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João de Sousa

Terça-feira, Maio 6, 2025

O triunfo da «grunhice»

João de Sousa
João de Sousa
Jornalista, Director do Jornal Tornado

Ainda não cheguei a uma conclusão acerca do programa Governo Sombra, da TVI24. Ora os participantes parecem levar-se a sério e produzem afirmações com ar solene e profundo ora parecem um trio de comediantes a fazer humor sobre temas sérios.

Este programa que durante “os dias da rádio” tinha apenas piada, o que é bastante para um programa cujo título deixa antever tratar-se de um programa de humor, foi a pouco e pouco transformando-se num programa de difusão de ideologia reaccionária e de análise político-jurídica embalada num ambiente de descontração, maledicência, difamação e asneirada em geral.

É um daqueles casos em que a passagem da rádio para a televisão pode aumentar os rendimentos dos intervenientes mas não beneficia de todo a qualidade do programa. Encarado por muitos, entre os quais me conto, como uma alternativa ao “Eixo do Mal”, onde a “pedância”da Clara Ferreira Alves se encontra com a “grunhice” do Luís Pedro Nunes numa mistela absolutamente insuportável, o “Governo Sombra” oferecia o humor verdadeiro, apesar de falsamente humilde, do Ricardo Araújo Pereira e a cultura e inteligência, com sábia contenção, do Pedro Mexia e do apresentador Carlos Vaz Marques.

No programa da TVI24 toda a grunhice era suposta ficar a cargo do João Miguel Tavares que nunca desaponta. O problema, em ambos os programas, é o efeito de “contágio através do ar” que parece ter feito alastrar aos restantes convivas o Síndrome agudo da Tudologia que os leva frequentemente a falar do que não sabem e a prodigalizar-nos sessões de ignorância desmedida num tom muito assertivo e de quem faz alguma ideia do que está a dizer.

Isto já não teria graça nenhuma quando se abordam assuntos relacionados com a privação da liberdade de terceiros tentando fazer humor, muito menos, por maioria de razão, quando as alarves opiniões são expressas no tal tom assertivo e entendido de quem sabe tudo acerca do tema. O assunto fica mais grave quando os três “Tudólogos” têm pergaminhos de juristas. E é isso que acontece sempre que se pronunciam sobre o processo Marquês e, num assomo de arrogância inenarrável, opinaram, no programa de ontem, sobre a carta subscrita por alguns deputados portugueses e dirigida ao Supremo Tribunal Federal do Brasil protestando contra a ilegalidade da prisão de Lula da Silva.

Sobretudo “a mãe de todos os grunhos”, João Miguel Tavares, revela total desconhecimento de… bem, de tudo! Não conhece o processo, não conhece a Lei brasileira, não conhece o princípio constitucional, em vigor no Brasil como em Portugal, de que até ao trânsito em julgado de uma sentença condenatória de um Tribunal Superior e enquanto existir qualquer possibilidade de recurso, qualquer cidadão se presume inocente e não pode, portanto, ser preso.

Imagino que a sanha do Pedro Mexia resulte do facto de ser de Direita, além de funcionário do Marcelo Rebelo de Sousa, grande amigo de Fernando Henriques Cardoso, que até veio à sua tomada de posse, o tal que é referido como recebendo da Odebrecht o dinheiro para pagar o apartamento, a amante e a filha fora do casamento, em Paris. Já o Ricardo Araújo Pereira reage apenas em relação a este tipo de assuntos como em relação ao Benfica: escapa-se-lhe a racionalidade sempre que se fala deles.

Se tudo isto não envolvesse o caso gravíssimo da privação ilegal da liberdade de um cidadão eu nem teria escrito sobre o assunto. Mas a grunhice está a ganhar por muitos a zero ao humor, nos vários canais de TV.

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