Esta ideia partilhada por Paul Lafargue em manifesto, corria o ano da graça de 1880, opunha-se à jornada de trabalho de 12 a 17 horas diárias, isto numa França onde imperava a doutrina do trabalho dignificante e benéfico.
Hoje, alguns sabem já que o trabalho é, apenas, um cadáver adiado. Outros, a maioria, continua a acreditar que “poder viver” está “condicionado pelo trabalho”. Não havendo “direito à vida onde esta condição não estiver preenchida”.
Assim pensava Johann Gottlieb Fichte, nos seus Fundamentos do Direito Natural segundo os Princípios da Doutrina da Ciência, em 1797.
O momento presente obriga à redescoberta de valores e sentimentos ancestrais na busca de uma nova economia moral. Tal mudança não depende de dinheiro, do regime político ou económico. Isto será o mesmo que dizer que não depende de condições materiais. Necessitará exclusivamente da bondade dos povos. E onde se aprenderá tal mester? Infelizmente, penso que em nenhuma das nossas escolas…
Estar consciente disto traz-nos uma acrescida responsabilidade. Perceber a sociedade do trabalho é já julgar homens e mulheres implicados num contexto que não escolheram mas que ilusoriamente tomam como seu. Frustrados, concedem viver em vão, aceitando o trabalho como o fim último do delírio civilizacional.
Em Os Apologistas do Trabalho, de 1881, Nietzsche afirmava “que um tal trabalho é a melhor polícia, que retém cada indivíduo pelo freio e que sabe impedir com firmeza o desenvolvimento da razão, do desejo e do prazer da independência. Pois faz despender enorme quantidade de energia nervosa, e subtrai essa energia à reflexão, à meditação, ao sonho, à inquietação, ao amor e ao ódio”.
O ócio, como o vejo, é absolutamente essencial para o desenvolvimento humano, por isso proponho que “o direito à preguiça” seja consagrado na constituição da República Portuguesa. Só a preguiça, enquanto elogio fundamental do ser humano, nos desafia perante a ideia maior de Agostinho da Silva, “o homem não nasce para trabalhar, nasce para criar”…
Viva a Preguiça!