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Quarta-feira, Março 27, 2024

A Mafalda e eu

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Como comprei um globo terrestre de prenda pelo Natal, vou-o rodando, olhando e lembrando. Passei os últimos meses nisto.

Cada país tem uma história, mas há países de quem o grande público apenas conhece, e superficialmente, a história recente.

Há muitos países cuja história está ligada ao sangue. A banhos de sangue.

Mas, como disse Chomsky, há banhos de sangue que o dito mundo livre considera banhos de sangue benignos. Benignos pode significar quer benéficos, quer sem interesse económico ou estratégico.

Todos os que se pronunciam sobre estes assuntos parecem querer adivinhar o futuro de zonas em conflito. No futuro podem ignorar-se todos os banhos de sangue passados e também no futuro podem projetar-se todas as benignas inocências também chamadas de esperança.

Ao fazer rodar o mapa mundi recordo alguns destes desastres que foram notícia durante alguns períodos de tempo, e logo substituídos pelo desastre seguinte. Faço-o pois acredito profundamente que, quer nos agrade ou não, o passado está na minha frente e posso vê-lo. O futuro está atrás de mim e não o posso visualizar, nem dele ter memória.

Assim, com a música de Bob Dylan, olho o passado à minha frente e vou acariciando o globo terrestre com um olhar perdido nas tantas vítimas, por exemplo do “apodrecimento post-colonial”e do terror contra revolucionário.

Vietname do Sul, um presidente Diem executou uma política de massacre, perseguição e terror apoiada pelos USA até ser assassinado em 1963.

Tailândia, onde o ditador fascista Phibune, mestre na extorsão de ajuda financeira e militar, meios que utilizou para massacrar o seu povo e depois disso feito doutor em direito pela Universidade de Columbia (USA) lembrando-lhe na homenagem, o então presidente Nixon, “sua vocação para a liberdade”.

Guatemala, República Dominicana, Paquistão, Burundi, Indonésia, Filipinas, Bolívia, Grécia, Somália e mais recentes, Iraque, Afganistão, Líbia todos  ligados por extensos e mais ou menos esquecidos rios de sangue benignos, pacificadores, apaziguadores, destinados a defender os interesses vitais, económicos, estratégicos e militares dos Estados Unidos e dos aliados ocidentais e acidentais. Aliados de percurso.

Foi este rio vermelho do passado recente, meio esquecido mas não cicatrizado, que fez nascer a ideia da defesa de Direitos Humanos. (1948) Essa defesa parece a manta de retalhos em que Pilatos enxuga as mãos.

Defendem-se do Direitos Humanos indo ali ao Iémen distribuir comida. Ou a outro sítio qualquer onde se possa filmar a boa acção.

Comida ardente, restos do ocidente livre e empanturrado, obeso, decadente e doente.

Para a defesa dos direitos humanos constrói-se um discurso político, social e paroquial. Até há o discurso da caridade. Os valores não se reinventam.

O que são os Direitos Humanos? Os direitos dos seres humanos são iguais para todos os habitantes do planeta?

Ou haverá habitantes do planeta que pelas suas ideias políticas, crenças religiosas, raça e etnia são esquecidos por todos nós?

Para defender os direitos de uns podem abater-se os outros? Benignamente? Pacificadoramente?

O passado recente à minha frente é trágico e simples. O meu globo terrestre cintila. Não deixa adivinhar o futuro. Quem somará as vítimas?

Para quando dar-lhes um título Honoris Causa?


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


 

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