Mark G. Peters, comissário do Departamento de Investigação de Nova York, classificou de “muito impressionante” a acção da Unité Permanente Anti-Corruption (UPAC) daquela província canadiana, quando falava numa conferência sobre o tema, a sul de Montreal. “Fizeram um grande trabalho”, sublinhou o responsável, citado pela Montreal Gazette.
Nathalie Normandeau, deputada, e mais seis pessoas que lidavam com contratos governamentais daquela região canadiana, foram detidos há três semanas atrás. Os políticos detidos pertencem ao Partido Liberal e ao Parti Québécois do Canadá. Enfrentam 13 acusações, entre as quais fraude, corrupção e abuso de confiança, em acções que remontam ao ano de 2000. Os acusados deverão comparecer em tribunal a 20 de Abril.
Oposição exigiu que suspeitos devolvessem dinheiro
Françoise David, líder do partido da oposição Québec Solidaire, congratulou o trabalho das autoridades nestas detenções e exigiu que Philippe Couillard, primeiro-ministro do Québec, “assegure que todo o dinheiro que o Partido Liberal embolsou de forma ilícita seja devolvido. Isso será a prova de que o partido virou de facto a página neste capítulo”. David disse que outros membros do governo daquela província, que faziam parte do gabinete com Normandeau, deveriam ter suspeitado do que se passava. “Ou eram espantosamente cegos, ou sabiam mas fecharam os olhos”, declarou.
Mark G. Peters afirma que “por lei, temos acesso a qualquer pedaço de papel produzido por qualquer funcionário governamental em qualquer parte”. O departamento a que pertence “recorre a escutas telefónicas, destaca agentes infiltrados e usa os seus poderes para intimar e fazer buscas quando tem denúncias de irregularidades”, esclareceu. Para ele, as detenções são uma forma de medir o sucesso de qualquer departamento de combate à corrupção, e lembrou que recentemente o departamento de Nova York deteve 50 proprietários de edifícios e funcionários do departamento de urbanismo, incluindo inspectores, por suspeitas de que alguns destes oficiais estavam a “fechar os olhos” a lapsos na construção de edifícios que poderiam representar perigo para a população, a troco de subornos.
Corrupção faz parte da natureza humana, admite responsável
Porém, outra forma de medir o sucesso neste combate à corrupção, salientou, é a forma como um departamento expõe problemas sistémicos e insiste junto das autoridades para levar a cabo mudanças. “Em vez de tratarmos os crimes de forma individual, temos de erradicar o crime sistemático”, defendeu Peters, que mencionou outro exemplo recente: uma investigação do seu departamento sobre condições em 25 abrigos da cidade para famílias e crianças, que procurava falhas na higiene e segurança dos edifícios, não levou à detenção de ninguém, mas foram detectadas dezenas de violações de regras; além disso, decorreram mudanças legais e foram levadas a cabo obras para melhorar os abrigos.
De acordo com a Montreal Gazette, Peters mencionou uma terceira condição-chave no combate à corrupção: estar constantemente atento. Depois de uma grande operação, as autoridades têm de pensar sobre o que virá a seguir, até porque “a corrupção faz parte da condição humana”, reflectiu.
Robert Lafrenière, líder da UPAC em fim de mandato (e assumido candidato a novo mandato), afirmou nesse encontro que o trabalho do departamento que dirige, em colaboração com agências similares, teve mais efeitos do que detenções ou vetos a contratos. Lafrenière revelou que o trabalho feito pela UPAC levou a “uma espécie de ameaça constante sobre aqueles que querem enganar o sistema”. O responsável anunciou ainda que a UPAC vai passar a reunir-se, anualmente, com as suas congéneres de Nova York e a congénere da autoridade dos portos da cidade norte-americana, “para trocar estratégias sobre o que os criminosos estão a fazer. Nova York e Montreal estão muito unidas, por isso, é importante que troquemos informações sobre os esquemas e estratagemas que ocorrem”.