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Sexta-feira, Abril 19, 2024

O mistério da “agenda escondida do Presidente” Marcelo

Estrela Serrano
Estrela Serranohttps://vaievem.wordpress.com/
Professora de Jornalismo e Comunicação

 

Diz a autora que a agenda oficial do Presidente omite grande parte da actividade diária de Marcelo, contendo apenas um ou dois eventos quando na realidade o Presidente realiza o dobro ou o quádruplo.

O artigo é bastante concreto, descrevendo exemplos demonstrativos do desfazamento entre a agenda oficial e a agenda real de Marcelo. Diz a jornalista que não se trata de “reuniões discretas”, “telefonemas” ou outro tipo de iniciativas que outros presidentes também realizaram no âmbito da chamada “magistratura de influência”, mas sim de visitas, discursos e outros acontecimentos que o Presidente decide não agendar. Nem mesmo a reunião semanal com o primeiro-ministro consta da agenda.

O staff do Presidente não esclareceu a jornalista sobre as razões de tão insólito procedimento e, por seu turno, a jornalista também não analisa algumas das consequências que daí decorrem, limitando-se a constatar que mesmo sem serem anunciados publicamente os eventos não agendados do Presidente têm sempre cobertura dos media porque as instituições que o Presidente visita ou que recebe encarregam-se de chamar os media. A jornalista esclarece ainda que os eventos omitidos da agenda de Marcelo não respeitam à sua vida privada, o que torna o procedimento ainda mais estranho.

Ora, o importante aqui não é saber que alguém se encarregará de chamar os media para fotografarem e filmarem o Presidente onde quer que ele decida comparecer. A questão é que a agenda do Presidente da República é uma fonte preciosa de informação para investigadores que estudam a história das instituções políticas nacionais, em particular, o sistema semi-presidencialista e o órgão Presidente da República. Não faz sentido que a Presidência da República não registe os actos oficiais em que o Presidente comparece nessa qualidade.

Quando realizei a minha tese de mestrado na Universidade Nova de Lisboa sobre “As Presidências abertas de Mário Soares“, na qual comparo as agendas de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, usei como fonte principal as agendas dos três presidentes arquivadas na Presidência da República, o que, pelos vistos, não poderá ser feito em qualquer trabalho futuro sobre o Presidente Marcelo. Trata-se de uma lacuna incompreensível e inaceitável que deverá ser colmatada em nome da verdade histórica e do direito à informação e à investigação científica.

Seria estranho que os investigadores tivessem de recorrer apenas aos arquivos dos órgãos de comunicação social para estudarem a Presidência de Marcelo. Se o artigo de Ângela Silva corresponde à realidade, e tudo leva a crer que sim, é urgente reconstituir a agenda oficial do Presidente desde a sua tomada de posse e disponibilizá-la a quem a quiser estudar e analisar.

Artigo publicado originalmente no blog VAI E VEM

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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