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Quinta-feira, Abril 18, 2024

Coronavírus: Negros têm taxa de infecção 2,5 vezes maior que os brancos

Quem vive com cinco ou mais indivíduos apresenta índice de infecção quase duas vezes maior do que aqueles que dividem a casa com um ou dois indivíduos.

A população negra é infectada 2,5 vezes mais pelo coronavírus do que a de brancos, aponta pesquisa realizada na cidade de São Paulo. Amostras de sangue colhidas entre os dias 15 e 24 de junho indicam que 19,7% dos participantes que se identificam como negros possuem anticorpos contra a covid-19, enquanto que nos que se declaram brancos o porcentual é de 7,9%.

Essa é a segunda fase do estudo comandado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com apoio do Instituto Semeia e participação de profissionais do Laboratório Fleury e Ibope Inteligência. A pesquisa realizou exames sorológicos em 1.183 pessoas, todos maiores de 18 anos, em 115 regiões diferentes da cidade – em cada região foram sorteados 12 domicílios.

O estudo separou distritos com maior e menor renda, segundo dados do IBGE. E a conclusão é que a epidemia da covid-19 no Município de São Paulo reflete a desigualdade social. A infecção pelo coronavírus diminui em localidades onde a população tem melhor nível educacional. Ela é 4,5 vezes maior nos indivíduos que não completaram o ensino fundamental, por exemplo, quando comparada com os que terminaram o ensino superior: 22,9% e 5,1%, respectivamente.

Participantes que vivem em habitações com cinco ou mais indivíduos apresentam índice de infecção de 15,8%, quase duas vezes mais do que aqueles que dividem a casa com um ou dois indivíduos, que é de 8,1%. “É como se tivesse duas epidemias correndo ao mesmo tempo na cidade. Não dá para comparar, mas traduz a expansão que afeta mais os que têm menos recursos, porque são os que precisam ir trabalhar, porque têm menos condições de fazer o isolamento”, disse o infectologista Celso Granato, diretor Clínico do Grupo Fleury, pesquisador líder do projeto.

Segundo Beatriz Tess, professora do departamento de Medicina Preventiva da USP, a questão da desigualdade social já era, de certa maneira, esperada pelo que se vê sobre a evolução da doença nas cidades. “Mas a pesquisa, ao mostrar esses dados, traz uma coisa muito importante que é a magnitude dessa diferença.”

De modo geral, do total de 1.183 entrevistados que tiveram as amostras de sangue analisadas, 11,4% têm anticorpos. Estima-se que aproximadamente 958 mil pessoas maiores de 18 anos já foram infectadas pelo novo coronavírus na capital paulista, que tem população de pouco mais de 8 milhões de habitantes acima dessa faixa etária. Considerando somente óbitos confirmados até a data do estudo, estima-se que a taxa de letalidade na população maior de 18 anos é de 0,7%.

Uma nova pesquisa mais detalhada deve sair em um mês, informou o biólogo Fernando Reinach, colunista do Estadão, que reuniu o grupo de cientistas ao redor da proposta. “A quantidade e possibilidade de informações são bem maiores”, disse. “Será possível dimensionar a contaminação dentro da casa, entender todos os sintomas, compreender casos de pessoas assintomáticas, analisar índice de vulnerabilidade.”


Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

 

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