Aos abrigos! O Dia Mundial da Mulher ataca em todas as frentes. Andam machistas e conservadores com rosas nas ruas, hoje a promessa deles foi “não te bato até ser amanhã” e Cristina Ferreira, convidada pelo CDS, estará no Parlamento para “sinalizar” o “dia histórico” e falar sobre liderança.
Protegei a hipocrisia, portanto. O refrão de uma das mais ouvidas músicas do país é bem clara:
“Eu tou na noite
Em casa eu não estava bem
vim p’ra noite
Ninguém discutiu com ninguém
Mas estava meio estranho
Um clima pesado
Não sei como explicar
Mas também não quero explicar
Só sei que hoje vou-me estragar
estragar, estragar, estragar”
O que é melhor do que o outro que afirma “ela cozinha muito bem eu é que não como em casa ela me espera toda noite e eu só chego a madrugada,ela me trata muito bem eu que me zango à toa oh meus sogros vou devolver
eu sou da rua, eu sou da noite, eu sou da nguenda, eu sou do copo,eu não mereço”.
Cuidai do dia da Mulher Mundial enquanto o anúncio da Staples figura uma mulher que “imprimiu todos os ficheiros e fotografias” porque ouviu falar de “um virus no computador” e acaba a perguntar “fiz mal, amor?”.
Saudai o dia da Mulher Mundial quando a girl for the job Maria Luís tem de ir à comissão de ética explicar porque vai ganhar dinheiro numa empresa britânica enquanto os seus colegas deputados continuam com os seus escritórios a fazer milhões com privados que têm interesses directos de lóbis perante o Estado e nem sequer os chamam para assinar o ponto.
Aplaudi o dia da Mulher Mundial, sem nunca o perceber, quando ainda se saúda a estatística sobre quando e como deve ser usada a licença de parentalidade pelos homens, quando se devia já olhar para isto com total paridade.
Regozijai a decisão da União Europeia em criar um muro aos refugiados e admitir “trocas” de pessoas, sabendo nós que entre os motivos da porta fechada está o aumento para 54 por cento de mulheres e crianças a querer entrar na Europa, este ano, e que a Europa (que por acaso é uma mulher) não quer o fardo feminino. Quer é braços masculinos para o labor escravo e meninas para o sexo. Mães e mulheres adultas é que não.
Ide dar rosas, que a culpa do machismo atroz em que vivemos, amanhã já passa.
“De Eva a mulher astronauta
vivo todas as idades,
um fausto de lua lauta
no brilho das brevidades.
Canta-me um louco na pauta,
demónios e divindades
compartilham essa flauta
das minhas variedades.
Ó universo inventado
de noutros me perceber.
Tanto tempo utilizado
numa manhã por nascer!
Sujeitos a estranhas leis
com a sua loucura a sós
solitários como os reis
os poetas dizem: nós.
E pela mesma magia
que ainda ninguém entendeu,
no côncavo da poesia
um deus que falta diz: eu.”


