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Sábado, Setembro 14, 2024

A economia do medo e suas consequências

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

O aumento significativo do desemprego e a redução do apoio aos desempregados (uma opinião contra a corrente)

“Acho ignóbil” que se ponha a questão “entre saúde e economia. “A economia ou a vida. A bolsa ou a vida. Voltamos a essa máxima antiga dos salteadores de estrada. É ignóbil. Porque a economia é a vida. É a vida contra a vida. Sabemos bem que se pararmos a economia durante demasiado tempo isso leva ao desemprego, o desemprego leva à miséria, e a miséria leva à morte. Portanto, não é a economia ou a vida. É a vida contra a vida”

Bernard- Henry Lévy, filoso francês que esteve recentemente em Portugal

Neste estudo analiso as causas e consequências do medo e do pânico que se alastrou por toda a sociedade portuguesa e que se mantém o que determinou o “trambolhão” da economia portuguesa, e que vai tornar ainda mais difícil e demorada a recuperação económica. Isto não significa, e espero que ninguém me acuse, de subestimar a crise sanitária e a segurança das pessoas. Mas o meu olhar sobre a realidade é diferente (nunca deixei de trabalhar no meu local de trabalho mesmo em Março, Abril e Maio, e há mais de um mês que vou todos os dias trabalhar das 9H30 às 18H00) ao daquele é transmitido pela generalidade dos media que têm incutido o medo e o pânico na população.

Também analiso, como base em dados oficiais a explosão do desemprego real, que não tem nada a ver com o desemprego oficial divulgado pelo INE, que ilude a opinião publica sobre a situação real do desemprego no pais, assim como o baixíssimo apoio aos desempregados (apenas 35 em cada 100 desempregados é que estão a receber o subsidio de desemprego cujo valor médio é apenas de 504,70€/mês). E chamo a atenção para o facto de que os números do desemprego real e da quebra significativa do PIB são apenas os primeiros sinais de uma grave crise económica e social cujas medidas para a combater tardam a chegar (o governo fala muito da “bazuca” da U.E. que ainda não conseguiu nem dar um tiro, nem sabe quando poderá dar), e não é com “lay-offs”, reduções de horários de trabalho e dos rendimentos dos trabalhadores, e com a destruição de emprego e de empresas, que se está a assistir, que se resolverá a crise.

A desorganização das Administrações Públicas já com graves insuficiências e problemas antes da crise, agravou-se imenso com o “COVID 19”, o que é muito grave pois torna muito mais difícil e demorada a recuperação da economia, do emprego e dos rendimentos já que o Estado tem um papel fundamental no combate à crise e na segurança das pessoas.

Espero que este estudo possa ser útil para reflexão e do debate sobre a situação atual do país, embora tenha consciência do carater sensível do tema, mas penso que é necessário falar verdade aos portugueses, e sobre a situação dos desempregados em que cerca de metade já estão a viver no limiar da pobreza, e o desemprego vai crescer muito

Espero que este estudo possa ser útil para a reflexão e para o debate fundamentado sobre a grave situação económica social que o pais enfrenta, em que é necessário falar com verdade, e tomar medidas adequadas, rápidas e firmes para a ultrapassar e não adiar e criar ilusões.

 

 


Estudo

A economia do medo e suas consequências, o aumento significativo do desemprego e a redução do apoio aos desempregados (uma opinião contra a corrente)

O INE acabou de divulgar os dados da economia portuguesa referentes ao 2º trimestre de 2020, tendo-se verificado uma quebra no PIB (riqueza produzida no país) de 14,1% quando comparado com a do 1º trimestre deste ano, e de 16,5% quando comparado com o 2º Trimestre de 2019 (menos 8.760 milhões € de riqueza não criada só num trimestre, e menos 3.200 milhões € de remuneração não recebidas pelos trabalhadores). E logo se levantou um coro de surpresas e de críticas quer na comunicação social quer por parte de dirigentes políticos por causa do descalabro económico.

As perguntamos que surgem imediatamente para reflexão são as seguintes: O que poderia acontecer de diferente quando se fecham empresas e estabelecimentos, se paralisa a economia, e se manda para casa quase dois milhões de trabalhadores? O que poderia acontecer de diferente quando se espalha e difunde sem um mínimo de racionalidade e de equilíbrio o medo e o pânico? Quando se assiste ao massacre diário pelos media da população confinada em casa, de manhã à noite, com noticias de mortes e de milhares de infetados, como não existissem mais doenças e mais mortes em Portugal que, com falta de assistência médica, se multiplicaram, mas de que os media não falam, logo não existem? E quando os números de mortes em Portugal não eram suficientes para aumentar o medo juntava-se os de outros países, com muito mais população? O que poderia acontecer de diferente quando se trata uma crise de saúde desta dimensão sem um mínimo de equilíbrio e de racionalidade? O que estava em jogo era demasiadamente importante e sério, e com consequências dramáticas em todas as áreas da vida dos portugueses, que merecia ter sido tratada de uma forma mais racional, rigorosa, equilibrada e planeada, e não deixada às “caixas” chocantes da comunicação social nem às declarações contraditórias dos “especialistas” e dos responsáveis da Direção Geral da Saúde.

E embora Bernard- Henry Lévy, seja um filosofo francês com quem não me identifico, ouso transcrever algumas das suas afirmações feitas numa recente entrevista ao semanário “Expresso”, correndo o risco de desagradar alguns leitores, pois obrigam à reflexão por serem diferentes das ideias dominantes. Afirmou ele: “acho ignóbil” que se ponha a questão “entre saúde e economia. “A economia ou a vida. A bolsa ou a vida. Voltamos a essa máxima antiga dos salteadores de estrada. É ignóbil. Porque a economia é a vida. É a vida contra avida. Sabemos bem que se pararmos a economia durante demasiado tempo isso leva ao desemprego, o desemprego leva à miséria, e a miséria leva à morte. Portanto, não é a economia ou a vida. É a vida contra a vida”. Em Portugal tudo isto ganhou uma gravidade maior porque, para combater o “COVID 19” da forma como foi feita, a assistência medica a outras doenças foi reduzida drasticamente, como os números divulgados sobre o numero de consultas, de exames e de operações que se deixaram de fazer provam, o que causou um aumento significativo de mortes que, quando forem divulgadas, chocarão todos os portugueses.

E os gráficos que apresento seguidamente retirados do jornal Publico de 4/8/2020 (é de louvar este artigo de Miguel Dantas e Rui Barros, que com o seu trabalho põem um mínimo de equilíbrio numa comunicação social que se tem caraterizado pela distorção da realidade e pela difusão do medo e do pânico, que mostra que as mortes em Portugal devido nomeadamente à falta de assistência médica causada pela concentração dos meios do SNS fundamentalmente no COVID 19, deixando sem assistência milhares de doentes com doenças graves são muitos mais elevadas que as causadas pelo COVID 19), repetindo estes gráficos confirmam o que eu tenho escrito em vários artigos.

 

Peso da covid na mortalidade (em 2020, em %)
Fonte: Sistema Nacional de Vigilância da Mortalidade (eVM)

Em março deste ano, apenas 1,5% das mortes em Portugal foram causadas pelo “coronavírus”; em Abril 7,9%; em Maio 4,4%; em junho 1,9%; e, em julho, apenas 1,5% dos óbitos  totais no nosso país teve como causa o “coronavírus”. E o gráfico seguinte, com o numero de óbitos no mês de julho em cada ano do período 2009/2020 reforça a conclusão anterior.

 

Mortalidade em Julho, entre 2009 e 2020
Fonte: Sistema Nacional de Vigilância da Mortalidade (eVM) Infografia/PÚBLICO

Tenha-se presente que desde o inicio da pandemia (Março de 2020) até 4 de Agosto, Portugal teve apenas 1.738 mortes causadas pelo “coronavírus” segundo a DGS. Compare-se este número com o número de óbitos só em julho de 2020: 10.390. Estes dados mostram a forma distorcida e desequilibrada como os media e também o governo trataram a pandemia causando o medo e o pânico, que não desaparece facilmente, e cujos custos em vidas e também económicos e sociais são e serão muito elevados, como estamos já sentir. Para evitar os ataques fáceis, o que sempre defendi foi uma informação equilibrada, verdadeira e responsável, que gerasse comportamentos de segurança, e não o medo profundo e o pânico como aconteceu.

E não resisto a referir novamente Henry Lévy para provocar a reflexão dos leitores:“ o medo foi excessivo, havia uma parte desse medo irracional, insensata. E ao medo irracional chama-se pânico, cujos efeitos sociais não são bons” . Na economia, afirmamos nós, os efeitos são nefastos e dramáticos como os dados do INE já revelam.

Estamos agora com um pais – Portugal – em que o medo e o pânico se alastrou, em que os portugueses têm medo de sair de casa e de regressar mesmo com a segurança possível ao trabalho, e em que o teletrabalho, isolado e individualizado (segundo Henry Levy, “ o trabalho à distância é a solidão, o tédio, a mistura do publico e privado, a ideia que não há esfera privada fora do imperativo produtivo, é o produtivismo, é a espionagem eletrónica dos empregados pelos patrões”), e na maioria dos casos é trabalho desorganizado (a Administração Pública é um exemplo de improvisação e de incapacidade do governo para dar orientações claras, deixando tudo ao arbítrio das chefias), se tornou a panaceia e se criou a ilusão de que o pais poderá funcionar e recuperar desta forma. Mas não funciona nem é verdade que recuperará e os dados do INE do PIB já provam isso.

 

A redução da riqueza criada no país no 2º trimestre de 2020 em 16,5% e a destruição crescente do aparelho produtivo nacional e do emprego

Uma das ilusões que o governo e muitos jornalistas estão a difundir é que a crise é passageira (para Siza Vieira: “já atingimos o pico da crise”), e que que o país após a pandemia tem o seu aparelho produtivo intacto (diretor do ECO) e rapidamente recuperará (seria uma crise emV”o que não é verdade, talvez em U ou W longos). Ora tudo isso é uma ilusão, quando não mesmo uma mentira. Com o medo que se instalou na sociedade portuguesa (e o medo tem um efeito enorme na economia pois leva a quebra significativa da produção e do consumo), com a quebra generalizada de rendimentos dos trabalhadores (lay-off, horários reduzidos, e desemprego), e com o fecho de mercados externos, é evidente que a crise vai ser prolongada e vai causar uma enorme destruição de empresas (fecho) que não se aguentarão por falta de vendas (alguns chamam a isso “destruição criativa” pois só se aguentarão as empresas mais fortes) e também uma enorme destruição de emprego que levará muito tempo a recuperar e muitos trabalhadores  serão excluídos definitivamente do mercado de trabalho e muitas empresas desaparecerão. Não compreender isto é estar cego, nem tomar medidas imediatas para reativar a economia é suicídio.

O aumento do desemprego e o fecho definitivo de muitas empresas que se já verificou é apenas o sinal de uma crise social e económica que não sabemos quando terminará, e cuja recuperação será mais difícil devido à desorganização que está a causar em toda a Administração Pública que é um instrumento vital no combate à crise, que antes da crise já enfrentava graves deficiências e problemas, e que a crise só multiplicou (são necessário objetivos claros, decisões rápidas, medidas implementadas urgentemente, investimento, nomeadamente público, elevado, tudo isto era necessário por parte do Estado para vencer a crise mas nada disto está a acontecer nem vai acontecer a breve trecho).

Os dados da evolução do desemprego real em Portugal do INE (quadro 1), que é apenas o sinal inicial da crise que vamos enfrentar, confirmam a gravidade da situação que se procura iludir.

 

Quadro 1 – o aumento do desemprego oficial e do desemprego real de Março/Junho de 2020

Entre março e junho de 2020, em apenas 3 meses, o desemprego oficial aumentou em 4.100, mas o desemprego real subiu em 109.600, ou seja, em 26,7 vezes mais. E isto porque o INE não considera para cálculo do “desemprego oficial” todos os desempregados que no período em que fez o inquérito não procuraram emprego, apesar de serem trabalhadores no desemprego (os chamados “inativos disponíveis” que em junho de 2020 já somavam 305.000 quase tanto como desemprego oficial), que incluímos no cálculo do desemprego real, por serem verdadeiros desempregados. O desemprego real atingia, no fim de jun.2020, já 636.200 trabalhadores. O desemprego oficial do INE oculta à opinião pública o desemprego real. O número dos que estão a receber subsídio de desemprego é muito reduzido como mostra o gráfico 3 (Segurança Social).

 

Gráfico 3 – Nº desempregados a receber subsidio de desemprego – Fonte: Segurança Social

Em jun.2020, o número de trabalhadores desempregados já atingia 636.200, mas o número destes que recebiam subsidio de desemprego eram apenas 221.701. E entre maio-junho 2020 diminuiu em 3.652 apesar do número de desempregados ter aumentado nesse mês em 20.300. Somente 35 em cada 100 desempregados recebem subsídio de desemprego. E o subsídio médio de desemprego pago neste mês foi, segundo dados da Segurança Social (ver no seu “site) de apenas de 504,70€. É a miséria que se está a alastrar no país perante a inação de um governo que nada faz de concreto para reativar a economia (só promete “bazucas” da U.E. que continuam sem disparar). Não é com “lay-offs”, com reduções de horários de trabalho e dos rendimentos dos trabalhadores, e moratórias que se consegue a recuperação. Isso só prolonga a agonia e torna o final muito mais doloroso e destrutivo.



 

 


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