Não houve ponta de nostalgia quando, em Janeiro de 2011, com a minha primeira edição das “Redacções do Rogérito” eu recordava as da Guidinha.
Julgo que o mesmo se passará com a autora das redacções da “Nova Guidinha”. O que me move, e o que a moverá a ela, não é apenas o prazer lúdico de brincar com as palavras mas, sobretudo, a redescoberta de uma forma de comunicação que conseguia romper com o espaço espartilhado e vigiado pela censura fascista.
Faz sentido hoje reinventar o objectivo e o estilo? Eis uma pergunta que seria (quase) disparatada, não fosse a lembrança de intervenções de alguns jovens jornalistas no seu Congresso, em Janeiro passado e o sepulcral silêncio a que as remeteu a imprensa.
Inquieta? Não tanto como no passado, mas é seguro estar alerta. É que se é verdade que os processos repressivos de então já não terão mais lugar, não é menos verdade que bastará a ameaça da omissão, do desemprego ou do trabalho precário para que o resultado seja o mesmo.
Parafraseando uma célebre frase, diria que é preciso que muita coisa mude, para que tudo fique na mesma.
Aproveito para render homenagem ao “pai” da Guidinha em tempos em que a Justiça pactuava com o “regime” e em que a liberdade era crime:
«7 de Abril de 1967 – O Magalhães Godinho esta tarde:
-O Supremo Tribunal de Justiça negou, por unanimidade, o “Habeas Corpus” ao Sttau Monteiro.
E com voz nítida e articulada, para o futuro ouvir bem, repetiu: -POR UNANIMIDADE.
A palavra “unanimidade” ainda conseguiu assombrar o grupinho…
Nem um, ao menos? Nem um juiz, ao menos?»
«10 de Abril de 1967- Garantiram-me que o Sttau Monteiro mandou uma carta ao chefe da PIDE, nos seguintes termos: constando-lhe que a Mãe e outros familiares faziam diligências no sentido de o libertarem, em troca duma declaração de repúdio da peça, vinha preveni-lo de que nunca entraria em compromissos desse género, visto orgulhar-se muito de ter escrito “A Guerra Santa”.»
José Gomes Ferreira
em “Os Dias Comuns” Vol. II