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Quinta-feira, Abril 25, 2024

A morte do ex-presidente do Uruguai

Ana Prestes, São Paulo
Ana Prestes, São Paulo
Socióloga. Cientista política. Mestre e doutora em Ciência Política (UFMG). Atualmente está em fase de pesquisa de pós-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros (USP) e de doutorado no programa de pós-graduação em História na UnB. É analista internacional. Professora voluntária do Decanato de Extensão da UnB. Trabalha na Câmara dos Deputados e é pesquisadora da história da participação política das mulheres no Brasil.

A morte do ex-presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez, e as eleições legislativas na Venezuela são destaques na análise da cientista política Ana Prestes. A vacinação da Covid-19 no Reino Unido e na Rússia, os números da doença no mundo, o novo chanceler da Síria, a exportação de minério de ferro para a China, as relações diplomáticas entre Irã e EUA e a greve de trabalhadores na Índia são outros assuntos desta edição

Tabaré Vazquez

O Uruguai se despediu do ex-presidente Tabaré Vazquez neste domingo (6). Seu falecimento foi informado por dirigentes da Frente Ampla. Ele estava com 80 anos e sofria as consequências de um câncer de pulmão que noticiei aqui nestas Notas em agosto do ano passado. Tabaré foi o primeiro presidente eleito com um projeto de esquerda no Uruguai, em 2004. Seu partido era a Frente Ampla. Presidiu o país entre 2005 e 2010, foi sucedido por José Mujica e voltou em 2015. Passou a faixa para Lacalle Pou (Partido Nacional – blancos), atual presidente, em março desse ano.

Blancos e colorados revezaram o poder no Uruguai por muito tempo antes da vitória da Frente Amplia com Tabaré. O ex-presidente e atual, Lacalle Pou, deram sinais da institucionalidade democrática do país quando foram juntos para a posse de Alberto Fernández na Argentina, em dezembro do ano passado, e nos últimos dias quando Pou se solidarizou publicamente com a família e elogiou o legado de Vazquez para o país.

 

Eleições legislativas na Venezuela

Ocorreram no domingo (6) na Venezuela as eleições legislativas nacionais. Estavam em disputa os 227 cargos de parlamentares da Assembleia Nacional, com posse prevista para 5 de janeiro. Até o último boletim do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com pouco mais de 80% dos votos apurados, a coligação Grande Polo Patriótico, governista, estava liderando com mais de 60% dos votos. Um dos opositores a Maduro e ao PSUV, Juan Guaidó, parlamentar eleito para a Assembleia Nacional em 2015 e que se autoproclamou presidente do país em 2019 não participou do processo eleitoral. Segundo ele, as eleições foram fraudadas. Ele e outros parlamentares estão convocando um plebiscito para sábado (12) para prolongar o mandato dos eleitos em 2015. Na prática, a eleição de domingo encerra um ciclo Guaidó.

Muito improvável que ele consiga se “reinventar” de alguma forma pelo descrédito em que caiu tanto interna quanto externamente. Outros setores oposicionistas a Maduro aceitaram o pleito e participaram do processo elegendo seus parlamentares. O processo eleitoral de domingo foi acompanhado por observadores internacionais, entre eles alguns de destaque como o ex-premiê espanhol Zapatero, os ex-presidentes Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai) e Evo Morales (Bolívia). O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, classificaram a eleição como farsa.

Poucos dias antes da eleição, a OEA soltou um novo relatório de descumprimento dos direitos humanos no país e atacou Fatou Bensouda, promotora-chefe do TPI (Tribunal Penal Internacional) por não tomar nenhuma ação contra o regime de Maduro. Um dos maiores desafios da nova Assembleia eleita para o país será ajudar o país a enfrentar a crise econômica decorrente do bloqueio e das sanções, além dos impactos da pandemia, como em todo o mundo. O cenário econômico é de hiperinflação, desemprego e desabastecimento de combustível, que o governo tem atuado para reverter com parcerias como a do Irã.

 

Reino Unido, a aplicação da vacina

Começa hoje, 8 de dezembro, no Reino Unido, a aplicação da vacina contra o coronavírus Sars-Cov-2 elaborada pelas farmacêuticas Pfizer (americana) e BioNTech (alemã). Há críticas entre outros países europeus quanto à velocidade de aprovação da adoção da vacina no país. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que atua em nome dos 27 estados-membros da UE, chegou a dizer que o RU “sacrificou o rigor no interesse da velocidade”. Na verdade corre uma disputa comercial por trás desse pronunciamento, países como França e Alemanha não querem admitir que de certa forma estão perdendo essa corrida pela vacina para proteger suas populações, além de dar discurso e argumentos para os que querem o fim do bloco.

A vacinação no RU vai começar pelos idosos acima dos 80 anos, profissionais de saúde e moradores de casas de repouso, que foram verdadeiros centros de proliferação do vírus durante a pandemia. Nesta primeira campanha, serão vacinadas 20 milhões de pessoas. Essa vacina possui uma característica que dificulta seu transporte e armazenamento que é a exigência de estar em uma temperatura de 70ᵒC negativos. O Reino Unido possui uma população de 67 milhões de pessoas e perdeu mais de 61 mil vidas para o Coronavírus.

 

Sputnik V

Outra vacina que começou a ser aplicada nos últimos dias (sábado, 5) foi a russa Sputnik V, elaborada pelo Instituto Gamelaya de Moscou. Na capital Moscou foram abertos 70 centros especiais de vacinação e a prioridade são os profissionais de saúde, assistentes sociais e professores. A campanha começou enquanto a última fase dos testes clínicos com 40 mil voluntários ainda não foi concluída no país. A Sputnik V precisa ser aplicada em duas doses, com um intervalo de 21 dias. Segundo o governo russo, ela estará disponível para toda a população que será incentivada a se vacinar voluntariamente através de inscrições pela internet.

No final de semana, a imprensa repercutiu uma fala do prefeito de Moscou, Sergei Sobianin, que informou a inscrição de 5 mil pessoas nas primeiras cinco horas de abertura dos agendamentos online. A Rússia tem uma população de 145 milhões de pessoas e perdeu mais de 43 mil vidas para o Coronavírus.

 

Números do coronavírus

Por falar em números do coronavírus, EUA, Índia e Brasil continuam na liderança do número de casos com 14 milhões nos EUA, 9 milhões na Índia e 6 milhões no Brasil. Os EUA já passaram das 280 mil vidas perdidas e se aproximam rapidamente das 300 mil. O Brasil vem em segundo lugar com mais de 170 mil vidas perdidas e em terceiro a Índia com 140 mil.

 

Novo chanceler

A Síria possui um novo chanceler desde o final de novembro, Faisal Al-Miqdad, e sua primeira missão ao estrangeiro será hoje ao Irã. Miqdad já estava no Ministério de Relações Exteriores do Irã como vice-ministro e é conhecido por suas falas duras contra a política externa dos EUA e da Turquia em relação à Síria.

 

Pandemia que pode ter passado despercebido para muita gente

Uma matéria do Nexo Jornal da semana passada mostra um indicador gerado pela pandemia que pode ter passado despercebido para muita gente. O boom do minério de ferro provocado pela recuperação acelerada da economia chinesa. O crescimento da indústria chinesa nos últimos meses aumentou a demanda por aço, o que significou uma elevação das compras de minério de ferro. A produção industrial na China em out/20 é 12,7% maior do que no mesmo período de 2019. Segundo a World Steel Association, 58% de todo o aço produzido nos primeiros 10 meses de 2020 foi produzido na China.

Isso interessa muito ao Brasil, pois o país é o segundo maior exportador de minério de ferro do mundo, atrás apenas da Austrália. O produto foi o segundo bem com maior peso em valor nas exportações do Brasil em 2020, atrás apenas da soja. De todo o minério de ferro vendido pelo Brasil em 2020, 71,6% foi para a China. E os Bolsonaros seguem brigando com a China…

 

Transição da gestão Trump para a gestão Biden

Nos bastidores da política externa americana no atual momento de transição da gestão Trump para a gestão Biden foi feita uma movimentação que pode demonstrar distensionamento com o Irã. Foram retirados funcionários americanos da Embaixada dos EUA em Bagdá, no Iraque. A movimentação pode ser também por temor a represálias após o assassinato do físico nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh, chefe do Dept. de Pesquisa e Inovação do Ministério da Defesa do país, e a proximidade do 3 de janeiro, um ano do assassinato do general Suleimani no aeroporto de Bagdá.

O novo presidente eleito americano, Biden, disse que o país voltará integralmente ao acordo de 2015 (que impede o Irã de desenvolver armas nucleares) se o Irã obedecê-lo integralmente. O Irã respondeu na última quinta (3) que cumprirá integralmente o acordo desde que EUA e Europa cumpram seus compromissos.

 

Diálogo na Índia

O final de semana foi de tentativas de diálogo na Índia entre o governo e pequenos e médios agricultores por conta de uma reforma do setor agrícola que o governo do BJP tenta aprovar e gerou uma greve de trabalhadores de grandes proporções, iniciada nos estados de Punjab e Haryana e que pode se espalhar por todo o país a partir de hoje (8). Há novas negociações previstas para quarta (9).

Os agricultores acusam o governo de aprovar uma lei que autoriza o Estado a deixar de comprar o mínimo de grãos e outros produtos cultivados a um preço pré-fixado e que isso resulte na selvageria comercial de empresas e corporações que podem puxar os preços para níveis insustentáveis para os trabalhadores e pequenos produtores rurais. O primeiro-ministro Narendra Modi insiste que o projeto vai beneficiar os agricultores por atrair investimentos privados, mas os manifestantes dizem que nunca foram consultados pelo governo. A lei foi aprovada em setembro e já houve 5 tentativas de negociação, pelo que diz a imprensa.


por Ana Prestes, Cientista social. Mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG   |    Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

 

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