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João de Sousa

Terça-feira, Abril 23, 2024

Uma breve visão transversal dos caminhos da Educação na CPLP

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Depois de alguns anos a trabalharmos na educação em Portugal (e não são poucos) e com experiência acumulada de formação, atrevemo-nos hoje a afirmar de forma categórica que Moçambique, como Angola, a Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde (menos) e Timor-Leste, ainda vão a tempo de não cometer os mesmos erros que foram cometidos em largos anos pelos portugueses e brasileiros na educação em termos gerais.

Assistiu-se nos últimos vinte / trinta anos em Portugal a um incrível e assinalável mas caótico “boom” de universidades e institutos superiores e politécnicos universitários privados quase sem  limites, com um nível de exigência muito baixo, fraco ou praticamente nulo e algumas delas sem o mínimo de qualidade exigível neste grau de ensino (e muito mais ainda neste). Já vimos muitos  professores universitários a cometerem erros ortográficos muito sérios e vergonhosos.

Agora assiste-se ao virar de olhos para África no campo da educação. Universidades e Institutos superiores e politécnicos universitários privados e estatais surgem como cogumelos. Há metas para formação em “fórmula um” de professores, formadores, educadores, animadores, antropólogos, historiadores, filósofos, biólogos, químicos, físicos, engenheiros, linguistas, advogados, enfermeiros, médicos, técnicos, jornalistas, entre outros. A velocidade tornou-se um modus operandi, todos devem possuir um Diploma; portanto tornou-se prioritária, mas neste caso prejudicial, pois é uma formação deficitária e cheia de lacunas; sabemos bem que a pressa sempre foi e será  inimiga da qualidade.

Embora seja salutar pensarmos no surgimento de mais universidades e institutos superiores e politécnicos universitários com mais oferta formativa e mais oportunidades (massificação), estas deveriam seguir um conjunto de normas e critérios a respeitar para a autorização sem mácula da sua abertura.

Para a aceitação de qualquer projecto de universidades privadas ou até estatais, dever-se-iam, em primeiro lugar, elaborar critérios básicos de exigência relativamente aos formadores /corpo docente (Licenciados com pós-graduações, Mestres e Doutores), selecção de formandos que obedecessem a regras de qualidade curricular (com provas escritas e orais credíveis; júris credíveis), para não se permitir a formação medíocre ou má de quadros que são efectivamente fundamentais para estes países. Parece haver receio de se abordar o assunto no âmbito da CPLP.

Ainda no quadro da CPLP e relativamente à cooperação, a contratação de professores “estrangeiros” pelos governos africanos e de Timor-Leste, seria de propor a formação de comissões de qualidade do ensino nacionais que exigissem e fiscalizassem a qualidade dos contratados e dos currículos dos cursos propostos para abertura e a sua premência. Um mau quadro em Portugal ou Brasil é também mau quadro em Moçambique, em Angola, na Guiné-Bissau, em São Tomé e Príncipe, em Cabo Verde ou Timor-Leste. E um bom profissional e competente é sempre bom em qualquer local (ainda que por vezes falte motivação nestes profissionais e que passam pelo crescente desprestígio, desrespeito e desconsideração à que estão sujeitos quer em Portugal quer no Brasil) e por vezes mesmo nalguns dos já citados países  africanos onde chegam a ter salários em atraso.

Depois é bom que não nos esqueçamos que em Moçambique, como em Angola, na Guiné-Bissau como em  São Tomé e Príncipe, em Cabo Verde como em Timor-Leste, também há muitos profissionais da educação com formação superior e outros com formação média não superior que possuem enormes qualidades e potencial, só que nunca tiveram oportunidades de realizar formação complementar ou de frequentarem cursos e formações complementares de reciclagem.

Ainda acreditamos que se vai a tempo de evitar e corrigir (se necessário for), os erros cometidos por Portugal e arriscamos também, pelo Brasil (segundo alguns excelentes profissionais deste país) na área da educação e alguns intelectuais.

Compete-nos, a nós, cidadãos preocupados e interessados, objectivamente ligados a interesses de soberania, liberdade, responsabilidade e direitos de justiça plena para todos, combater o fatalismo, o catastrofismo, a negação das certezas no lavrar dos vastos campos do futuro. Compete-nos fortalecer a esperança, revoltando-nos contra tudo o que é inócuo e contra os que, do poder, tomaram para si as sangrentas emanações da embriaguez totalitária e irresponsável (invocando para si todos os direitos, que não os deveres e obrigações das cartas democráticas). Compete-nos, numa palavra contribuir para que todos os sistemas de regeneração e progresso, apontem para diante, para o porvir sem retrocessos.


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