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Quarta-feira, Março 27, 2024

Visita histórica de Obama a Cuba

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O presidente dos EUA, Barack Obama, iniciou na noite deste domingo uma visita histórica a Cuba. É o primeiro chefe de Estado norte-americano a pisar a ilha em quase noventa anos, numa ocasião onde se espera uma nova etapa nas relações entre os dois países.

A agenda de Obama é apertada: depois de aterrar em Havana, vai ter encontros com Raúl Castro, presidente cubano, e com empresários de vários ramos de negócios, revelou a CBS News. A visita inclui deslocações à catedral da cidade e à parte histórica da capital cubana, bem como uma aparição num jogo de baseball que oporá o Tampa Bay Rays e a selecção cubana da modalidade.

 

O último presidente norte-americano a visitar Cuba foi Calvin Coolidge, em 1928, que chegou à ilha num navio de guerra

Barack Obama partiu da Joint Base Andrews, estado de Maryland, na tarde deste domingo, acompanhado da esposa e das duas filhas, e de uma comitiva de quarenta membros da Casa Branca e do Senado. Também está prevista a deslocação de um grupo de empresários e homens de negócios, interessados nas possibilidades de investimento na ilha.

No passado Outono, meses depois das primeiras acções para normalizar as relações entre os EUA e Cuba, a embaixada americana reabriu em Havana, o que simboliza o restaurar de relações diplomáticas bilaterais. No mês passado, EUA e Cuba assinaram um acordo para restabelecer o tráfego aéreo comercial – pela primeira vez em 50 anos.

Esperam-se ainda avanços na intenção de Obama em fechar, de forma definitiva, a prisão de Guantanamo.

O New York Times revelou também que, num gesto diplomático e descontraído, Obama aceitou participar num popular programa cómico de Cuba, onde se  interpretou a si próprio (o chamado cameo). Obama “falou ao telefone” com Luis Silva, um humorista cubano conhecido por Pánfilo, que depois de muitas tentativas para ligar para a Casa Branca, consegue finalmente falar com o presidente norte-americano.

Ambos os interlocutores agem com incredulidade, quando se apercebem que estão a falar com “o verdadeiro Obama” e “o verdadeiro Pánfilo”, e fazem piadas sobre o modo de vida em Cuba e a visita do presidente dos EUA. O humorista recomenda evitar o excesso de bagagem durante a viagem, e chega a oferecer a sua própria casa ao casal presidencial, caso não tenham onde pernoitar. O sketch termina com Obama a dizer que ambos os povos são amigos.

 

Críticas republicanas à visita

Porém, nem todos partilham do entusiasmo que rodeia esta visita presidencial. Dois republicanos manifestaram-se de forma negativa. Donald Trump, candidato à Casa Branca, escreveu na sua conta de Twitter: “Uau, o presidente Obama acabou de aterrar em Cuba, grande coisa, e Raúl Castro nem sequer estava lá para o receber. Ele recebeu o Papa e outros. Não há respeito”.

Outro republicano que lançou críticas a esta visita foi Ted Cruz, senador do Texas e filho de um cubano: ao site Politico, endereçou um artigo de opinião onde frisa: “Em Cuba, os Castro têm sido os inimigos implacáveis dos Estados Unidos por mais de meio século. É do nosso interesse fazer causa comum com as almas corajosas que se opõem a eles. Esta é a razão pela qual é tão triste e injurioso para o nosso futuro, bem como para o de Cuba, que Obama tenha escolhido legitimar o regime corrupto e opressivo de Castro com a sua presença na ilha”.

 

Dissidentes alvo de “repressão preventiva”

Os dissidentes cubanos afirmam não ter a vida facilitada pelo regime: escreve o New York Times que, apesar de haver uma reunião prevista entre o presidente norte-americano e críticos do regime de Castro na embaixada dos EUA em Havana, alguns dissidentes foram impedidos de entrar em território de Cuba pelas autoridades.

Elizardo Sánchez, uma das vozes mais críticas e activas contra o regime, foi “retido” pelas autoridades no aeroporto de Havana durante várias horas; trata-se de uma estratégia não só de segurança, mas de prevenir “surpresas desagradáveis”.

Este domingo, a marcha das Senhoras de Branco, um grupo dissidente destacado, foi alvo das autoridades cubanas: os polícias detiveram dezenas de manifestantes, num claro sinal de força. “O governo de Cuba é como um pai. Forte, mas preocupado com a família”, afirmou Carlos Alzugaray Treto, ex-diplomata cubano.

Sánchez acusa o governo de Havana de ter intensificado as detenções perto da data da visita: o activista afirma que cada mês, cerca de mil detenções foram feitas, para intimidar os dissidentes. “O que se vê agora é a repressão preventiva, para que ninguém diga nada a Obama enquanto ele cá está”, denuncia o activista.

A propaganda nas ruas mudou: em vez dos cartazes com as usuais mensagens anti-imperialistas, Havana agora tem sobretudo cartazes que apelam à denúncia da violência doméstica, o combate aos mosquitos e à preguiça. As obras e arranjos feitos nos locais onde está previsto que Barack Obama circule contrastam com a decadência de outras zonas da cidade, escreve o jornal. Em simultâneo, prostitutas de rua e sem-abrigo começaram a ser retirados ou expulsos das mesmas zonas.

O cepticismo em torno da viagem de Obama também atinge alguns cubanos: a agência Reuters entrevistou alguns habitantes que se debatem com a pobreza no dia-a-dia, para quem esta visita não trará a mudança esperada. “Ele vem, faz uma viagem num carro antigo, fuma um charuto e depois vai-se embora”, diz Alberto Hernandez, afro-cubano, varredor de ruas de profissão; por sua vez, Yolanda Sanchez, que mora há doze anos num quarto provisório enquanto espera uma casa dada pelo governo de Havana, diz: “Isto é só fachada. Para nós, nada é reparado”, aludindo às obras de melhoramento das zonas onde o presidente dos EUA vai passar durante a visita.

O suavizar das sanções norte-americanas a Cuba e a abertura parcial do regime a uma economia privada beneficiou sobretudo os cubanos de origem branca. As desigualdades na ilha continuam em elevado grau. O sociólogo cubano Aurélio Alonso, entrevistado pela agência noticiosa, diz que “este é um dos maiores desafios para o Estado: o controlo da desigualdade”.

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