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Sexta-feira, Outubro 11, 2024

“Pais devem saber onde os filhos circulam online”

sonia
A co-autora de “Cyberbullying – Um guia para pais e educadores” falou ao TORNADO sobre este fenómeno, que atinge “10 a 20 por cento dos jovens portugueses”, alertando os pais para a necessidade de conhecerem “os locais, as plataformas e os dispositivos que os seus filhos utilizam ou por onde circulam online”.

 

Como concluem que 10 a 20 por cento dos jovens são vítimas de cyberbullying, fizeram um estudo?

Trata-se de uma estimativa que resulta da análise que fizemos da investigação feita sobre o tema (nacional e internacional) e não de um resultado em si. Há vários estudos sobre o tema relativos à realidade portuguesa, designadamente teses de mestrado e doutoramento, mas há que ter muita cautela na generalização dos resultados.

Isto porque nestes estudos nem sempre se utiliza a mesma definição de cyberbullying, nem os mesmos comportamentos alvo de estudo abrangem amostras diferentes e diferenciam-se quanto ao que consideram a repetição desses comportamentos. Daí os “10 a 20%”. As diferentes opções metodológicas de cada estudo empírico são em grande parte responsáveis pela variação dos resultados obtidos.

 

Numa era em que quem não tem tecnologia é posto de lado, como podemos pugnar pelo uso razoável e responsável desses meios, sobretudo nos jovens?

Trata-se de uma questão transversal a todo o livro – “Cyberbullying – Um Guia para Pais e Educadores” – mas que é particularmente referida nas abordagens de prevenção, nomeadamente nas orientações relacionadas com a navegação segura na Internet. Não pretendemos de todo “demonizar” as tecnologias digitais, são inúmeros os benefícios da sua utilização.

A questão que se coloca refere-se ao abuso da tecnologia e não ao seu uso. Por esse motivo, é fundamental que no início desse contacto, a criança/jovem seja alvo de alguma orientação, que promova uma utilização responsável e respeitosa dessas novas formas de comunicação tão usuais entre os jovens de hoje.

 

ciberbullyingNuma altura em que têm cada vez menos autoridade, como podem os pais controlar esta utilização?

Como referimos num dos capítulos deste livro temos, por um lado, a geração dos pais, imigrantes digitais, e por outro, a geração dos filhos, nativos digitais, a primeira geração que cresceu com as tecnologias digitais. Tratam-se de jovens actualmente fluentes na linguagem digital, seja ao nível dos computadores, da Internet, dos dispositivos móveis ou dos jogos de vídeo.

Pelo contrário, os imigrantes digitais – onde se inclui a geração dos pais e educadores – são aqueles cuja linguagem digital foi aprendida mais tarde e cujo desfasamento se evidencia através de maiores dificuldades em compreender e exprimir‑se digitalmente. Por esses motivos, apresentamos neste guia uma série de abordagens parentais, que incluem uma série de pistas e orientações que os pais podem implementar junto dos seus filhos. Consideramos estas abordagens fundamentais para uma actuação assertiva e objectiva junto dos mais novos.

 

Por outro lado, sabendo os filhos mais do que os pais sobre tecnologia, como é possível barrar conteúdos ou ferramentas, como as redes sociais?

Em primeiro lugar os pais devem conhecer os locais, as plataformas e os dispositivos que os seus filhos utilizam ou por onde os seus filhos circulam online. Mas foi precisamente para tentar colmatar esse afastamento que se verifica muito hoje em dia entre gerações de imigrantes e nativos digitais, que este livro surgiu.

Procura servir de apoio a pais e profissionais de educação, nomeadamente através dos vários apontadores que remetem para uma variedade de recursos e ferramentas que ensinam aos seus utilizadores como melhor gerir e, em última análise, barrar, alguns conteúdos digitais que se assumam como mais preocupantes.

 

sonia2O que o Governo devia fazer para prevenir este fenómeno: apostar numa cyber-polícia, legislar, fazer campanhas de prevenção?

Acima de tudo, o mais importante é a sensibilização para esta problemática, incluindo o conhecimento das suas diferentes manifestações e implicações, de modo a que se tenha uma maior consciência dos vários factores facilitadores que, muitas vezes, possibilitam o degenerar de simples e inofensivas acções, em situações incontroláveis de cyberbullying.

Propomos quatro abordagens que apresentamos, de forma mais detalhada neste novo livro e que ajudam a prevenir, intervir e combater o cyberbullying: as abordagens regulamentares – no âmbito do enquadramento legal e das regras que se podem implementar no que concerne à utilização das tecnologias digitais -, as abordagens educacionais – mais direccionadas a professores, educadores e instituições educativas -, as abordagens parentais – que incluem uma série de pistas e orientações que os pais podem implementar junto dos seus filhos – e as abordagens tecnológicas, que englobam uma variedade de ferramentas tecnológicas que ajudam a controlar, monitorizar e prevenir a ocorrência destes comportamentos.

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