O Papa Francisco, líder máximo da Igreja Católica, e o patriarca Kirill de Moscovo, líder da Igreja Ortodoxa, vão encontrar-se em Cuba, no dia 12 de Fevereiro.
É a primeira vez que um Papa e um patriarca de Moscovo se encontram de forma oficial. Este encontro, previsto para a breve escala em Cuba a ser efectuada pelo Papa antes de seguir para uma visita pastoral ao México, tem como tema principal a perseguição dos cristãos no Médio Oriente, embora também esteja previsto que ambos os líderes assinem uma declaração conjunta sobre o diálogo entre ambas as igrejas.
A Renascença cita o director da Sala de Imprensa da Santa Sé ao afirmar que este encontro levou dois anos de negociações até à sua concretização.
A par das diferenças entre católicos e ortodoxos, existem preocupações em comum, como a perseguição que os cristãos sofrem no Médio Oriente; a igreja da Rússia manifestou apoio à intervenção militar de Moscovo na Síria, invocando a necessidade de proteger as comunidades cristãs sírias dos ataques vindos dos fundamentalistas islâmicos.
Os antecessores do Papa Francisco, João Paulo II e Bento XVI, tinham manifestado o desejo de visitar a Rússia, mas as autoridades políticas e religiosas sempre tinham negado esse pedido.
Sabe-se que a igreja ortodoxa russa é muito resistente a encontros ecuménicos, pelo que se avança com a hipótese de que este encontro poderá finalmente acontecer porque será em território “neutro”.
À primeira vista, trata-se de uma coincidência, já que o patriarca ortodoxo se encontrará em visita a Cuba na mesma altura em que o Papa fará escala no país; outra hipótese que foi ponderada foi Viena de Áustria, cujo bispo ortodoxo, Hilarion, mediava as relações com a Igreja Católica.
Sabe-se também que os esforços do líder da Igreja Católica para facilitar o histórico fim do bloqueio de Washington a Cuba, país do qual a Rússia é próxima, permitiram uma reaproximação entre o Vaticano e Moscovo.
Desentendimento entre as duas Igrejas tem vários séculos
As duas igrejas cristãs estão separadas desde 1054, ano em que o Papa e o então patriarca de Constantinopla se excomungaram um ao outro. Na origem da separação estão razões teológicas e geopolíticas, numa época em que já não existia Império Romano ocidental e a sede do poder imperial era Constantinopla.
A Ocidente, consolidou-se a autoridade do Papa como líder supremo; as igrejas ortodoxas optaram por um modelo de comunhão entre si, independentes em termos de autoridade, com o patriarca de Constantinopla a ser considerado primus inter pares.
A resistência dos ortodoxos em reconhecer o papel de autoridade do Papa católico (resistência acentuada no caso da Rússia) vem do facto de se queixarem do proselitismo por parte de Roma em territórios que consideram seus, em termos históricos.
A Ucrânia, por exemplo, é ortodoxa nos seus ritos, mas fiel a Roma, e foi perseguida durante o regime soviético, só recuperando a sua autonomia de fé nos anos 90. Apesar disso, muitas das propriedades da igreja católica oriental mantiveram-se em mãos ortodoxas.
Um dos sinais de abertura ao diálogo foi dado em Janeiro deste ano: no final da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o Papa Francisco pediu desculpas a todos os cristãos que tenham sido ofendidos ou mal tratados pelos católicos ao longo dos séculos.