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João de Sousa

Terça-feira, Setembro 17, 2024

O presidente sitiado

Christiane Brito, em São Paulo
Christiane Brito, em São Paulo
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.

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… e deixar um “réu” da Justiça no seu lugar: Eduardo Cunha, o deputado que preside a Câmara.

O mundo inteiro tende a repudiar a legitimidade de um governo do qual Cunha faça parte. Atentos ao fato,Temer e seus aliados já estão tentando resolver o impasse, planejam enviar um porta-voz (e negociador) para os Estados Unidos (eu me pergunto e todo leitor deve saber a resposta “por que conversar em primeiro lugar com os EUA”?).

A notícia acaba de ser dada na GloboNews pelos comentaristas de plantão. Comentaristas que, num vídeo institucional, se referem à votação do pedido de impeachment como um emocionante e surpreendente “episódio de série”, mas não será o “final da temporada”.

Aliás, para aguçar a curiosidade do público, transmitiram um vídeo com edição de cenas dos deputados discursando nesta madrugada, virada de sexta-feira para sábado (16).

Impossível não torcer o nariz para a teatralidade de alguns parlamentares. Impossível não reconhecer que a votação já se tornou uma superprodução.

A publicidade enviou peças inéditas ao noticiário nacional, como a da rede Habib´s, de comida árabe. No comercial, os manifestantes — tanto os de vermelho como os de verde e amarelo — gritam “caiu” e abraçam-se, muito felizes. A referência é ao preço do kibe ou da esfiha, não prestei atenção a esse detalhe, mas ao ufanismo patriótico das cenas que parecem anunciar a queda da Dilma. O slogan da peça publicitária afirma: o Habib´s escutou o Brasil!

A espetacularização do impeachment não é exclusividade da Globo, há que se reconhecer. No Rio de Janeiro, a prefeitura está montando nesta madrugada (17) uma grade que vai até o mar, na fronteira dos bairros de Copacabana e Leme, separando manifestantes “petistas”, como disse o dono de um restaurante, e pró-impeachment.

Também não dá para culpar o dono do restaurante, no Rio, por confundir os manifestantes contra o impeachment como “petistas”: nas últimas 24 horas a presidente Dilma parece estar defendendo mais o partido do que a nação.

Justifica-se: o espectador comum não percebe que a Lava-Jato e o impeachment visam claramente a queda do PT e do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o fim do lulo-petismo. Não visam combate à corrupção e à recuperação da economia, jamais.

O povo, no entanto, está iludido. E dividido: há os que rejeitam o Lula, um ex-operário nordestino que ousou disputar, ganhar a presidência do país e, não bastasse, “roubar” (a escalada do preconceito e do racismo é nítida, reflexo do fascismo crescente em todo o mundo), e os que já começam a campanha do Lula para a presidência do país em 2018.

Entre os primeiros, há alguns que acusam seus roubos (que ainda estão sendo investigados), como se ele ainda estivesse no governo roubando com as mãos de Dilma.

Entre os segundos, há os que provocam os “golpistas”, como os que picharam a fachada do Banco Itaú, do empresário Roberto Setúbal, que já garantiu, segundo o colunista Clóvis Rossi, que o Brasil enfrentará, daqui para frente, a pior crise econômica da sua história.

Haja ou não impeachment, dois aspectos dessa imensa mobilização social precisam ser ressaltados, um negativo e outro positivo.

O negativo é o modo como muito brasileiro trata a sua liberdade de expressão política — a duras penas conquistada pelos que lutaram contra a ditadura — como um direito adquirido, eterno, que governo algum vai tirar.

O positivo é que as últimas 48 horas gravadas ininterruptamente na TV Câmara (e transmitidas pela GloboNews na íntegra) demonstram um afã democrático gigantesco. Esse ardor, esse espírito guerreiro, me faz crer que a luta do povo não vá parar com a possível saída da Dilma.

Por outro lado, esse espírito guerreiro, que levou a esquerda brasileira a profundas reflexões, espanta quem ainda pensa como o Brasil das senzalas. Hoje mesmo (16), Cristiana Lobo, comentarista política velha de guerra, da GloboNews, questionou-se no ar: como é que o PDT que nunca foi tão próximo ao governo agora emite um comunicado em que diz que punirá todos do partido que não votarem contra o impeachment?

Respondo: querida xará, Cristiana, não sei se a sua dúvida é legítima ou se quis fazer os espectadores pensarem que a posição do PDT foi “comprada”, não importa. O PDT, Partido Democrático Trabalhista, é um patrimônio que um grande líder, Leonel Brizola, deixou para o país. É coerente que a sua liderança tome essa posição, é coerente que defenda o Estado de Direito acima de Dilma e de PT.

Como Brizola, temos outros, que inspirarão o futuro da democracia no país.

Nota: A autora escreve em português do Brasil

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