A primeira reacção é sempre a mesma: os homens, pais, são sempre os maus da fita. Ora porque a mulher alega isto, ou a sogra aquilo, ou ainda, e só, porque é homem. É o que dá ter milénios de cultura judaico-cristã, em que o homem é visto como um regulador de matraca na mão, a corrigir de forma boçal e violenta a doçura e o carinho que a mãe entrega.
A exposição do homem ao afecto, ao mimo e à cumplicidade com os filhos tem direito a crítica social. Desde o mestrado em banalidade que sucumbe a “olha lá que tu és pai, não és amigo do teu filho” ao grande multiplicador “eles precisam do carinho da mamã, não é ?”, tudo serve para desculpar, com machista brutalidade, o papel de pai.
É preciso muito, e quase sempre de forma ineficaz, para explicar a quem do macho fez estereótipo, que um pai, homem, é tão carinhoso, tão válido de afecto e tão preocupado como qualquer mãe. Ou que, melhor ainda, a função de pai não depende do comportamento da mãe, se o quadro for normal.
A sociedade deitou-se, há dias, a condenar um pai que perdeu duas filhas, alegadamente mortas pela mãe, numa praia perto de Lisboa. Os cafés condenaram o homem nas primeiras 48 horas: o horror da violência doméstica, a malvadez da violação, a incúria do destratamento. Mas, mal se soube que, afinal, a mãe podia ser responsável pelo mal acontecido, ninguém piou. Tudo sereno, assobiar para o lado. Não se encaixava com facilidade a ideia da mãe, santa mãe.
O feminismo podia dar uma ajuda, nestas coisas. Além de comunicados sobre a dona Bárbara, as juristas mulherengas podiam opor-se à ideia extrema de que, nos divórcios e na negociação de direitos e deveres parentais, os pais são sempre culpados ou com grande tendência no desejo de alijarem os filhos.
É maçador, isto. As mulheres não ajudam e os homens também não. Não há direitos “naturais” nestes casos. Os homens que não assumem os filhos e que consideram “porreiro, pá” verem-se livres da mulher e das crianças ao mesmo tempo, porque o tempo de careca os ameaça, nunca se livraram do jugo das próprias mães. As mulheres que se agarram aos filhos numa última tentativa de ver se o procriador muda de ideias apenas se subjugam à imposição da farsa, à imagem de que não são “mulher abandonada”.
É o “leva-me tudo na vida mas não fiques com eles”, que Ágata tão bem-mal cantava e tanto sucesso teve. Caxias apenas nos mostra que morreram duas crianças porque nenhum dos pais se fez ao caminho, a tempo e horas, para travar a desgraça. Os chineses, ao menos, deixaram os dois cair a filha enquanto estavam no casino. Não há pai para uma mãe daquelas, dirão os nossos coros gregos, que não são nada meigos com as mulheres, se elas falharem no papel machista que se lhes dedica: o de serem pai e mãe ao mesmo tempo.