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Quarta-feira, Outubro 9, 2024

Crianças espancadas e detidas, El Aaiun sob cerco e as NU silenciosas

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Desde 20 de Julho que as autoridades de ocupação marroquinas varrem as ruas e casas de El Aaiun (capital do Sahara Ocidental ocupado) em busca de jovens Saharauis efectuando detenções arbitrárias e utilizando armas de fogo.

Após a vitória da equipa Argelina na CAN, milhares de saharauis tomaram as ruas celebrando e a reivindicar a independência do Sahara Ocidental. A vitória da equipa Argelina foi o mote para saírem às ruas e quebrarem o silêncio imposto.

Como se pode ver no vídeo as ruas de El Aaiun estão cheias de policias, gendarmaria e forças auxiliares que disparam contra cidadãos saharauis de forma indiscriminada. Camiões com canhões de água, “limparam” as ruas de manifestantes. A morte na noite de 20 de Julho de uma jovem saharaui atropelada por um todo o terreno das autoridades marroquinas, despoletou ainda mais protestos.

El Aaiun está sob um cerco. Milhares de membros das várias forças militares e policiais marroquinas estão a chegar aos territórios ocupados.

Os jovens que são feridos não vão ao hospital com medo das detenções e subsequentes torturas a que serão submetidos, muitos estão escondidos.

Sabemos que os levam, mas não sabemos para onde e o que lhes acontece… é esta a nossa vida, o nosso sofrimento… não podemos sequer celebrar a vitória do nosso país irmão, sem que sejamos tratados como criminosos! Eles (os marroquinos) não percebem que nunca irão ganhar. Os nossos jovens como os seus pais e os seus avós não aceitarão jamais esta ocupação. Como podem? Marrocos desde que invadiu o território só mata, tortura, viola e rouba! Diga-me porquê ninguém fala de nós?”.

As autoridades estão a realizar rusgas continuas às casas dos saharauis, entrando e destruindo tudo. As detenções arbitrárias incluem vários menores com menos de 15 anos. Os espancamentos violentos foram transformados em “parte do processo de detenção”. Um vídeo publicado por um dos grupos de comunicação saharauis mostra claramente o espancamento e detenção de crianças no meio da rua.

Quando nos viram aos milhares nas ruas, ombro a ombro, gritando as nossas palavras de ordem, ficou claro para Marrocos que estamos unidos e nunca iremos abdicar do nosso país. Foi só isto e já entrarem em pânico. Não o podem permitir, têm medo e por isso recorrem à violência. Se tivessem razão não recorriam à violência. São invasores e têm que sair. Basta de repressão, de miséria, de exploração e assassinatos, Basta!”.

(B., estudante universitário e um dos muitos jovens que nos fizeram chegar imagens nos últimos dois dias.)

As autoridades de ocupação marroquinas anunciaram que iriam iniciar detenções alegando ferimentos de 3 agentes da policia. As imagens falam por si, a violência é contra a população saharaui e a cidade está sob um cerco apertado.

“Não conseguimos manter uma conversa normal por telefone, tudo está sob escuta e as comunicações são interrompidas constantemente” diz-nos uma das nossas fontes.

É prática habitual das autoridades de ocupação cortar as comunicações no território sempre que assim o entendam.

A MINURSO (Missão das Nações Unidas) que está presente no território não interveio até ao momento para proteger a população saharaui. As acções das autoridades de ocupação violam claramente o direito humanitário, o direito internacional e as condições do cessar-fogo vigente desde 1991.

Hmad Hamad, activista saharaui e vice-presidente da CODAPSO (Comité para a autodeterminação do Povo do Sahara Ocidental) denunciou a utilização por parte das Nações Unidas dos territórios ocupados como base militar:

Assistimos a uma nova violação dos nossos direitos, não às mãos do ocupante marroquino, mas às mãos das Nações Unidas. 

Fomos informados que as Nações Unidas utilizam os territórios ocupados do Sahara Ocidental como base de envio de veículos e armamento para o Líbano. Não é primeira vez que isto acontece, já anteriormente foram enviados armamento e veículos para zonas de conflito utilizando o nosso território como base. 

Quero deixar claro que na minha opinião as Nações Unidas estão a converter os territórios ocupados do Sahara Ocidental numa base de exportação de armamento e soldados para outros países. 

A presença das Nações Unidas no nosso território tem apenas um objectivo a organização do referendo e a monitorização do cessar fogo, não têm outro mandato. Estamos contra esta nova politica que transforma o nosso território numa base militar das NU. 

A MINURSO não protege a população saharaui nos territórios ocupados como vimos mais uma vez nos recentes acontecimentos dos últimos 4 dias. A nossa capital está sob um cerco absoluto das forças de ocupação, detenções arbitrárias e utilização de fogo contra a população, detenção de menores, e todas as violações da convenção de Ginebra respeitantes a um território sob ocupação. As NU não se pronunciaram como sempre acontece e a sua Missão no terreno permanece silenciosa e inactiva.

Pedimos a todas as instituições internacionais a protecção urgente do nosso povo. Existe um silêncio absoluto a nível internacional sobre a situação em que se encontra o Povo do Sahara Ocidental que sofre as torturas, sequestros, desaparecimentos forçados e assassinatos às mãos do ocupante. Isto tem que terminar. O direito Internacional tem que ser respeitado. Os saharauis têm que ser respeitados, o nosso único delito é pedirmos o nosso direito à autodeterminação.”

O representante da Frente Polisário junto das Nações Unidas fez um apelo ao actual Presidente do Conselho de Segurança para que intervenha junto de Marrocos para parar as graves violações cometidas nos territórios ocupados.

Os territórios ocupados do Sahara Ocidental são uma prisão a céu aberto, com o maior muro de separação após a Muralha da China com 2720 km de extensão e minas e outros dispositivos mortais a leste, o Atlântico a este, a Norte a fronteira com Marrocos e a sul a fronteira com a Mauritânia (controlada por Marrocos). A população saharaui não se pode deslocar para nenhum lado sem o consentimento das autoridades marroquinas e estando à mercê do ocupante e vitima do silêncio internacional.


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