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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Sul da África à beira do caos

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

Duas demissões/defenestrações marcam o tempo político na África do Sul e no Zimbabwé. O sul da África pode estar à beira de uma pesada desestabilização.

África do Sul

Na África do Sul, o inenarrável presidente Jacob Zuma (do ANC) expeliu, sem maneiras, o seu ministro da Educação. No Zimbabwé, o mais que inenarrável Robert Mugabe, à sua maneira habitual (ou seja, ao encontrão e insultuosa gritaria) afastou o seu vice-presidente.

Coisas normais em África, dirão os distraídos, com a habitual sobranceria. Enganam-se, porém.

O agora ex-ministro sul-africano da Educação, Blade Nzimande, é também o secretário-geral do SACP, o partido comunista da África do Sul. Ora, o SACP é (tem sido…) uma peça fundamental na estratégia de poder do ANC, tanto em termos eleitorais como (talvez sobretudo) em termos de exercício do poder político. 

O afastamento do governo de Nzimande indica que a aliança política que atrás da sigla ANC tem governado a África do Sul pós-apartheid está à beira de se desfazer… E, portanto, de abrir a porta a outras soluções e a um período de instabilidade. Que pode ser ainda mais grave se a terceira força dessa aliança – a central sindical sul-africana – se decidir por não facilitar a vida a Jacob Zuma.

Zimbabwé

No Zimbabwé, a decisão de Mugabe (93 anos…) é igualmente uma aposta sobre o futuro e abre a guerra (até agora encoberta) pela sucessão do dinossaurico ditador. O afastamento brutal do vice-presidente Emmerson Mnangagwa pode ser interpretado como a manobra necessária para abrir caminho à concretização das ambições presidenciais da senhora esposa presidencial Grace Mugabe… 

Mas se na África do Sul, o secretário-geral do SACP não é um osso fácil de roer, o ex-vice-presidente do Zimbabwé, Mnangagwa é um osso muito difícil de roer para os Mugabes que se arriscam a morrer engasgados. Mnangagwa tem melhores relações com os militares que os Mugabes e tem o apoio da poderosa Zimbabwe National Liberation War Veterans Association que logo iniciou a guerra a Robert Mugabe. 

Em comunicado formal e oficial, os “veteranos” são explícitos: “Estamos afirmando em termos inequívocos que nós desaprovamos completamente Mugabe”. E para quem não percebesse, estocada final: “Ele não é mais um de nós”.

Este apoio da Zimbabwe National Liberation War Veterans Association a Mnangagwa, para além do peso que tem na relação de forças político-militares, é também uma enorme fonte de legitimidade para o ex-vice-presidente.

Angola e de Moçambique

Em suma, os equilíbrios que permitiram governar (melhor ou pior, mas permitiram governar) o Zimbabwé e a África do Sul estão à beira da ruptura. São factos preocupantes para os Estados lusófonos de Angola e de Moçambique. E, claro, para toda a África Austral e, até, mais além.

 

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