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João de Sousa

Segunda-feira, Abril 22, 2024

Coringa, um produto da cultura pop

Foi simplesmente pelo sucesso de público que me senti atraído para ver Coringa, essa atual versão da série que se liga ao comics norte-americano, tendo o personagem Batman como figura principal. E digo sucesso de público não pelo número de espectadores – mas pelo número de pessoas, críticos ou não, que vi considerar o filme de Todd Phillips como “um impacto total”, que “deixa a gente estático”. Então me senti obrigado a ver esse produto novo do cinema hollywoodiano.

Coringa não chegou a me impactar. Soube que saiu uma reportagem quando o filme ganhou o Leão de Ouro no mais antigo festival de cinema do mundo, o de Veneza, e nela se comentava que havia um acordo, alguns anos antes impossível, para uma dobradinha entre Veneza e o Oscar. Certamente, em 2020 o grande premiado do Oscar será o Coringa.

O roteirista e diretor Todd Phillips tem no Coringa seu décimo produto. Mas nenhum dos seus filmes anteriores fez grande sucesso de público. Na maioria, são documentários. Se Coringa não fosse ligado à estória do Batman, ele não faria o sucesso que está fazendo. É um filme de excelente confecção técnica e artística. A partir do roteiro, da fotografia, das interpretações, da trilha sonora, da direção, a obra se faz admirar.

Mas é claro que a atração que ele está despertando tem a ver mesmo com a série. Multidões continuam a se ligar aos quadrinhos, e particularmente aos comics norte-americanos. Lá e em todo o mundo. Não é simplesmente cinema, mas cultura em termos fundamentais.

Minha ligação com Batman e Gotham City é longínqua, e talvez tenha me divertido um tanto com esses assuntos, acompanhando o artista brasileiro Jards Macalé, quando ele criou personagem e música satirizando, sem dúvida, a cultura norte-americana. Mas é verdade que mesmo o brasileiro que não leia quadrinhos é influenciado tranquilamente por esses objetos e fatores.

Entrando um pouco na análise do argumento de Coringa, levo em consideração uma matéria sobre o filme que o Jornal do Commercio do Recife publicou recentemente, não na página de cultura, mas na de Internacional. E a grande questão era se o filme de Todd Phillips tinha como base estrutural o marxismo. Foram ouvidas pessoas da direita política e citadas pessoas da esquerda.

Com certeza, estão todos em dúvida se está havendo “infiltrações” marxistas no cinema hollywoodiano. É até risível. Entretanto, não podemos ter dúvidas de que a filosofia criada por Karl Marx perpassa hoje toda a Cultura. É uma base de formação cultural. E toca qualquer um que trabalhe principalmente com criação intelectual.

A meu ver, qualquer um que julgue uma obra artística leva sempre em conta um aspecto fundamental: é um trabalho artesanal ou uma criação de arte? Coringa, de Todd Phillips, é um excelente produto artesanal, a ponto de não se deixar dominar por exageros técnicos, como é comum no cinema norte-americano. Há uma certa naturalidade na linguagem, nenhum excesso de efeitos especiais. Mas não há o clic da verdadeira arte.

Atração despertada pelo Coringa está relacionada à série em HQ, particularmente aos comics

Quero me referir ao fato de que vi Coringa num ótimo cinema do Shopping Patteo. E numa versão dublada. Antigamente, já fui a favor e também contra dublagem para os filmes estrangeiros. Na verdade, hoje sou a favor. No Coringa, o trabalho é excelente. Inclusive é bom notar que, nesse filme, os escritos referentes a momentos da vida do personagem criam os papéis em português num trabalho muito bem aprimorado. Tecnicamente, temos que dar a cotação “ótimo” para esse filme.


por Celso Marconi, Crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8  | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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