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Sexta-feira, Setembro 20, 2024

Roberto Carlos: 8 décadas de uma vida que se dedica à expressar a alma do brasileiro

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

Em homenagem a Roberto Carlos, publicamos duas músicas emblemáticas de sua longa carreira: a romântica e delicada, Café da Manhã, de 1978, e outra inserida em um contexto mais politizado, que remete à dureza do exílio político durante a ditadura militar, Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos, de 1971.

Roberto Carlos Braga nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, em 19 de abril de 1941, portanto há 80 anos. Filho de uma família simples e modesta, começou sua carreira no início da década de 1960, sob influência do rock e da bossa nova, com composições próprias em parceria com o amigo Erasmo Carlos. Ganhou fama em um programa na Record chamado Jovem Guarda, ao lado de Erasmo e Wanderléa. As músicas, que rapidamente fizeram sucesso, tinham clara inspiração da banda inglesa, The Beatles, e também do americano Elvis Presley. Naquele início, Roberto estrelou filmes como Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968), com músicas com “Eu sou terrível”, “Por Isso Corro Demais” e “Quando”, na trilha sonora.

Foi na década de 1970 que ele assumiu um perfil predominantemente romântico, passando a atingir um público mais adulto. Entre 1961 e 1998, Roberto lançou um disco inédito por ano. Atualmente continua se apresentando com frequência, e estrela anualmente o especial intitulado Roberto Carlos Especial, exibido na semana do Natal pela Rede Globo.

As duas músicas que selecionamos aqui são da década de 1970. Uma mais romântica e outra mais social, que remete à dureza do exílio político durante a ditadura militar.

 

Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos

Quando estava, em Londres, para onde fora deportado em 1969 pela Ditadura Militar, Caetano Veloso recebeu a visita de Roberto Carlos, que cantou As curvas da estrada de Santos com ele.

Em seu livro Verdade Tropical, lançado em 2008, Caetano Veloso confessa que se emocionou e chorou muito naquela ocasião. Impressionado com a emoção do amigo, Roberto Carlos o homenagearia em seu disco seguinte com a composição “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, em 1971. Aproveitamos este belo gesto para também homenagear alguns dos principais exilados políticos brasileiros da época da ditadura militar que aparecem em imagens neste video. São eles:

José Ibrahim, , Rolando Frati , José Dirceu , Agonalto Pacheco, Flávio Tavares, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Mario Zanconato, Ricardo Vilas, Ricardo Zarattini, Vladimir Palmeira, Luís Travassos, Onofre Pinto, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti, Miguel Arraes, Luis Carlos Prestes, Herbert José de Souza (Betinho), Gregório Bezerra, Leonel Brizola, os músicos Gilberto Gil e Caetano Veloso, o presidente João Goulart, João Amazonas, entre outros.

Roberto Carlos/Erasmo Carlos/1971

Um dia a areia branca
Teus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos
A água azul do marJanelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E ao se sentir em casa
Sorrindo vai chorarDebaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instanteAs luzes e o colorido
Que você vê agora
Nas ruas por onde anda
Na casa onde moraVocê olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante

Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho

Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante

 

 

Café da manhã

A música brinca com elementos do cotidiano. O café, o quarto, as horas, o tempo correndo lá fora e, sobretudo, deixar de ir trabalhar como prova de amor. É a subjetividade de um trabalhador. Uma intimidade talhada pela cadência do trabalho.

Composição: Roberto Carlos/1978

Amanhã de manhã
Vou pedir o café pra nós dois
Te fazer um carinho e depois
Te envolver em meus braços

E em meus abraços
Na desordem do quarto esperar
Lentamente você despertar
E te amar na manhã

Amanhã de manhã
Nossa chama outra vez tão acesa
E o café esfriando na mesa
Esquecemos de tudo

Sem me importar
Com o tempo correndo lá fora
Amanhã nosso amor não tem hora
Vou ficar por aqui

Pensando bem
Amanhã eu nem vou trabalhar
E além do mais
Temos tantas razões pra ficar

Amanhã de manhã
Eu não quero nenhum compromisso
Tanto tempo esperamos por isso
Desfrutemos de tudo

Quando mais tarde
Nos lembrarmos de abrir a cortina
Já é noite e o dia termina
Vou pedir o jantar

 


Texto em português do Brasil


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