Fuocoammare

Gianfranco Rosi capta o flagelo dos refugiados em Lampedusa

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Independentemente da premiação que ainda está longe, Fuocoammare deixará inevitavelmente a sua marca neste festival e é, para já, o filme que se destaca dos demais da competição para o Urso de Ouro. Onde o lado documental demasiado duro acaba abraçando a linha de realidade que nos remete para uma possível ficção.

Desde o verão passado que a ilha de Lampedusa tem sido motivo de notícia pela ligação à chegada de milhares de refugiados vindos de África e Médio Oriente. Um registo inevitável para o documentarista Gianfranco Rosi que se serve do título de uma canção romântica de pescadores sobre os perigos no mar para relatar a tragédia em que sobe a bordo das lanchas da marinha italiana para testemunhar o flagelo daqueles que pagam uma fortuna para arriscar a vida para uma viagem sem chegada garantida à Europa.

Rosi, que já vencera o Leão de Ouro em Veneza, com Sacro Gra, em 2013, cria este objecto de inestimável valor ao seguir, também, a história do miúdo Samuele, filho de pescadores mas mais hábil com a fisga do que com os remos.

E é a deriva do pirralho nesta localidade piscatória que mais nos arrebata, como que pedindo licença à ficção para se intrometer no documentário, e onde não deixamos até de notar algumas semelhanças desse quotidiano da faina com o magnífico Rabo de Peixe de Joaquim Pinto, aqui exibido o ano passado. Ou da mulher de pescadores que usa a rádio local para pedir as músicas que deseja escutar.

Este não é um filme de causa, mas uma causa que se impõe e nos obriga a conviver com ela mais de perto do que suporíamos. Como o médico que confessa não se habituar a examinar corpos de defuntos, sobretudo de mulheres que acabaram de dar à luz em embarcações ainda presas ao cordão umbilical por cortar. Samuele, felizmente, não convive com esta realidade, embora depressa a fantasia da sua vida de tiros imaginários o irá preparar para a sua própria realidade.

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