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HomeOpiniãoCrónicaCarta à minha memória

Carta à minha memória

XXXV. A Guerra.

  • 22 Novembro, 2020
  • Filipa Vera Jardim
  • Posted in Crónica
  • 4

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Minha memória,

Escrevo-te hoje porque é profunda a minha angústia. Vejo-os ali através da janela e passam felizes. Passam felizes e não sabem de nada. Se os chamar e lhes falar do medo, e do silêncio que antecede uma explosão não entenderão nada. Nunca ouviram sequer o sibilar de uma bala a furar o vento na pressa de encontrar a carne e depois… O vazio. Um imenso vazio.

Vem depressa minha memória porque eu não sei aonde esta ignorância os levará. Estão arrogantes já na sua imensa felicidade. Uma felicidade a que pensam ter direito e para sempre.

Vejo-os pela janela e o tempo e a escuridão invade-me. A pressa de correr escada abaixo à procura da segurança. De uma qualquer segurança.

Olho pela janela e não sei se alguma vez poderão entender. Mesmo que esse vez esteja ali mesmo ao lado e eles não a pressintam e, nem sequer saibam saborear no ar a passagem dos obuses quando eles chegarem, e não sintam o cheiro das armas e o suor escorrido do medo.

Se eu abrir a janela e lhes contar vão achar que endoideci. Não poderão sequer imaginar que o tempo que vivi possa um dia ter sido diferente. Não aqui, não agora, mas mesmo assim tão perto deste aqui e deste agora impregnado de uma estranha suavidade.

A guerra chega. Chega muito depressa e sem aviso nenhum e entra pelas janelas e pelas frestas e acomoda-se e muda tudo. É sempre assim.

Vem depressa minha memória antes que a sirene soe e eles nem sequer a reconheçam.

Lembro-me muito bem do som de uma guerra. O som de uma guerra é imenso, pautado por silêncios que assustam ainda mais.

Tu sabes minha memória, tu sabes e por isso a minha angústia, porque só tu lhes podes contar.

Não viveram senão este tempo que me parece anteceder tudo. Outros tempos houve que também antecederam tudo. E havia janelas e gente a passar por elas de felicidade a tira colo.
Olho-os desta janela e sei que nem do medo eles são capazes. E o medo pode ser a única salvação antes de tudo. Nem do medo são capazes…

Se não chegares depressa, minha memória, se não os alcançares no seu caminho estreito e linear que não atravessa nenhum monte, nenhum rio e é só planura, simples planura, creio que podes já não os encontrar.

Terão partido sem saber como, sem sequer adivinhar. Terão partido num momento absurdo depois do silêncio que precede tudo, envoltos numa nuvem de gás que não reconheceram.

Vem depressa minha memória. Vem depressa e segura-lhes os braços e envolve-lhes os passos e conta-lhes. Conta-lhes mesmo que se riam, mesmo que trocem, mesmo que digam que não acreditam porque com eles, com eles será tudo diferente.

Foi há pouco tempo minha memória. Ouço uma cavilha e o silêncio, uma cavilha e o silêncio secundados pelos gritos abafados e pelo minuto que sobrevém. E é um minuto grés, sem forma definida, sem tempo, esse que sobrevém. Tentamos agarra-lo e ele escorrega-nos pela garganta intumescida de areia.

Eu sei exactamente a que nos sabe a areia e tu sabes a que nos sabe a areia. Eles não sabem. Para eles a areia é um lugar de paisagem, pousada. Não sabem que a paisagem se levanta de repente e se espalha por todos os lados. Não sabem, não têm forma de saber.

Vem depressa minha memória antes que seja tarde e, não haja mais nenhuma janela e ninguém a passar por ela.

 


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Filipa Vera Jardim
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Mantém o blogue literário “Chez George Sand” onde escreve regularmente.

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