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Quarta-feira, Março 27, 2024

Ai aguenta, aguenta ou o capitalismo selvagem 1 – Vida 0

Carlos Ademar
Carlos Ademar
Mestre em História Contemporânea, escritor e professor na Escola da Polícia Judiciária

Quantas vitórias deste tipo o capitalismo selvagem não tem alcançado nos últimos anos, de que não chegámos a tomar conhecimento? Apenas por não ser bom que se saiba. Estamos habituados a aguentar, mas se não soubermos destas coisas aguentamos ainda mais.

Também a morte deste homem passou muito ao lado das televisões e jornais, sempre tão ávidos de sangue. Não é por nada, mas parece que está em causa um banco e quando assim é, tudo pára, até o ardente e permanente desejo de chocar os espectadores ou leitores.

Não há acidente de que resultem feridos ou mortos que não faça as delícias destes vampiros; não há acidentes com crianças que não façam crescer os caninos destes sanguinários; não há morte ocasional ou propositada que não faça despertar estas hienas da informação.

Mas este caso é diferente. Podem estar em causa os altos interesses de um banco, logo, o conluio nacional dos meios de informação está estabelecido e aqui o sangue, que tem a mesma cor e o mesmo cheiro, já não interessa.

Caraças, fosse um bebé que caísse de um 6º andar, um alcoólico atropelado, um homem assassinado num bar e teríamos os estagiários de todos os vampirescos órgãos de informação a correr para os locais a fazer directos e nestes, as perguntas mais disparatadas que alguém pode ouvir, só para ocupar a antena porque o share está a subir e há que o manter o maior número de minutos que for possível.

Mas quando pode estar em causa um banco e a sua gestão na morte a tiro de um funcionário na própria sede desse banco, aí é preciso travar a fundo. Os estagiários têm mais que fazer e se não têm que inventem. Não se pode alimentar o ódio que o povo já sente por este sistema, em que os homens são cifrões enquanto rendem ou fusíveis quando é hora de os substituir por outros a ganharem metade.

Afinal, a essas hienas sanguinolentas nem todo o sangue interessa. O que é produzido pelo acaso, pelo descuido, pelo crime, por vontade própria, desde que choque e cheire, sem pôr certos interesses em causa, tudo bem e há que investir; quando o mesmo sangue é derramado em instalações de um banco devido ao tratamento maquinal a que são submetidos os trabalhadores bem como às chantagens e pressões que limitam os horizontes de quem as sofre, ao ponto de não verem outra solução senão a morte, este sangue não interessa.

Chamam-lhe assédio moral… puta que os pariu. Chantagem pura de quem tudo pode contra quem não tem quem o defenda.

O sistema reage porque está montado em cartel de interesses de todos quantos cuidam da informação a que podemos ter acesso. O verdadeiro serviço de censura dos tempos modernos, que tal como a de outros tempos servia e defendia um sistema.

Só que então podíamos responsabilizar a ditadura, e agora? A culpa é de quem? Não sei, mas de uma coisa tenho a certeza, os interesses de quem manda nas hienas informativas coincidem com os dos donos do banco onde se deu a tragédia que é preciso silenciar.

Grita o chefe de redacção para a redacção depois de pousar o auscultador do telefone: «Um homem matou-se com um tiro na cabeça no gabinete de um chefão do BPI. Este foi dos que não aguentou, azar o dele e não é notícia.»

E não foi.

 

 

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