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Quarta-feira, Março 27, 2024

3 perguntas a… Joana Amaral Dias

J. A. Nunes Carneiro, no Porto
J. A. Nunes Carneiro, no Porto
Consultor e Formador

Psicopatas Portugueses | Oficina do Livro

Joana Amaral Dias
É psicóloga clínica, professora universitária, activista e autora de várias obras, nas quais emprega as ferramentas e os conhecimentos da Psicologia e da Política para ler e interpretar o mundo.  Colabora assiduamente em jornais, revistas e televisão enquanto comentadora e analista política. (Wook)

 


Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro “Psicopatas Portugueses”?

Enquanto clínica, o profiling e a avaliação psíquica são o meu quotidiano. Entre o meu consultório, as peritagens em tribunal e as minhas crónicas criminais na televisão, a psicologia forense está sempre presente. Sucede que certo dia dei conta que, em Portugal, não havia um único trabalho clínico e de divulgação científica sobre os maiores homicidas portugueses. Ao contrários de outros países, onde crime-rei é a estrela entre documentários e séries (o poder de decidir sobre a vida do outro é um poder divino , naturalmente altamente sedutor) por cá, havia um enorme vazio. Assim, Psicopatas Portugueses conta 13 histórias reais de grandes assassinos portugueses. Todos mataram, pelo menos, 3 pessoas e ilustram praticamente todo o espectro clínico dos homicidas: há sociopatas, narcisistas malignos, psicóticos, assassinos em série, assassinos em onda, assassinos em massa e exterminadores.

O que a mais surpreendeu durante a pesquisa dos treze caso relatados?

Surpreenderam-me, sobretudo, os casos esquecidos da memória colectiva, os grandes homicidas ocultados pelo tempo e por uma identidade nacional ficcionada que se julga impermeável ao crime violento. Assim, foi com algum espanto que descobri, por exemplo, a história do assassino em massa na Ajuda em Lisboa. Fala-se tanto dos tiroteios em liceus nos EUA ou no Brasil quando, afinal, nos anos 80, tivemos uma caso tão exemplar em Portugal- um jovem adulto armado até aos dentes que dispara sobre 300 pessoas, mata várias e acaba por cometer suicídio no próprio local. Outra história impressionante é a de Luísa de Jesus (oriunda de Coimbra) que matou mais de 30 bebés. Um Anjo da Morte que compara internacionalmente com os piores assassinos custodiantes (homicidas que matam quem têm a seu cargo- enfermeiros, amas, etc). É, realmente, um caso de alto perfil. Já Joe Barbosa foi descrito por Edgar Hoover (que dirigiu o FBI) como o mais perigoso de todos. Era um cão de fila da máfia italiana, um franco atirador sem escrúpulos, uma máquina de matar que arrancava pedaços das suas vítimas à dentada caso fosse necessário. Acabou por denunciar a Cosa Nostra, foi quem inaugurou o programa de testemunhas nos EUA e, no fim, ainda tramou a própria polícia. Era o Bárbaro de Boston ou o Animal Tuga mas ainda é pouco conhecido pelos portugueses.

Um país de brandos costumes afinal também tem psicopatas?

Portugal dos brandos costumes foi um mito criado por Salazar e a sua ditadura que queriam, por motivos óbvios, um povo fosse subserviente. Se os portugueses tivessem a crença de que, no coração da sua identidade, estavam os brandos costumes, se interiorizassem essa auto-conceito de docildade, a probalidade de se comportarem como rebanho servil e pacifista seria maior. O povo é sereno, não é? Enfim, todas as ditaduras (e até muitos regimes democráticos) apostaram na reescrita da história, na releitura do calendário, ao fim e ao cabo, na reinvenção do espaço e do tempo. O Estado Novo salazarento não foi excepção. Contudo, os tempos da Inquisição e a época dos linchamentos na rua de pessoas suspeitas de “jacobinismo” foram sinistros. Depois, só nos séculos XIX e XX contam-se por milhares os mortos em guerras civis e revoluções. Desde o regicídio de 1908, passando a guerra civil de 1919, até às vésperas do regime ditatorial amordaçar o país esvaiu-se em sangue. Portanto, temos crime violento como qualquer outro país, não somos uma nação de eunucos, anjinhos papudos, fadas, santos, virgens e puros. De resto, num crime particularmente hediondo, o assassinato de mulheres no contexto de violência de doméstica, no qual o homicida habita o coração do círculo de intimidade e confiança da vítima, somos recordistas. Reparem que temos muito mais mulheres assassinadas do que Espanha -que tem quatro vezes mais população- ou até mais do que, proporcionalmente, o Brasil, país com uma taxa de homicídios insana.

 

 

Joana Amaral Dias

Psicopatas Portugueses-13 Histórias Reais de Morte, Perversão e Horror

Oficina do Livro. 17,90€


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