No sábado passado começou a edição de 2020 da SEMINCI – Semana Internacional de Cine de Valladolid. Uma edição presencial apesar de todas as dificuldades que estamos a atravessar.
 Pois bem, ainda antes do festival começar o governo da Comunidade de Castilla y León decretou o recolher obrigatório a partir das 22 horas. E o que fez a organização do festival, em colaboração com os responsáveis e pessoal dos cinemas? Num esforço notável, da noite para o dia, refez toda a programação, com todos os filmes previstos, mas fazendo com que durante todo o certame as últimas sessões terminem  antes das nove da noite.
Pois bem, ainda antes do festival começar o governo da Comunidade de Castilla y León decretou o recolher obrigatório a partir das 22 horas. E o que fez a organização do festival, em colaboração com os responsáveis e pessoal dos cinemas? Num esforço notável, da noite para o dia, refez toda a programação, com todos os filmes previstos, mas fazendo com que durante todo o certame as últimas sessões terminem  antes das nove da noite.
Em conclusão: os espectadores ficaram com intervalos mais curtos entre as projecções, com muito menos tempo para comer, mas com muito mais tempo para dormir… apesar de a primeira sessão da manhã ser às 8h30 (7h30 em Portugal). Enfim, não se pode ter tudo!
Depois desta nota sobre as condicionamentos em que está a ser feito o festival (anoto que em todas as sessões a que assisti até agora num tive ninguém sentado a menos de dois metros de mim) falemos um pouco do cinema que por aqui passa.
 Punto de Encuentro’, um espaço para descobrir cineastas do futuro
Punto de Encuentro’, um espaço para descobrir cineastas do futuro
A presença de obras de novos realizadores é uma das imagens de marca habitual da SEMINCI.
Primeiras ou segundas obras estão presentes em todas as secções do certame mas é a área ‘Punto de Encuentro’ aquela que é expressamente assumida como o espaço de revelação de jovens talentos. Sempre integrados na matriz fundamental desta mostra espanhola: o cinema de autor. E será curioso notar a quantidade de cineastas que têm visto obras suas serem selecionadas para a secção oficial deste e doutros festivais e que aqui começaram, precisamente em ‘Punto de Encuentro’.
Recorde-se que o vencedor desta secção na edição de 2019 foi o excelente filme luso-suíço “O Fim do Mundo” de Basil da Cunha, há pouco estreado nas salas portuguesas.
Na presente edição, três das dez longas-metragens vêm da China. O Irão, a Índia, a Nigéria, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido são os cenários das 7 restantes, várias delas resultado de co-produções.
O sonho da emigração como um meio para encontrar uma vida melhor, a condição feminina em sociedades marcadamente patriarcais, a revisitação de tradições ancestrais, crises existenciais associadas (ou não) à doença, negócios pouco claros no mundo dos cuidados médicos, são alguns dos temas dos trabalhos apresentados. Temas variados desenvolvidos em cenários de geografias muito diversas. Filmes nos quais é suposto encontrar alguma originalidade tanto na forma como no conteúdo.
Dois destaques
Bu Zhi Bu Xiu
(Lo mejor está por llegar / The Best Is Yet To Come), de Jing Wang (China)

Na China, em 2003, vivem-se as sequelas da epidemia do SARS. Numa altura em que são os jornais, e ainda não a internet, o meio de comunicação dominante, um jovem obtém um lugar de estagiário num dos diários mais importantes de Pequim. Depois de ganhar o respeito e a confiança do editor começa uma investigação sobre o mundo da ‘fraude médica’. Acaba por se ver perante um dilema: publicar um trabalho de grande impacto mediático que lhe poderá valer um emprego permanente ou calar-se para não pôr em causa o tratamento de milhões de pessoas.
Eyimofe
de Arie Esiri, Chuko Esiri (Nigéria / Estados Unidos)

O sonho de um homem e uma mulher que procuram sair da Nigéria com o objectivo de melhorarem a vida dos seus familiares é desfeito por vicissitudes várias. À medida que o tempo passa e a resignação chega, aprendem que o futuro que procuram desesperadamente pode ser construído sem saírem do seu país.
Outros filmes em competição
- Eeb Allay Ooo! de Prateek Vats (Índia)
- Khate farzi / A Regra dos 180 º de Farnoosh Samadi (Irão)
- Mainstream de Gia Coppola (Estados Unidos)
- Mogul, Mowgli de Basam Tariq (Reino Unido)
- Piedra Sola ,de Alejandro Telémaco Tarraf (Argentina / México / Qatar / Reino Unido)
- Ri Guang Zhi,(La Muela del juicio), de Liang Ming (China)
- Shao Nv Jia He (El verano es la estación más fría / Summer is the Coldest Season), de Zhou Sun (China)
- Slalom, de Charlène Favier (França / Bélgica)
As curtas de “Punto de Encuentro”
São oito as curtas-metragens em competição nesta secção:
- 4 North A de Jordan Canning e Howie Shia (Canadá)
- Grab Them de Morgane Dziurla-Petit (Suécia)
- Miegamasis rajonas de Vytautas Katkus (Lituânia)
- Nattåget de Jerry Carlsson (Suécia)
- Omelia contadina de JR, Alice Rohrwacher (Itália / França)
- Sudden light de Sophie Littman (Reino Unido)
- Une chance unique de Joël Curtz (França)
- Witness de Ali Asgari (França / Irão)
As curtas-metragens de produção espanhola são exibidas no âmbito de ‘La Noche del Corto Español‘.
São elas:
- Ascenso de Juanjo Giménez Peña
- L´estranyab Them de Oriol Guanyabens Pous
- Si amanece, nos vamos de Álvaro Feldman e Laura Obradors
- Sintra III de Iván Casajus e Aitor Echeverría
- Stanbrook de Óscar Bernàcer
O júri de “Punto de Encuentro”
O júri de ‘Punto de Encuentro’ é formado pelo cineasta e escritor argentino Enrique Gabriel, pelo produtor romeno Razvan Lazarovici e pelo produtor e distribuidor espanhol Paco Poch.

Homenagem a Goran Paskaljevic
No passado dia 25 de Setembro morreu em Paris, aos 73 anos, o cineasta sérvio Goran Paskaljevic, realizador premiado em variadíssimos festivais incluindo o nosso saudoso FESTROIA. No primeiro dia desta 65ª edição, a SEMINCI homenageou o autor que participou oito vezes na secção oficial e por três vezes foi distinguido com a “Espiga de Ouro” do certame de Valladolid (em 1995 com Someone Else’s América, em 2006 com Optimisti, e em 2009).
Na circunstância foi exibido o seu filme Honeymoons (Medeni mesec), de 2009, o grande vencedor da 54ª SEMINCI.

 
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