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Sexta-feira, Outubro 11, 2024

Quando não era moda os ministros pedirem desculpa

Estrela Serrano
Estrela Serranohttps://vaievem.wordpress.com/
Professora de Jornalismo e Comunicação

A legionela é uma bactéria que se tornou mediática desde que há três anos  infectou cerca de 400 pessoas em Vila Franca de Xira, tendo 14 acabado por morrer. Na altura, as responsabilidades recaíram sobre empresas privadas. Com o Estado fora do caso, o surto não foi politizado e que se saiba não houve lugar a pedidos de desculpa às vítimas.

Ora, as infecções hospitalares são frequentemente causa de mortes que raramente são noticiadas. Ontem, porém, o jornal Público dá conta de alguns números que merecem atenção. Veja-se:

“(…) segundo os últimos dados de infecção hospitalar conhecidos (de 2012), Portugal tem uma taxa de infecção hospitalar muito superior à da média da UE. E no último relatório prioritário do programa da DGS notava-se que em 2013 as mortes associadas a este problema suplantavam as 4600, sete vezes mais do que as mortes por acidentes rodoviários. (…) Publico, 15/11/2017

Em 2015  acompanhei o caso de um doente que após uma cirurgia ao fémur num hospital público apanhou uma infecção respiratória que o colocou às portas da morte. Depois de dias nos cuidados intensivos foi-lhe dada alta. Preocupada com a debilidade do doente, a família solicitou que ele permanecesse mais uns dias para completa recuperação, tendo-lhe sido dito que era mais seguro regressar a casa para não correr o risco de nova infecção hospitalar.

Passados cerca de 15 dias, já em sua casa, o doente sofreu nova infecção, desta vez urinária, frequente, segundo o médico que o assistiu, em doentes algaliados após cirurgia, como fora o seu caso. A infecção agravou-se nos dias seguintes e o doente ficou 15 dias hospitalizado. Perdeu o andar e parte da memória, necessitando de internamento em estabelecimento para recuperação da mobilidade e estimulação cerebral, onde ficou 5 meses. Passados quase 3 anos, o doente não recuperou grande parte das capacidades físicas e mentais anteriores à primeira infecção hospitalar.

Trata-se apenas de um caso que apesar de não ter provocado a morte da vítima não deixou de a afectar gravemente e à sua família. Mas muitos outros casos tiveram e têm consequências mais graves. O artigo do Público, diz que em 2013 as mortes associadas às infecções hospitalares suplantavam as 4600, sete vezes mais do que as mortes por acidentes rodoviários.

Talvez devido ao facto de as infecções hospitalares não serem assunto mediático nem matéria de discussão nas redes sociais, ninguém exigiu ao ministro da saúde de então que pedisse desculpa pelos 4600 mortos em 2013.

Exclusivo Tornado / VAI E VEM

Foto: Marco Duarte

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