Com o silêncio passa-se, exactamente, o mesmo. Aí permanecemos, simplesmente, como vivemos. Por isso, ninguém se senta em silêncio com o que não é. Desta forma o silêncio torna-se desconfortável para muitos. Porquê?
Tenho para mim que assim é porque este resulta de um espaço e de um tempo não dramatizado. Mas, o ser humano adora uma boa tragédia…
Concluindo, para estar em silêncio não é necessário qualquer método ou preparação iniciática, isto ao contrário do que nos tentam vender actualmente os inúmeros cursos e gurus, ainda que todos possam estar muito bem intencionados.
Os meus filhos pertencem já a uma geração sem foco
A ausência do silêncio fez com que os meus filhos perdessem a capacidade de prestar atenção e , com isso, a oportunidade de amar. Um mundo sem foco é um mundo sem atenção. Simone Weil ensinou-nos que amar é estar atento. Para saber a quem amas, bastará perguntares-te , … ao que estás atento? Estas são qualidades cada vez mais necessárias, em especial, perante aquilo a que costumo chamar sociedade da desatenção.
A atenção é a mãe de todas as virtudes. Não há arma mais eficaz. Se tu dás, recebes. A muitos de nós apenas nos faltará isso mesmo, estar atentos. Na vida prática quanto mais observas mais aceitas. Esta é uma lei matemática.
O esquecimento de si
Estar em silêncio não é complicado. Difícil é querer estar em silêncio. Confio que por isso surgiram muitos métodos, não tantos para ensinar a estar em silêncio, apenas para ensinar a querer estar em silêncio. Daí surge a mercantilização das almas e dos corpos através de uma panóplia de terapias e de neófitas doutrinas.
Por tal motivo, nos nossos dias o silêncio surge como um acto que nasce do esforço e, com este “silenciar”, a vontade e a razão impõem-se como o argumento mais forte.
Acredito que tudo isto deve nascer da entrega e do cuidar, nunca do esforço ou da razão. Certo é que só a atenção nos devolve a nós próprios. Porque ficaria o silêncio fora deste fazer não fazendo? Aliás o zen ensina isso mesmo, quando durmo durmo, quando como como. Então, quando me silencio silencio. Não poderia ser mais fácil…
Um leão enjaulado não é um leão
Um leão enjaulado é em tudo distinto de um leão. Com o ser humano acontece o mesmo.
Só o silêncio nos possibilita despertar. Mas, esta não é a libertação de uma espécie de cárcere em que a mente nos mantém aprisionados. Não! Despertar é, unicamente, descobrir que essa prisão não tem, afinal, grades. Nem outro guarda para além de nós próprios. Por isso o zen nos fala da porta sem porta, do amor sem amor, da religião sem religião.
O silêncio permite-nos, ainda, uma análise profunda sobre as dinâmicas como se criaram e os materiais de que são feitas essas portas, essas grades…
Depois, através dele percebemos que o dar e o receber é um processo natural, assim como o inspirar e o expirar. E, não há nada mais arrebatador que o simplesmente estar aqui, participando integralmente na construção desse momento. Um estar no mundo como que se confundindo com ele próprio.
O silêncio é produtivo!
Nas famílias, nas organizações ou nas salas de aula, os níveis de produtividade e motivação melhoram consideravelmente se treinarmos a prática do silêncio. Bastarão 15 minutos antes de cada reunião, antes de cada aula,…
Claro que, dito assim, parece uma coisa estranha! Parar a mente por 15 minutos antes de uma reunião?! Com treino é possível! O que é que acontece? Ao silenciar os pensamentos acalmamos as emoções de apego e a aversão gerada por esses pensamentos. Criamos espaço mental.
Este confere-nos maior capacidade de ouvir o outro com imparcialidade, tolerância e, quando necessário, com maior paciência. Esta gestão das emoções e da mente permite participar na reunião, no exercício de aula, de uma forma mais enriquecida, equilibrada e eficaz.
O silêncio cura e liberta, experimente…