Assunção Cristas, a líder do CDS, diz barbaridades. É normal, estudou no privado, no católico Colégio do Bom Sucesso, com vista para os Jerónimos mas longe da Constituição.
Não é novo que Dona Assunção venha dizer patacoadas em público. Para ela, para os seus “valores católicos”, mal se mexe na cruz mexe-se-lhe na espora.
Em defesa dos privados disse Cristas esta frase, que nem sequer se percebe bem: “(…) faz sentido olhar para estes critérios e decidir se, nalguns casos, não deve ser a escola privada ou do sector cooperativo a ser sacrificada, mas deve ser a escola pública que, claramente, não abrir mais uma turma”. Não percebi, mas é natural. A Dona Assunção andou num Colégio, não aprendeu a coordenar pensamento, talvez.
O que a líder do CDS queria dizer é que, perante uma escola pública e uma privada, deve fechar a pior. Ora, não é mau, o pensamento: revela que nem leu o artigo 74 da CRP. É natural. Leu a Bíblia e não vinha lá assim:
“(…) Artigo 74.º
Ensino
1. Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.
2. Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:
a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito;
b) Criar um sistema público e desenvolver o sistema geral de educação pré-escolar;(…)”
Dona Assunção, deus a tenha, não percebeu o bê do 2 do 74: mal chegou à expressão “sistema público” revirou os olhos.
Nesta guerra dos privados, não há pachorrinha nenhuma para os protestos dominicais. Ninguém está a fechar escolas por decreto nem a impedir o florescimento pujante dos privados.
O que se está a fazer é cumprir a Constituição, por muito que isto custe ao Oliveira Martins e à sua gente do Tribunal de Contas e da Igreja.
O que não se aguenta é ver milhares de pessoas a dizer que defendem a Educação, mas querem ter lucro à conta do estado. Vou dizer devagar, outra vez: escolas privadas, dinheiro privado. O Estado não tem que subsidiar escolas privadas. Outra vez: O Estado não tem que subsidiar escolas privadas. Tem sim que criar e manter, com elevada qualidade, um sistema público, universal, obrigatório e gratuito. Gratuito, não a pedir 700 mocas por mês.
Os liberais portugueses, como Cristas, estão habituados a que o Estado lhes pague tudo: os bancos, as colheitas, as empresas, as seguradoras e até as avé marias. Só de pensar que os meus impostos serviram para comprar um crucifixo ou o Corão, aparece-me um arrepio na espinha daqui a Fátima.
Dona Assunção, se tivesse vergonha, ia para casa tirar o pó da Constituição que comprou quando estudou na Universidade Pública – a única que achou por bem frequentar, porque era a melhor. Um canudo de Direito da Independente era uma vergonha, verdade?
A maior parte da malta deve pensar que o Governo quer fechar as escolas privadas. Não quer. E os canários que cantem na mina, que não há carta, postal ou telegrama que se veja nas manifestações, alegadamente escritos pelas criancinhas, que não tenham dedo de padre. O que é normal, aliás, criancinhas com dedo de padre.
Não, não é isso. Que cabeça a vossa… Estava a falar dos baptismos que o colégio da Dona Assunção promove para os alunos, com o padre a aspergir a benta água.
Tiago Brandão Rodrigues e Mário Nogueira, desta vez, têm razão. Custa a dizer isto, mas é verdade. Cristas não. Nem o Duarte Pacheco (PSD), que teria no viaduto mais futuro do que na frase em que sustenta que o ministério “está comandado por forças estalinistas”.