Na cidade há um monte de gajas e gajos andando de um lado para o outro – imagina com este calor, amor que não tenho – e o ruído dos carros é insuportável, entre vapores quentes que sobem do asfalto…
Alguns desses gajos e dessas gajas estão absorvidos de um modo tal na subsistência que mal se olham no rosto ou no corpo, só trocam aquele olhar disfarçado que vai directo entre as perninhas.
Tarados e taradas competitivos.
Mas os outros, como nós, cuja subsistência sentimental está temporariamente garantida, poderão estar neste momento nos bares pequeninos da nossa terrinha, a enfardar promessas fresquinhas, e daí começarem a receber cada vez mais fregueses.
Na cidade, os olhares trocam-se em todos os locais de trabalho e depois, mais tarde, cumprem-se, os desejos e as promessas, a satisfação e, mais uma vez, o cansaço!
Aí, na terrinha, não!
Por aí, fazer sexo não é como ler o José Manuel Fernandes.
Por aí, cada um habita este mundo à sua maneira.
Aqui, na cidade, quando queremos tirar a máscara já ela está colada à cara.
Por isso, querida que não tenho, vou peregrinar até ti, montado no último cêntimo que me resta, dar-te o meu último primeiro beijo.
Sei que o campo te dá para a nostalgia e para o sono, mas não adormeças, vais gostar da espécie de alegria das vindimas que estou a idealizar.
Onde terás o teu cestinho de consolo.
Onde importa tratar do que primeiro importa, e, assim, chegará, mais ou menos apressado, o momento em que exclamaremos:
– Que se levantem os caídos! Para a cama e depressa!