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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Sage Femme, filme francês no encerramento

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Termina esta noite a 62ª edição da SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid. Para a sessão de encerramento foi programada a exibição, extra-concurso, de ‘Sage Femme’, filme de Martin Provost que reúne duas grandes actrizes do cinema francês: Catherine Frot e Catherine Deneuve. A primeira representa o papel de Claire, uma parteira (em francês, ‘sage-femme’) à beira da reforma, que trabalha num hospital público. É também uma ‘sage femme’ – mulher ponderada e com sabedoria, sem hábitos extravagantes e com uma vida regrada e solitária. O contrário de Béatrice (Catherine Deneuve), ex-amante do pai de Claire, entretanto falecido. Quando sabe que sofre de uma doença incurável Beatrice procura a filha do seu antigo amante. ‘Sage femme’ é assim o encontro de duas mulheres com temperamentos e hábitos diferentes (ou opostos). O tempo e as circunstâncias promoverão a aproximação entre as duas.

À espera do palmarés

Nessa sessão será anunciada a lista dos filmes premiados. Numa secção oficial que nos pareceu demasiado extensa, o nível médio dos trabalhos apresentados foi, em nossa opinião bastante razoável. Alguns filmes menores, mas outros bem interessantes. A SEMINCI goza da ‘vantagem’ de não pertencer à ‘primeira divisão’ dos festivais de cinema e, por isso, pode ter em concurso obras premiadas noutras paragens.

Sally Potter

The Party’, de Sally Potter

De entre os filmes mais falados como potenciais vencedores destaca-se ‘The Party’, da britânica Sally Potter, uma interessante abordagem, num registo de comédia dramática, da desilusão ou frustração que nos dias de hoje marca aqueles que foram jovens nos anos sessenta e que, nessa altura, julgavam poder mudar o mundo. ‘The Party’ estreará em Portugal na próxima semana e é um título que desde já recomendamos.

Ai Weiwei

‘Human Flow’, de Ai Weiwei

Outro trabalho que impressionou fortemente a crítica presente em Valladolid é ‘Human Flow’ do chinês Ai Weiwei. Trata-se de um documentário impressionante sobre os refugiados e a emigração, mais ou menos forçada, por motivos políticos, religiosos ou económicos ou, mais prosaicamente, sobre a fuga da fome e da guerra. Uma realidade de países asiáticos, africanos e  americanos cujas ondas de choque atingem a Europa de forma contundente. Estamos habituados a ver diariamente imagens dessas situações através da televisão. O que, para nós se foi tornando como um facto banal, é tratado por Ai Weiwei de uma forma que nos obriga a encarar este fenómeno de uma maneira como nunca o vimos. Será que vamos ter um documentário no palmarés da SEMINCI?

Na lista dos favoritos aparecem também ‘The Rider’ filme norte-americano de Chloé Zhao, uma revisitação da América rural a propósito de um jovem cavaleiro de ‘rodeos’ que, vítima de um acidente, vê os seus sonhos desabarem e ‘Gabriel e a Montanha’ no qual o brasileiro Felippe Barbosa recria, num tom poético e nostálgico o longo périplo por vários países africanos de um jovem que gastou o último ano da sua vida a conhecer uma África que não consta dos circuitos turísticos, da subida ao Kilimanjaro à partilha de vida com os habitantes de várias aldeias da Zâmbia ou do Quénia. Gabriel Buchmann a cuja memória o filme é dedicado e que era amigo de Felippe Barbosa acabou por morrer junto à fronteira do Malawi com Moçambique.

Ficamos assim à espera do palmarés da SEMINCI. Veremos se o júri coincidirá ou não com os nossos prognósticos.

 Islândia – o país convidado

‘Hross í oss’, de Benedikt Erlingsson

Islândia: O país convidado

Todos os anos a SEMINCI dedica um ciclo a uma cinematografia. Este ano o país convidado foi a Islândia que, apesar de ter pouco mais de 300 mil habitantes e de ter uma escassa produção cinematográfica, tem vindo a conquistar, nos anos mais recentes, o reconhecimento de festivais de muitos países. Em Portugal o FESTROIA foi uma porta aberta para o cinema islandês, mas poucos lhe seguiram o exemplo. Já em Espanha os êxitos têm sido assinaláveis. Em 2013, ‘Hross í oss’ / De Cavalos e Homens, de Benedikt Erlingsson (que fez parte da mostra agora realizada) conquistou o Prémio Novos Realizadores em San Sebastián e dois anos depois ‘Sparrows’ de Rúnar Rúnarsson  obteve a Concha de Ouro do festival ‘donostiarra’. No mesmo ano de 2015, o vencedor da SEMINCI foi ‘Rams’ /Carneiros, de Grímur Hákonarson e ‘Fúsi’ / Virgin Mountain, de Dagur Kári, proporcionou a Gunnar Jonsson o prémio para o Melhor Actor.

Por isso, foi com toda a naturalidade que na SEMINCI/2017, passou um ciclo de 17 filmes islandeses dos últimps vinte anos, organizada com a colaboração do Icelandic Film Centre.

O cinema islandês esteve também presente na secção oficial com ‘Undir trénu’ (Under The Tree), de Hafsteinn Gunnar Sigurdsson. Uma disputa entre vizinhos a propósito de uma árvore situada num quintal de uma casa e que provoca uma sombra indesejada pelos proprietários da casa do lado, vai subindo de tom numa espiral de tensão que culmina em cenas de grande violência. Um filme muito ao estilo de um cinema nórdico que partido de situações calmas e às vezes cómicas  se vai tornando dramática e explosiva.

Jean-Pierre Melville não foi esquecido

Ciclo Jean-Pierre Melville

Jean-Pierre Melville

A exemplo do que tem acontecido um pouco por toda parte (entre nós, na Cinemateca Portuguesa e no âmbito da Festa do Cinema Francês) o centenário do nascimento do realizador francês Jean-Pierre Melville, que ocorreu no passado dia 20, também foi assinalado na SEMINCI.

A este propósito a mostra de Valladolid dedicou a este cineasta, percursor da ‘nouvelle vague’ e nome fundador do policial e do ‘noir’ francês um mini-ciclo intitulado  “Jean-Pierre Melville. De soledades, silencios y rituales”, no qual foram projectados ‘24 Heures de la Vie d’un Clown’, ‘Le Doulos’, ‘Codename Melville’ e ‘In The Mood for Melville’. Paro o apresentar esteve no festival Laurent Grousset (que  há dias proferiu uma conferência em Lisboa), coorganizador da comemoração do Centenário, realizador, sobrinho e colaborador de Jean Pierre Melville.

A evocação de Jean-Pierre Melville foi organizada em colaboração com o Instituto Francês.

Le cercle rouge

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