sombra da sua pressentida impunidade, e a prática da captura de reféns a multiplicar-se.
Plataformas digitais espionam cidadãos mais que governos, diz Chelsea Manning
Ex-militar presa em 2010 por revelar crimes dos Estados Unidos ao Wikileaks mostra que a regulação é um meio de se proteger das plataformas digitais.
O escandaloso aumento do trabalho semiescravo
Nesta passagem dos 135 anos da assinatura da Lei Áurea o Brasil registra um aumento absurdo de casos de trabalho análogo à escravidão. Somente nestes quatro primeiros meses do governo Lula os fiscais do Ministério do Trabalho resgataram 1201 pessoas nessa condição humilhante, abusiva e ilegal, o que representou aumento de 140% em relação ao mesmo período do ano passado. Na verdade, o que aumentou agora foi a fiscalização, afrouxada no período Bolsonaro.
Se o governo está intensificando a vigilância, a Câmara também que colocar o assunto em evidência. Para isso, o presidente da Comissão de Trabalho e Segurança Social, deputado Airton Faleiro (PT-PA) está preparando a instalação de uma subcomissão que vai se debruçar sobre o tema e propor alterações legislativas, como o endurecimento das punições para empresas ou pessoas físicas que pratiquem a nova forma de escravidão.
Haverá também uma subcomissão encarregada de examinar e propor alguma regulamentação para os que trabalham com aplicativos, como motoristas e entregadores, assunto que Lula também vem prometendo enfrentar impondo pelo menos alguma forma de proteção social. Outra subcomissão será instalada para examinar a “farra do FGTS”, as diversas alternativas de saques criadas nos últimos anos, que resultam em sangria nos recursos do fundo e, principalmente, em situação nociva aos trabalhadores, que pouco ou nada terão para sacar na hora da demissão ou mesmo da aposentadoria.
– O governo está prometendo medidas para estas três questões mas nós, como Parlamento, estamos fazendo a nossa parte. E devemos começar instalando a subcomissão do trabalho análogo à escravidão, que se tornou uma chaga inaceitável. O aumento de casos é escandaloso e a sociedade espera de nós uma resposta – diz o deputado Faleiro.
Nos primeiros quatro meses de 2023, os estados com o maior número de casos foram Goiás, com 372 pessoas encontradas em condições de escravidão, seguido por Rio Grande do Sul (296), Minas Gerais (156), São Paulo (156) e Alagoas (49).
O caso das vinícolas gaúchas teve uma grande repercussão, pelo número de pessoas envolvidas, inclusive estrangeiros, e parece ter estimulado o aumento das denúncias, resultando em achados escandalosos, como o de um idoso de 74 anos, resgatado no último dia 10 em Foz do Iguaçu (PR). Há dois anos ele trabalhava sem nada receber porque tudo o que ganhava era supostamente destinado a pagar o que ele comprava num armazém do empregador.
Em março foram resgatados 212 nordestinos “traficados” do Nordeste para usinas de açúcar e álcool em Araporã (MG), e Itumbiara, Edeia e Cachoeira Dourada (GO). Eles viviam em situação degradante, em barracos imundos por cujo aluguel tinham que pagar, não recebiam alimentação, não tinham banheiro no local de trabalho e aplicavam agrotóxicos sem qualquer proteção. Até pelas ferramentas de trabalhado tinham que pagar aluguel.
A Comissão de Trabalho, como outras da Câmara, só agora estão começando a desenvolver seu plano de trabalho. Faleiro prevê um grande debate ali também sobre mudanças na reforma trabalhista.
– Não estamos propondo a revogação, nem o governo pensa nisso, mas alguns pontos precisam ser revistos, porque deixaram o empregado muito fragilizado diante do patrão. E vamos discutir também a volta da contribuição sindical, pois sua extinção foi um golpe muito duro no sindicalismo brasileiro. A história mostra que não há democracia forte sem sindicalismo ativo e forte. Basta olhar para a Europa – diz ele.
O governo também vai enfrentar este assunto na Comissão tripartite já criada, reunindo centrais sindicais, representantes patronais e do Poder Executivo, mas parece estar esperando por momento mais adequado. Neste momento de agudo conflito com o agronegócio, o governo parece estar querendo evitar marolas que possam conturbar a tramitação do regime fiscal proposto pelo ministro Fernando Haddad.
Texto original em português do Brasil
Morreu Filomeno Borges, estudante, defensor dos agricultores
O Partido Socialista de Timor (PST) está profundamente consternado e triste com a morte inesperada de Filomeno Borges, vítima da queda de uma árvore, na região de Ermera, quando regressava a casa depois de uma actividade de campanha eleitoral.
O saudoso era natural de Ermera, Suco de Hatolia, Aldeia Simohei, e morreu no Hospital de Gleno (Município de Ermera), na noite do passado dia 12.
A campanha eleitoral do PST para as eleições parlamentares de 21 de Maio de 2023 tem-se pautado pela defesa da necessidade da edificação de um sistema jurídico que se baseie nas normas do seu povo, na sua cultura, nos seus valores, sem preocupação de comparar com outras sociedades, para garantir um desenvolvimento nacional com equidade e onde todos viverão em paz, harmonia e fraternidade como resultado da solidariedade humana vivida nas Knuas.
O conceito de “Knua” defendido pelo PST significa a estrutura social do povo de Timor-Leste, baseada na árvore genealógica e com sucessivas ramificações, que obrigam ao estabelecimento de mais “Knuas” por via do processo de reprodução humana e da produção social.
Símbolo da defesa dos Agricultores e das Knuas
Em virtude de haver uma posição firme do PST na defesa dos agricultores em contexto de valorização das “Knuas” tem-se registado a adesão ao Partido de várias centenas de estudantes do ensino secundário e superior, sobretudo estudantes pobres, filhos de agricultores.
Filomeno Borges era um desses estudantes, jovem humilde, filho de camponeses que decidiu aderir à causa do Socialismo humanista popular assente no lisan e cultura timorense, tendo abraçado de imediato a doutrina do PST “Estado la iha Rai, Rai Povo Nian” (o Estado não é dono da terra, a terra pertence ao Povo) e da obrigatoriedade do “Subsídio aos agricultores”.

Este jovem de Ermera, militante do PST, abnegado, profundamente determinado e que decidiu lutar pelo “subsídio aos agricultores”, mais do que nunca, tornou-se muito especial para Ermera e para o PST, e será, agora e para sempre, o Símbolo da defesa dos Agricultores.
O Presidente do Partido Socialista de Timor (PST), verdadeiramente abalado, endereçou uma mensagem de sentidas condolências à família enlutada e comunicou que estará presente na cerimónia fúnebre agendada para amanhã, no Município de Ermera.
Filomeno Borges, símbolo da defesa dos agricultores, descansa em paz!
Por que o racismo resiste aos 135 anos da Abolição?
A chamada Abolição inconclusa, porque não indenizou as trabalhadoras e trabalhadores escravizados por quase quatro séculos no último país do Ocidente a pôr fim ao escravismo, completa 135 anos neste 13 de maio.
E apesar da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 1888, não contemplar os seres humanos escravizados, a Abolição significa uma das mais importantes mudanças ocorridas no Brasil, marcando a passagem do escravismo direto para o capitalismo.
Mas qual os efeitos da escravidão na sociedade brasileira ainda no século 21? O racismo forjado para justificar a escravização de seres humanos trazidos à força da África permanece como traço marcante da sociedade brasileira, como mostram estudiosos.
Isso é notado em diversas manifestações racistas nas ruas e nas redes, com agressões a negras e negros junto com a aporofobia. A reportagem “3 fatores que explicam repetição de violência contra negros em mercados no Brasil”, da jornalista Julia Braun, publicada na BBC News Brasil, na terça-feira (9), mostra diversas violências a negras e negros.
“Essa ira contra a população negra ainda é resquício dos quatro anos de incitação ao ódio, à violência e ao racismo pelo governo anterior”, diz Lucimara da Silva Cruz, secretária de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “É o racismo estrutural e estruturante que combatemos diariamente”.
Segundo ela, essa “é a raiva dos que perderam” porque “para eles estamos no poder e isso eles não admitem. Essas violências ocorrem em supermercados, que é o local onde a população negra está presente mais comumente”.
Raimunda Leone, secretária-adjunta de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da CTB, emenda ao afirmar que “a raiva que sentem da população negra ‘fora do seu lugar’ é dialeticamente o ódio que têm aos mais pobres e à classe trabalhadora”.
De acordo com Raimunda, “em 135 anos de Abolição, a população negra permanece sendo a maior vítima das balas perdidas, da letalidade policial, do desemprego, do trabalho precário, do trabalho escravo contemporâneo” tanto quanto “do assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho”.
E para acabar com isso, “precisamos mudar radicalmente o processo educativo, que não se resume à escola”, argumenta Lucimara. “As instituições públicas devem ter um papel radical para atacar a raiz do problema” sem “admitir que essas violências passem impunes”. Acabar “com essa história de antirracismo ser mimimi”.
Sistema Nacional de Segurança Pública
É fundamental discutir um sistema nacional de segurança pública que promova a cultura da paz. “Segurança não é só polícia”, afirma Raimunda, “segurança não é só empresa dita especializada para proteger apenas o patrimônio”. O conceito de segurança pública “deve ser muito mais amplo e envolver toda a sociedade num debate que vise acabar com a insegurança e garantir a paz”.
Combater o racismo significa “lutar por uma sociedade voltada para os valores humanos de liberdade, igualdade e fraternidade”, assinala Lucimara. Porque “temos a lei criminalizando o racismo”, mas “só isso não basta”. Muitos ajustes de conduta “precisam ser feitos para reeducar a sociedade. Os donos das empresas de segurança, as trabalhadoras e trabalhadores e todo o aparato de segurança precisam se reeducar para cumprir a sua função com mais inteligência”.
Raimunda destaca a importância de dar mais efetividade à Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino nas escolas de história das negras e negros brasileiros, do continente africano e da cultura de matriz africana.
“Estudar a história do país com destaque para as lutas contra o escravismo, contra o racismo e em favor da população mais vulnerável, com certeza pode levar a uma maior identificação e, com isso, a um crescimento da autoestima da população marginalizada”, reforça.
O racismo persiste e as violências também. Então, “é importante punir de forma exemplar os racistas e as empresas onde ocorrem as violências”, alega Lucimara. “Além de um processo educativo para toda a sociedade” contra o racismo “é importante manter as políticas afirmativas com cotas em universidades e no mercado de trabalho para dar maior visibilidade às negras e negros”.
Ademais, “não se muda uma nação se não tivermos vida digna para todas as pessoas e muito menos viver bem se temos nossos jovens assassinados todos os dias, se não temos trabalho decente, se as mulheres sofrem todo tipo de violência cotidianamente”, conclui Raimunda.
Porque como disse o escritor Lima Barreto (1881-1922) no início do século 20, “é duro não ser branco no Brasil. A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos a posteriori”. E continua sendo 135 anos após a Abolição.
Texto em português do Brasil
Inflação e riqueza
De um lado e do outro do Atlântico, o Fed e o BCE (bancos centrais do dólar e do euro, respectivamente) parecem querer travar a subida das taxas de juro com que pretenderam limitar o aumento generalizado dos preços.
Com o disparar da inflação – partindo de quase zero no início de 2022, a taxa básica dos EUA acaba de ultrapassar a marca dos 5% com o aumento de um quarto de ponto anunciado no início deste mês, enquanto na UE, com o último aumento de 0,25%, a Europa passou de zero no início do verão de 2022 para os actuais 3,75% – os dois bancos centrais procederam a fortes e muito rápidas subidas das respectivas taxas de juro directoras (a taxa a que emprestam dinheiro aos bancos) com o objectivo de aumentar o custo do crédito para as respectivas economias e assim travar o consumo.
Dados recentes confirmam que é o aumento das margens que está a fomentar as subidas injustificadas dos preços – especialmente no sector alimentar – e que as subidas das taxas de juro começam a pesar na concessão do crédito; segundo dados do Banco Central Europeu (BCE), durante o primeiro trimestre de 2023, o ritmo da redução do crédito bancário a empresas e famílias foi tão rápido como em 2011, durante a crise das dívidas soberanas da zona euro.
Em resumo, as subidas das taxas de juro, decididas para contrariar as tensões inflacionistas, estão a ter um impacto recessivo nas economias ocidentais, ainda que a inflação pareça dever-se em grande medida a um comportamento de pura ganância por parte das empresas.
Com os bancos centrais das duas maiores economias ocidentais claramente apostados numa política restritiva do crédito (e na redução da dimensão dos seus balanços bastante inflacionados pela política de compra de títulos da dívida pública praticada nos últimos anos), e apesar dos primeiros sinais de uma possível alteração das políticas monetárias (o Fed já indiciou que o aumento dos juros em maio pode ser o último e se para o BCE ainda não se registam os mesmos sinais, os analistas estão a apostar em pequenos aumentos adicionais de 25 pontos-base até ao Verão) estes deverão continuar a contribuir para uma desaceleração, no cenário mais optimista; no mais pessimista, caminha-se já para uma deterioração da actividade, se não para uma possível recessão, pois mesmo que os aumentos das taxas de juros parem nos próximos meses, os seus efeitos permanecem e o nível continuará elevado, havendo até quem, nos EUA, já anteveja os primeiros cortes de juros até o final do ano. Efeito que deverá demorar mais a fazer-se sentir na Europa.
A crer nas mais recentes perspectivas económicas do FMI poderá estar para breve o regresso a níveis relativamente baixos das taxas de juro, o que podendo ser uma boa notícia e constituir até algum alívio para as finanças públicas, que assim verão o custo da suas dívida reduzido, deixa em aberto questões como a de não reconhecer o tremendo erro na determinação das origens das tensões inflacionistas, nem assegurar a sua repetição no futuro, nem assegurar a menor tentativa para recuperar o agravamento das desigualdades no processo de distribuição da riqueza.
Os preços artificialmente inflacionados permanecerão altos, mesmo que deixem de subir à velocidade que o vêm fazendo, e o poder de compra perdido pela generalidade das populações não será recuperável com a mera desaceleração das taxas de juro. Esta “crise”, tal como a das dívidas soberanas, em 2011, servirá apenas para agravar ainda mais o já muito desequilibrado modelo de distribuição da riqueza, constituindo assim mais passo para a concentração da riqueza e o consequente empobrecimento da grande maioria.
Alta corrupção: Dirigentes políticos e jornalistas europeus ao serviço de Moscovo, Pequim e até de Havana
A escandaleira da “traição das elites” europeias – que vai de Primeiros-Ministros, ministros, deputados, políticos e presidentes de câmara a jornalistas – que traem os seus países e se vendem a Estados adversários pelos “trinta dinheiros”

No início do Verão de 2020, o Parlamento Europeu decidia criar “une commission spéciale pour étudier les ingérences étrangères dans les affaires européennes”, cuja presidência foi entregue a um jovem e neófito eurodeputado social-democrata, Raphaël Glucksmann, filho do falecido filósofo André Glucksmann. Claramente, o Parlamento Europeu não esperava nem investia grande coisa nesta comissão especial.
A alguns observadores pareceu mesmo que a comissão nascia para acalmar alguns “excitados românticos” e que se esperava que definhasse, com o tempo, sem alardes e sem sair do seu cantinho. Era não contar com o empenhado trabalho de Glucksmann, a sua dedicação e capacidade de encontrar “boas fontes” e outras “gargantas fundas”
Rapidamente, a comissão estabeleceu uma lista (que cresce todos os dias) de altos responsáveis políticos dos Estados da UE pagos por Pequim e Moscovo. Raphael Glucksmann começa, então, a falar da necessidade de pôr termo a “vingt longues années d‘aveuglement et de corruption des élites européennes”. Desta “traição das elites”, demos conta há quase dois anos, destacando esta investigação aos “Políticos europeus nas mãos da China e da Rússia“.
No início de 2022, o trabalho da comissão permitia já ao magazine francês Le Point escrever:
“La commission Inge, créée spécialement pour armer l’Union européenne contre les guerres hybrides menées par les voisins dérangeants, s’est penchée sur un phénomène identifié par tous les services de contre-espionnage: la capture des élites européennes par deux puissances, la Russie et la Chine. C’est une véritable toile d’araignée qui s’ébauche au fur et à mesure des recrutements de personnalités de haut rang.
“Ce sont ainsi 7 anciens Premiers Ministres (France, Allemagne, Belgique, Autriche, Finlande, République tchèque) qui travaillent ou ont travaillé au service d’intérêts russes ou chinois après leur carrière politique, 1 vice-chancelier allemand, 5 anciens ministres des Finances ou de l’Économie (France, Bulgarie, Luxembourg), 2 anciens ministres des Affaires étrangères (Autriche, République tchèque), un ex-ministre de la Défense (République tchèque) et quelques autres ministres de moindre rang…”
E Raphaël Glucksmann, sem papas na língua, declarava: «Russes et Chinois assurent la retraite dorée de dizaines de décideurs politiques d’Europe».
Pelo que o bem informado jornalista do Le Point escrevia, a comissão de Glucksmann estava a trabalhar sobre matérias “bem conhecidas” dos serviços franceses de contra-espionagem…
Meses depois, em Novembro de 2022, chegava-me um convite para o lançamento, em Paris, de um livro assinado por três ex-patrões da DST, o lendário serviço francês de contra-espionagem. Raphael Glucksmann e a sua comissão já não estavam sozinhos e, a partir daí, as línguas começaram a soltar-se… E continuam. Talvez ainda cheguem a Portugal…

Exclusivo Tornado / IntelNomics
O “Novo Consenso de Washington” ou o enterro do neo-liberalismo
Trump conquistou o poder com um “Make América Great Again” que foi o toque de finados da “globalização” e da sua apologética narrativa “neo-liberal”. Trump tinha sabido envergar e muito bem vender o discurso político (elaborado por Steve Bannon) que fazia o encontro entre uma emergente e nova racionalidade geopolítica e as angústias da maior minoria americana, os trabalhadores brancos ou, no dizer da senhora Clinton, os “deploráveis”, também ditos em linguajar de sociólogo, os “white trash”. Ninguém quis perguntar, na altura, por quem dobravam os sinos. Era mais fácil atribuir a “inesperada” vitória de Trump a uma “conspiração russa”. Eleito Biden, muita gente tomou a nuvem por Juno ou os seus desejos pela realidade e “achou” que esta vitória do candidato do PD era um retorno ao pré-Trump. Enganaram-se, claro.
Joe Biden prosseguiu e desenvolveu a política MAGA de Trump mas mudando-lhe a imagem: vestiu-lhe uma roupagem sexy e estampou-lhe um sorriso na cara. Assim, continuou a fatal erosão do velho “consenso de Washinton”, que vinha dos anos 80 do século passado com as suas narrativas da globalização produtora de felicidade e do neo-liberalismo produtor de racionalidade económica. A oração fúnebre foi agora rezada pelo National Security Adviser do Presidente Biden, Jake Sullivan, que, enquanto enterrava o velho “consenso”, aproveitou para apresentar o novo.
The New Washington Consensus
Franklin Foer | The Atlantic | May 10, 2023
Earlier this month, National Security Adviser Jake Sullivan delivered a speech at the Brookings Institution that historically would have made for front-page material but barely registered in the world beyond wonkdom. His address was a muscular statement of ideological intent.
He argued that President Joe Biden’s agenda channeled a set of ideas Sullivan called the “new Washington consensus.” There was a bit of cheek in his use of that term. The Washington Consensus was a phrase that entered circulation at the very end of the 1980s, describing the emerging bipartisan faith in globalization, deregulation, and the wisdom of markets, suited to an era of optimistic triumphalism. But that era is ending. Or, as Sullivan put it, “The last few decades revealed cracks in those foundations.”
He argued that President Joe Biden’s agenda channeled a set of ideas Sullivan called the “new Washington consensus.” There was a bit of cheek in his use of that term. The Washington Consensus was a phrase that entered circulation at the very end of the 1980s, describing the emerging bipartisan faith in globalization, deregulation, and the wisdom of markets, suited to an era of optimistic triumphalism. But that era is ending. Or, as Sullivan put it, “The last few decades revealed cracks in those foundations.”What Sullivan championed in the speech was something like the antithesis of that old paradigm. He said that ever-greater global interdependence is no longer desirable. One reason is China, which participates in global capitalism without fairly playing by its rules. Another is the realization, exposed by the pandemic-induced crisis in the intricate global supply chain, that the American economy is vulnerable to even small disruptions on the other side of the planet. That crisis was an indication that the world has gone too far in a libertarian direction and needs the sort of regulation and government investment that only a short while ago were highly unfashionable in the Washington policy sphere.
Although he didn’t justify his use of the term this way, he could get away with describing his views as representative of a new “consensus”: Both Trump and Biden have positioned themselves as economic nationalists, self-consciously abandoning the precepts of the old order.
That’s not to describe the Trump and Biden versions of economic nationalism as equivalent. Although Trump delivered vituperative speeches, inflected by xenophobia, about elites destroying American manufacturing, he didn’t really have any ideas about how to reverse course beyond jacking up tariffs. Biden’s national-security adviser, by contrast, put a big idea at the center of his speech. He extolled the virtues of industrial strategy: a new role for the state in directing the trajectory of the economy.
Industrial strategy begins with the premise that the national interest demands that certain industries flourish domestically. …..
Exclusivo Tornado / IntelNomics
A Europa, os jovens e o futuro
A Europa não se circunscreve à atual organização de Estados designada por União Europeia na sequência da CE- Comunidade Europeia e posterior CEE- Comunidade Económica Europeia resultante de um acordo para o livre transito de mercadorias, ao tempo do carvão e do aço e, mais recentemente, das pessoas e de todas as mercadorias em transito no seu espaço geográfico.
A Europa, são as pessoas, onde os jovens de ambos os sexos tem um papel de relevo e, fundamental, na continuidade da implementação de politicas sociais de modernização da sua organização social e de melhoria das suas condições de vida.
A evolução contínua das civilizações e da sua organização tem tido como pilar incontornável a juventude até porque, até meados do século passado a idade média de vida era significativamente mais reduzida o que, desde cedo, obrigou os jovens a serem o suporte da vida; da sua identidade; e do meio ambiente envolvente.
É neste contexto de permanente crescendo e litigância que a juventude temporal se vê envolvida nas profundas mudanças de organização politica de que resultaram a correlação de forças ideologicamente opostas e de espaços territoriais definidos com identidades distintas: a União Europeia é um desses exemplos.
Em Portugal, a juventude “alimentou” uma guerra colonial e sofreu as agruras de uma ditadura ao ponto de ter de assumir uma revolução politica em 1974 que lhe mudou por completo a forma e a qualidade de vida.
Aquando da adesão de Portugal à então designada por CEE-Comunidade Económica Europeia, que trouxe desafios dantescos de nova organização económica nos Países seus membros, inclusive a formação das suas camadas jovens com destaque para o acordo de Bolonha e a inovação tecnológica 5.0, a que acrescem os surtos migratórios de outros Continentes a que é subjacente a interculturalidade e a multiculturalidade, os jovens Portugueses não só foram capazes de acompanhar como conseguiram interagir e vencer mitos como os da igualdade de género; da constituição de família multicultural e intercultural mas também mono parental; o reconhecimento do direito de opção pela orientação sexual individual; entre muitos outros desafios; vitórias, hesitações e insucessos;
A juventude Portuguesa encarou o embate multicultural como um desafio comum e espalha hoje o seu saber pelos países da Europa mas também de fora da Europa.
É uma geração letrada e do conhecimento empenhada em construir um País seguro e sustentável numa Europa que não quer deixar ninguém para trás, nomeadamente os jovens que combatem na Ucrânia seja sob que bandeira for.
É esta juventude pujante que aporta a novas realidades conjunturais mas também climáticas que importa preservar e defender com inteligência para a defesa da vida Humana; da biodiversidade; e, sobretudo, construir equilíbrios culturais, sociais e políticos.
É esta juventude que terá de construir novos modelos de organização das sociedades ajustando os usos e costumes a tempos complexos onde a mudança de matérias primas com rotação circular na transformação e no consumo é já conjuntural mas também o acervo natural que é finito e terá de ser reconvertido em parceria com sintéticos mais as culturas e criação em cativeiros com a inteligência artificial a contribuir para a capacitação setorial munindo-a do conhecimento em substituição da experiência que deixará de haver tempo, ou necessidade, no acompanhamento na justa medida em que parte do processo de transformação será automatizado.
Essa juventude, que hoje está empenhada, no processo de transformação do mundo, encontrará soluções para todos os equilíbrios necessários:
- ambientais;
- organização das sociedades;
- equilíbrios na biodiversidade;
- sustentabilidade dos ecossistemas;
- justiça social nos apoios ao envelhecimento saudável e na criação de condições de estabilidade para a necessária renovação através do aumento da natalidade;
- um novo conceito do ordenamento do território e das cidades na ótica das pessoas;
- ajustamento social ao lazer na perspetiva da substituição do Homem pela maquina em segmentos distintos da industria, comércio e serviços;
Entre muitos outros desafios de mudanças na História dos Homens e do futuro do Planeta e, da Humanidade.
Porque, a juventude do futuro, estará preparada para isso.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
Haiti vive espiral de violência descontrolada, alerta ONU
Nesta terça-feira (9), a ONU alertou para a espiral de violência que tomou conta das metrópoles haitianas, “atingindo níveis comparáveis aos de países em conflito armado”. O organismo internacional pediu o envio urgente de uma força de apoio, conforme o mês de abril já acumula, sozinho, mais de 600 mortes entre gangues e linchamentos em Porto Príncipe.
Reportagem de agências internacionais e vídeos nas redes sociais relatam as cenas chocantes de corpos queimando empilhados nas ruas. As pessoas os cercam, gritando com raiva. Uma pessoa pode ser vista batendo nos corpos sem vida com um objeto pontiagudo.
Os números de abril foram registrados “após o assassinato de pelo menos 846 pessoas nos primeiros três meses de 2023, além de 393 feridos e 395 sequestrados no período”, detalhou o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos em um comunicado.
Desde o início de 2023, 22 policiais foram mortos por gangues. Essa tendência deve se acelerar, caso não ocorram os esforços solicitados pela ONU para equipar e treinar policiais com urgência, recrutar novos oficiais e melhorar as condições de trabalho para reter o pessoal existente.
Ajuda internacional
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu na segunda-feira (8) o envio imediato de uma força armada internacional ao Haiti para conter a escalada da violência das gangues e a pior crise de direitos humanos do país em décadas.
“Reitero meu apelo à comunidade internacional para que envie uma força de apoio especializada, que respeite os direitos humanos e limitada no tempo, com um plano de ação completo para ajudar as instituições haitianas”, insistiu o alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk
O oficial da ONU denunciou “um ciclo interminável de violência extrema no Haiti”. O ambiente de barbárie social é resultante da pobreza generalizada, após uma profunda crise política, de segurança e de saúde. Com isso, se formaram 200 gangues que controlam e disputam a capital impunemente, enquanto a população se defende por meio de “brigadas de vigilância” fazendo justiça com as próprias mãos, por não confiarem na polícia.
Estes grupos desencadearam linchamentos em massa, com as mortes de pelo menos 75 pessoas, incluindo 66 membros de gangues, no primeiro trimestre, segundo o relatório.
“Mas a realidade é que o Estado não tem capacidade de agir. A população faz a sua própria justiça, mas isso só alimenta a espiral da violência”, alertou.
Ninguém escapa
Em um relatório trimestral (janeiro a março) publicado nesta terça-feira, a ONU destaca que a violência não só está mais extrema e frequente, como propaga-se de modo inexorável à medida que as gangues tentam expandir seu controle.
Áreas de Porto Príncipe que antes eram consideradas seguras, como Kenscoff e Pétion Ville, assim como o departamento de Artibonite, agora são afetadas pela violência. Franco-atiradores em telhados frequentemente atiram em pessoas em suas casas e nas ruas, de forma aleatória, para expressar seu controle sobre a área.
Os sequestros (pelo menos 395 no primeiro trimestre de 2023) aumentaram 12% em relação ao trimestre anterior e as gangues continuam usando a violência sexual para impor o terror e fazer a população sofrer.
Em sua busca por mais território, disse ele, as gangues também continuaram a usar estupro e outras formas de violência sexual “para instilar medo e afirmar o controle sobre as comunidades”, com mulheres e meninas desproporcionalmente afetadas.
As gangues no Haiti cresceram em força desde o assassinato do presidente Jovenel Moise em 2021 , com os moradores presos no meio, já que grandes porções da capital e grande parte do interior se tornaram sem lei. Batalhas sangrentas de gangues deixaram centenas de mortos e milhares de deslocados.
por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
Lula propõe união de presidentes sul-americanos contra a extrema-direita
Com as seguidas vitórias da direita e o avanço da extrema-direita na América do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acredita ser necessário criar uma frente ampla e democrática entre os presidentes da região para impedir uma escalada autoritária. A data para ensaiar essa frente é 30 de maio. Lula havia convidado chefes de Estado da região a Brasília, nesse dia, para debater o relançamento da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). A nova conjuntura, imposta após as recentes eleições no continente, forçará um ajuste na pauta do encontro.
Embora líderes de esquerda sigam à frente das maiores nações do continente, é inegável o crescimento da direita e da extrema-direita como forças político-eleitorais. Em 30 de abril, o economista Santiago Peña, do Partido Colorado, elegeu-se presidente do Paraguai – seu mandato será de cinco anos. Embora as pesquisas previssem uma disputa mais acirrada entre Peña e Efraín Alegre, de centro-esquerda, as urnas deram uma vantagem de mais de 15 pontos percentuais para o presidente eleito.
Igualmente surpreendente foi o desempenho do ex-senador Paraguayo “Payo” Cubas, do ultradireitista Partido Cruzada Nacional. Com quase 23% dos votos, o “Bolsonaro do Paraguai” terminou a eleição em terceiro lugar e liderou protestos sobre uma suposta fraude na votação. Na sexta-feira (5), foi preso de forma preventiva por “perturbação da tranquilidade pública”. Na campanha, autoproclamando-se “candidato antissistema”, Cubas chegou a pedir a morte dos 100 mil brasileiros que vivem no Paraguai.
Em outro revés para a esquerda, o Partido Republicano, também de extrema-direita, foi o mais votado nas eleições de domingo (7) para o Conselho Constituinte do Chile. Os mais de 35% dos votos garantiram à legenda 22 dos 51 deputados que ficarão responsáveis por redigir uma nova Constituição para os chilenos.
Atual presidente do país, Gabriel Boric viu sua coalizão, a Unidade para o Chile, de esquerda, ficar com apenas 28% dos votos, elegendo 17 parlamentares. Eram necessários 21 para que o bloco tivesse direito a veto durante o processo constituinte. As 11 vagas restantes ficaram com o direitista Chile Seguro, que recebeu 21,5% dos votos. Com esse desenho, é improvável que as forças progressistas consigam grandes avanços constitucionais.
A extrema-direita também dá sinais de robustez na Argentina, na Bolívia, na Colômbia e no Peru – países que terão eleições neste ano. Daí a decisão de Lula de converter a reunião sobre a Unasul num debate de fundo sobre as perspectivas e os desafios políticos da região.
“Fontes diplomáticas” ouvidas pelo jornal O Globo confirmam a movimentação de Lula: “Embora a decisão de relançar a Unasul continue de pé e seja considerada uma prioridade pelo governo brasileiro, o encontro de chefes de Estado sul-americanos será, também, a oportunidade para que todos conversem sobre um fenômeno político global, que está ganhando fôlego na região”.
Há certo consenso de que a situação econômica e social da América do Sul estimule o surgimento de alternativas eleitorais extremistas. “O que está acontecendo na América Latina é, essencialmente, uma onda antioficialista. Existe muita raiva e desconfiança em relação aos que estão no poder, sejam de direita ou de esquerda”, acredita Steven Levitsky, professor de Harvard e autor de Como Morrem as Democracias.
Segundo ele, uma “nova direita”, mais radical, substituiu a “direita liberal” no continente. “O problema destes novos outsiders é que eles falam abertamente contra a democracia”, diz. Essa tendência, a seu ver, não se resume à América do Sul: “Nos Estados Unidos, o Partido Republicano – que obviamente não é um outsider – não está comprometido com o regime democrático”.
por André Cintra, Jornalista | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
Como Rita Lee desafiou a ditadura militar
“Levada à delegacia, a cantora, sincerona, explicou que, embora fosse usuária de drogas, não portava aquela maconha”
Trump promete anistiar golpistas do Capitólio, se eleito
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participou nesta quarta-feira (10) de uma sabatina da CNN, onde respondeu questões de eleitores republicanos e de indecisos. Ele voltou a insistir no tom golpista de que não perdeu a eleição, acenou aos extremistas e prometeu uma eleição turbulenta, caso seja o candidato em 2024.
Ao longo da sabatina, o empresário prometeu anistiar os invasores do Capitólio que foram presos ou processados e voltou a falar em fraude na eleição de 2020, quando perdeu para o adversário Joe Biden. Embora aposte no discurso extremista, seu partido avalia se prefere um candidato mais moderado, sem as controvérsias de Trump.
O empresário começou posando de vítima de fraude eleitoral na campanha presidencial de 2020 e disse que Biden levou os EUA “ao inferno”, devido à inflação. Ameaçou, inclusive, que novamente vai colocar em questão a mecânica do pleito, caso não seja eleito.
O republicano chamou o presidente Joe Biden de “o rosto do fracasso da esquerda e da corrupção do governo” e disse que seu governo trouxe um “tempo de dor, ansiedade e desespero” aos norte-americanos. Na avaliação do ex-presidente, seria mais fácil vencer seu rival em 2024, pois “todo mundo vê o trabalho ruim que foi feito”.
Com a certeza de que será o candidato do Partido Republicanos à presidência, em 2024, Trump disse que, caso perca, só aceitará o resultado “se for uma eleição honesta”. Resta saber se a sociedade americana não estaria exausta das polemizações estéreis de Trump.
Capitólio
Ele culpou Nancy Pelosi pela invasão ao Capitólio, ao repercutir uma fake news comum de que a presidenta da Câmara seria responsável pela polícia da Casa. “Um dos grandes problemas foi aquela Nancy Pelosi – a louca Nancy, como eu a chamo carinhosamente. A louca Nancy e o prefeito de Washington foram acusados, como você sabe, pela segurança. E eles não fizeram o trabalho deles”, disse.
Em seguida, prometeu anistiar os golpistas do Capitólio. “Estou inclinado a perdoar a muitos deles. Não serei capaz de perdoar cada um, mas será uma grande parte deles”, prometeu. Com isso, acena para os segmentos mais polarizados do Partido Republicano.
Segundo o governo, desde 6 de janeiro de 2021, mais de 950 pessoas foram presas e, entre elas, mais de 284 foram condenadas pelo episódio.
Trump alegou falsamente que convocou a Guarda Nacional para intervir durante o motim, o que Collins, da CNN, rejeitou e observou que, de acordo com o ex-secretário interino de Defesa Chris Miller, nunca teria havido ordem formal para enviar a Guarda Nacional.
A ação terrorista no Capitólio foi comandada por apoiadores do ex-presidente que não aceitaram a derrota dele na corrida presidencial e tentaram impedir a diplomação de Joe Biden, que superou o republicano.
Cinco pessoas, incluindo um policial, morreram devido ao conflito aberto naquele dia e mais de 140 policiais ficaram feridos. À época, a imprensa noticiou que os custos com os vidros quebrados, portas, móveis e pichações, além do restauro de obras de arte, superaram a marca de US$ 30 milhões.
O então vice-presidente dos EUA, Mike Pence, acusou Trump de colocar sua vida em risco com o ataque ao Capitólio, o que ele reafirma que não deve “desculpas” e ainda acusa seu ex-vice. Para ele, Pence deveria rejeitar o resultado eleitoral e reiniciar a contagem de votos. Collins o corrigiu, explicando que Pence não tinha autoridade para rejeitar os resultados das eleições.
Sequestro de documentos
Trump defendeu que tinha todo o direito de levar documentos confidenciais depois de deixar a Casa Branca, “de acordo com a Lei de Registros Presidenciais” e insultou a jornalista, quando ela o contestou. Os documentos foram apreendidos pelo FBI em sua casa na Flórida.
Collins corrigiu Trump destacando que a Lei de Registros Presidenciais não diz que um ex-presidente pode levar documentos para casa, mas que eles são propriedade do governo federal quando um presidente está fora do cargo.
Ela perguntou várias vezes por que Trump esperou para devolver documentos confidenciais quando sabia que o governo federal os estava procurando e intimou-o a devolvê-los. Donald Trump, porém, não respondeu à pergunta e insultou Collins. “É muito simples – você é uma pessoa desagradável, vou te dizer”, colocou. Somente o desespero por espaço positivo na imprensa explica que Donald Trump se submeta à entrevista na CNN, com quem não falava desde 2016.
Imigração, armas, aborto e economia
Trump reafirmou sua política de imigração draconiana. Exagerou ao dizer que construiu o muro que prometeu entre EUA e México, embora tenha feito apenas 83 km. Ele também não se arrepende da controversa política de separação familiar. “Quando você diz a uma família que ‘se você vier, vamos separá-los’, eles não vêm”.
Os Estados Unidos registraram mais de 200 tiroteios em massa até o momento em 2023, de acordo com o Gun Violence Archive. Apesar disso, Trump ressaltou que garantirá o direito ao porte de armas, mas que investirá no tratamento dos problemas de saúde mental como forma de combater os tiroteios em massa, além de pagar mais policiais.
Ele chegou a citar o Brasil, falando que havia uma política de porte de armas muito rígida e muita criminalidade. Com a liberação do porte no Brasil, ele diz que “o crime caiu muito”, embora não haja dados sobre isso.
Os Estados Unidos passam por uma disputa legal quanto ao aborto, depois que a Suprema Corte decidiu que não há direito constitucional ao aborto. Isso foi feito com a mobilização do Partido Republicano e do governo Trump.
Como muitos estados passaram a restringir o direito ao aborto após a decisão da Suprema Corte, o ex-presidente não especificou se apoiaria uma proibição federal ou com quantas semanas de gravidez ele apoiaria a proibição. Com isso, revelou que está intimidado diante da controvérsia que se tornou o tema no país.
Trump considera que a solução para a inflação no país, é produzir mais petróleo nos EUA. Afirmou que, durante o período em que comandou os Estados Unidos, o país era independente quanto à geração de energia e que o custo do gás caiu para níveis recordes. Ele ignorou que os maiores efeitos da inflação de combustíveis ocorreram devido à guerra na Ucrânia.
Sobre os EUA terem atingido o teto da dívida estabelecida pelo Congresso em janeiro e o impasse para resolver o problema, a solução do empresário é promover cortes de gastos e pagar as dívidas. “Estamos gastando dinheiro como marinheiros bêbados”, disse Trump, defendendo que o governo deveria declarar default (moratória).
“Nosso país está sendo destruído por pessoas estúpidas, por pessoas muito estúpidas”, destacou.
Desgaste judicial
A conversa ocorreu um dia após o ex-presidente ter sido condenado por um júri em Nova York a pagar 4,7 milhões de dólares à escritora E. Jean Carroll por abuso sexual. Trump é o primeiro presidente americano que já foi acusado criminalmente.
O empresário enfrenta uma série de problemas legais que ameaçam suas aspirações à Casa Branca. Cerca de dez mulheres já acusaram-no de conduta sexual inapropriada. Sobre os eleitores que entendem que isso o desqualifica para a corrida eleitoral, Trump disse que o caso foi inventado e que tudo foi motivado politicamente.
No início de abril, um grande júri o acusou formalmente por 34 delitos pelo suposto pagamento oculto, em dinheiro, para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, na reta final da campanha eleitoral de 2016.
Ele também é investigado por tentar reverter sua derrota nas eleições de 2020 no estado da Geórgia, por uma suposta má gestão de documentos oficiais retirados da Casa Branca e por um possível envolvimento no ataque ao Capitólio.
por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado