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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Um Domingo com sessenta horas

Eduardo Águaboa
Eduardo Águaboa
Escritor, Ensaísta, Comentador político especializado em ideias gerais

No Domingo olhámo-nos de forma estranha e dissemos, como pudemos, que nos admirávamos, através de toda a nossa intimidade.

No Domingo fitaste-me espantada por eu ter conseguido conservar um segredo absoluto, uma outra vida e outro nome ou dois. E afagaste a minha febre num abraço grego.

eduardo-aguaboaNo Domingo cantámos umas músicas do Palma e chamámos a Portugal a criança mais mimada do mundo.

No Domingo caminhámos através da propriedade do teu pai. Havia um tractor Ford qualquer-coisa estacionado a uma pequena distância da porta. Não havia relva, só ervas. E lama. Tu trazias botas estritamente italianas, com as solas mais finas possíveis, e eu ténis.

O caseiro trouxe-te umas galochas e ajudou-te a calçá-las. Eram grandes demais, mas ficaste muito atraente. Comigo o homem não teve tal amabilidade.

Do Domingo aplaudiste de pé o meu prémio literário e achaste-me pretensioso porque não tinhas ninguém melhor do que eu. Primeiro fiquei imóvel, depois recompus-me e pus-me a andar.

No Domingo desfilaste como nunca e passei o tempo a admirar a tua altivez e a desejar-te cada vez mais. E pedi-te para desceres, “é melhor que o faças já!”

lua-cheia

No Domingo não jantámos, deixámos de nos preocupar com isso, é assim que gostamos, sobretudo quando perdes o «controle», quando ficas indefesa, a deixares as tuas entranhas a trabalharem à vontade, o teu pequenino peito a pulsar e aqueles estremecimentos finais…ui, aqueles estremecimentos finais…merecíamos a prisão ou, pior, ouvir uma sessão de Assunção Cristas.

No Domingo, a noite teve sessenta horas.

Compreendo que não me queiras voltar a ver.

 

P.S: A minha crónica Le Roi Soleil, reconheço, está cheia de imprecisões históricas. Eu devia era estorricar o PSD e o CDS, os pais da Lei. Não fui cuidadoso, fui desobediente ao rigor e por isso dobro-me em desculpas. Já me infligi os açoites merecedores. Tenho aqui, à vossa disposição, as minhas costas para lhe aplicarem as que entenderem por bem. É que o rigor deste jornal e de todos quantos aqui trabalham não o mereciam. E não tenho uma frase que sirva de meu braço armado para os defender.

Punam-me à vontade! Só para ver se aprendo.

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