… que o fracassado golpe de 15 de julho não foi ordenado por Fetullah Gülen; que a purga pós-golpe visou aprofundar o poder de Erdoğan. E contudo, a Europa protestou tarde e a má horas.
Agora, a 21 de janeiro, o Parlamento turco aprovou um pacote de reformas que, a passar num referendo em abril, fará de Erdoğan um ditador, com controlo dos poderes executivo legislativo e judicial.
O presidente eleito pelo povo será o chefe do executivo. Continuará a ter ligações com o partido. Como presidente e parlamento nomearão os juízes e procuradores dos tribunais superiores, controlarão a justiça. A Turquia ficará um regime sem controles nem contrapesos.
Quando se trata de adular o poder, a Turquia é Próximo Oriente puro. Há mulheres que se oferecem para co-esposas do líder e deputados no parlamento que dizem que tocar no líder é sinónimo de oração. Como diz o provérbio O dervixe voa por causa de quem o adora.
Erdoğan já lançou a campanha de referendo. O Partido de Justiça e Desenvolvimento (AKP) e o novo parceiro de coligação, o Movimento Nacionalista (MHP) organizarão inaugurações em cadeia, usando os fundos públicos para a propaganda.
O parlamento tem dois partidos e alguns resíduos. À esquerda, o Partido Republicano (CHP) faz má figura. Por outro lado, Erdoğan tentará afastar em novas eleições os partidários de Fetullah Gülen – alegadamente perdoados em troca do sim à emenda constitucional.
Boas notícias? O declínio da lira turca abrandou. O mercado será inundado com moeda. Mas os incidentes terroristas serão um argumento a favor dos superpoderes presidenciais.
A Turquia é como um autocarro sem travões com uma parede de cimento à frente.
A qualquer momento, o estado profundo turco ou, como diz o relatório do INTCEN, o AKP profundo pode atear fogo a uma mesquita, bombardear um monumento a Atatürk e culpar as hordas fascistas grego-cipriotas, como em Chipre.
As ações provocadoras e a fabricação de provas tornaram-se uma especialidade como nos casos Ergenekon e Sledgehammer; centenas de pessoas desapareceram na prisão. Houve tempo em que os gülenistas serviram de forma piedosa para o AKP se vingar dos secularistas. Os tempos mudaram. Agora os gülenistas enchem as prisões.
66 anos depois de aderir à NATO, a Turquia voltará à regra de partido único que foi obrigada a abandonar em nome do respeito à lei e ao direito?
Estará a Turquia a caminho de uma ditadura de facto? O autoritarismo quer ser a Nova Ordem Mundial? Será que se desvaneceu a memória coletiva dos anos 30, e o planeta precisa de aprender de novo a lição?
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90