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Quinta-feira, Abril 25, 2024

E agora mais uma coisa completamente diferente

Alexandre Honrado
Alexandre Honrado
Historiador, Professor Universitário e investigador da área de Ciência das Religiões

supercluster

Não falo das contas privadas dos candidatos a gestor na Caixa Geral de Depósitos ou dos rendimentos do ex-presidente do clube que agora vive da sua horta biológica nas traseiras da sua quinta de luxo ou do IMI que o ex-Presidente da República paga pela sua casa de verão. Isso são banalidades. Na linha das notícias difíceis de comprovar de imediato, encontro muitas entre as notícias científicas, que parecem sempre extraordinárias e sensacionalistas e que depois acabam por tornar-se rotineiras.

Da primeira notícia da clonagem – lembro-me bem de ter escrito cheio de dúvidas, creio que no verão de 1996,  sobre uma tal ovelha Dolly (o primeiro mamífero a ser clonado com êxito a partir de uma célula adulta, coisa banal nos dias que correm onde a ciência, com paciente e constante caminhar trocou os paradigmas do criacionismo, coisa das crenças, pelo do evolucionismo, coisa da vida) que visitei anos mais tarde, vendo-a embalsamada, no Museu Real da Escócia, em Edimburgo e se a memória não me falha.

Transição dos séculos

Na transição dos séculos XV para o XVI, Nicolau Copérnico foi astrónomo e matemático. Este polaco desenvolveu a teoria heliocêntrica do Sistema Solar. Foi também cónego da Igreja Católica, governador e administrador, jurista, astrónomo (já o disse) e médico. E capaz de arranjar uma grande confusão.

Na transição do século XVI para o XVII, o italiano Galileu Galilei operou uma revolução ainda maior e assassinou a tradição, que, incapaz, nunca mais foi a mesma – não conseguindo ressuscitar, por mais que tentasse.

Porque digo isto? Vejamos… Quando Copérnico colocou o Sol como centro da vida, abalou algumas consciências próximas das crenças e da teologia tradicional, pois induzia a que dependíamos mais de uma estrela do que dos deuses. E Galileu mostrou-nos o céu. Não como morada do divino, mas como um grande espaço físico onde os sistemas se relacionavam com uma lógica material e grandiosa com que nenhuma explicação transcendente podia rivalizar.

Podem os leitores contra-argumentar com todos os argumentos que, nos últimos 500 anos, ou quase, foram usados. Verão que é inútil. O sol está lá como elemento consagrador da vida na Terra; o céu está lá, com a sua aparentemente infinita diversidade e cada vez mais revelador e fascinante.

A notícia a que agora me refiro seria estonteante para Copérnico e excitante para Galileu – ambos, como homens da ciência mais nuclear, iriam certamente explorá-la, entendê-la, e por ventura festejá-la, coisas que apenas os fundamentalistas são incapazes de fazer.

Superaglomerado de Vela

Superaglomerado da Vela | Crédito Thomas Jarrett (UCT)
Superaglomerado da Vela | Crédito Thomas Jarrett (UCT)

Uma equipa de astrónomos descobriu, “atrás da nossa galáxia” uma das maiores estruturas já encontradas no Universo. O Superaglomerado de Vela, que é, afinal, um grupo maciço de vários conjuntos de galáxias, cada um com centenas ou milhares de galáxias.

“Não conseguia acreditar que uma estrutura tão grande se estendesse tão proeminente depois de observar aquela região do espaço”

Relata Renée Kraan-Korteweg, astrofísica da Universidade de Cape Town, na África do Sul.

A descoberta do Superaglomerado de Vela, que herdou o nome da constelação onde foi descoberto, foi publicada por Kraan-Korteweg na Monthly Notices Letters of the Royal Astronomical Society.

Afinal somos pequenos

Conhecer o nosso ADN astronómico pode explicar-nos enquanto seres do quase nada: qual a nossa origem, de onde viemos e para onde vamos. Mas pode sobretudo situar-nos na nossa pequenez face ao infinito – e pode, isso sim, tender a levar-nos a que, um dia, percebamos o quão idiotas, mesquinhos, violentos e imperfeitos somos face à complexidade Universal.

Somos transeuntes numa passadeira onde nos atropelamos, convencidos que mandamos nos nossos passos, que somos senhores dos nossos sábios raciocínios, ou daquilo que somos. Para ser, arranjamos explicações religiosas – do capitalismo ao culto da brisa mais minúscula – para conseguirmos continuar a caminhar.  E afinal somos pequenos. Tão pequenos que temos medos, um deles muito profundo: o da solidão que nos torna incapazes de perceber as coisas mais simples, dos afetos ao grande Universo.

Este artigo respeita o AO90

Nota do Director

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